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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 385 - 19 de Outubro de 2014

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Pelotas, RS (Brasil)

 
 

 

Benevolência, a virtude diretora

 

A caridade não é uma virtude única, mas um conjunto de virtudes interdependentes, ou seja, que se influenciam mutuamente. Uma virtude sozinha não representa a caridade. Somente o efeito conjunto das virtudes componentes pode ser considerado como caridade. Kardec elenca quatro delas como elementares[1], a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento[2]. A colocação da benevolência como primeira da lista não é casual, porquanto há uma ordem de classificação.   

A relação da benevolência com as virtudes nucleares é extremamente profunda. As nucleares são virtudes “passivas”, enquanto a benevolência é “ativa”. As passivas são virtudes que se exercem por abstenção, enquanto as ativas se exercem somente por ação. Com as outras virtudes elementares a benevolência tem uma relação especial. 

De acordo com Fernando Bastos de Ávila, benevolência é palavra derivada do latim, “bene” e “velle”, que literalmente significa “bem-querer”. Este “bem-querer” designa a virtude que nos inclina a procurar o bem do próximo[3]. Aristóteles falava em dois “quereres”. No primeiro querer a referência é a própria pessoa, que deseja o seu bem em primeiro lugar. Neste caso o que há é interesse pessoal. No segundo querer a referência é o outro, pois queremos o bem dele em primeiro lugar. Queremos-lhe bem não porque ele nos beneficiará, o que lhe daria caráter instrumental, mas sim pelo bem dele mesmo. Numa interpretação mais aberta podemos entendê-la também como “boa vontade”.

Aristóteles distingue desejo de benevolência. Desejo é o amor ao ser inanimado, amor que tenta preservar este ser com o amante; o ser é amado pela sua utilidade para o amante. O amor aos seres animados, sobretudo aos humanos, é que é a autêntica benevolência; é o amor àquilo que a pessoa é, e não pela utilidade que nos proporciona. Existem casos, muito generalizados, em que se confundem os dois, quando amamos as pessoas pela utilidade que vemos nelas, ou seja, por interesse pessoal, e não pela sua natureza humana. Desta forma, a benevolência não deve ser confundida com o desejo.

A benevolência é a virtude que está mais diretamente ligada ao amor; é uma manifestação do amor existente em todos os seres humanos. O querer o bem do outro, devido àquilo que ele é, ou seja, um ser humano, é o amor sendo direcionado pela vontade. Não existe benevolência quando prestamos um bem ao outro por simples dever de reciprocidade, sem desejar, no entanto, que ela alcance a felicidade. Isto é, fazer o bem apenas para cumprir uma obrigação de retribuição, sem o sentimento profundo de querer o bem dele. Para que este ato possa ser considerado benevolência o homem deve estar integralmente nele, com todas as suas potências: afetividade, intelectualidade e vontade.

A vontade é a diretora do amor. O amor é a força motriz do bem e a vontade é o volante que dá a direção para ele. Uma força indisciplinada causará mais malefícios do que benefícios. Se a vontade direciona o amor para o próximo, querendo todo o bem para ele, então temos ai uma “boa vontade”, que poderíamos traduzir como a vontade do bem ou “bem-querer”. Mas somente a vontade não basta. O intelecto deve participar dessa operação, fazendo a leitura, o mapeamento da realidade e informando sobre o “terreno” onde deverá se movimentar. Assim, a vontade é uma intermediadora entre o amor potencial e o amor atual ou realizado, ou seja, o bem.

Existem outras características importantes da benevolência. Uma delas é a universalidade. Obviamente, poderíamos objetar que aquela pode ser aplicada somente a um indivíduo ou grupo. Mas para que seja parte componente da caridade deve estender-se para todos os indivíduos, sem exceção. Quando é restritiva não deixa de ser um ato virtuoso, porém não atinge a condição de caridade por lhe faltar justamente uma das características principais; o bem restritivo não deixa de ser bem, mas somente se torna caridade, atingindo a excelência, quando é distribuído universalmente, sem exclusão de quem quer que seja.  

Observemos que Kardec pergunta aos Espíritos sobre o que caracterizaria a verdadeira caridade, o que nos faz supor que existe algo que pode ser assumir apenas a sua aparência sem ser ela realmente: “Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?” A resposta foi: “Benevolência para com todos [...]”[4]. Esta afirmação é corroborada e complementada da seguinte maneira: “A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo”[5]. Ressalte-se aqui que os Espíritos indicaram que para ser virtude esta predisposição para querer o bem do outro deve ser contínua e não esporádica; da mesma forma, indicam que deve ser aplicada em todas as situações que envolvem o outro, e não em somente algumas com exclusão de outras.  

Portanto, para o Espiritismo, benevolência é a predisposição afetiva constante de querer o bem do outro, independentemente de quem seja ele, da sua condição, ou da situação em que esteja envolvido, da qual faz parte a vontade que dá direção e é assistida pela razão. A benevolência está situada entre o amor e o bem, de maneira que dirige a conversão do primeiro no segundo. É ela também, como virtude ativa, que dá a direção para as outras virtudes elementares da caridade. Podemos dizer que a benevolência está profundamente vinculada à intencionalidade. Eis os motivos pelo qual Kardec a coloca em primeiro lugar na lista destas virtudes componentes da caridade. 

 

[1] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 2. § 3º.

[2] Em http://www.oconsolador.com.br/ano8/378/Ivomar_costa.html apresentamos as virtudes nucleares da caridade.

[3] Ávila, Fernando Bastos, Padre SJ. Pequena enciclopédia de moral e civismo. P. 94. 2ª Ed. FENAME. Rio de janeiro. 1972.

[4] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 886.

[5] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI, item 14. § 3º.

 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita