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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 378 - 31 de Agosto de 2014

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Pelotas, RS (Brasil)

 
 

 

Desinteresse pessoal e desapego: dois lados da mesma moeda

 
A caridade é o centro da moral espírita e cristã. Ninguém poderá se declarar verdadeiramente espírita sem compreender e esforçar-se por praticá-la. É uma virtude sintética, ou seja, é o resultado da interação entre várias virtudes. Entre estas encontramos duas, o desinteresse pessoal e desapego, que são simultaneamente elementares e componentes nucleares da caridade.

Benevolência, indulgência, abnegação e devotamento, as outras elementares[1], são influenciadas e dependentes das nucleares. Pode-se dizer que sem os vínculos produzidos por estas, aquelas virtudes por si sós, apesar do seu valor intrínseco, não produzem a caridade. As virtudes nucleares estabelecem os vínculos entre as outras gerando unidade e lhes potencializando simultaneamente os efeitos. Esta unidade e sinergia é que forma a caridade. Conseguintemente, nessa perspectiva, a caridade é também a propriedade que emerge das relações entre estas virtudes.

Se representarmos a caridade como dois círculos, sendo um deles menor, concêntrico e central, as nucleares estariam localizadas no menor e as outras distribuídas em seções do maior.

As nucleares estão unidas de tal forma que não se pode separá-las sem prejudicar o entendimento e a prática da caridade, porquanto formam um todo, como se fossem os dois lados de uma moeda.

Nas obras fundamentais, os Espíritos costumam tratar o desinteresse pessoal e o desapego como sinônimos. No entanto, é possível perceber que existem algumas diferenças significativas somente compreensíveis por meio de uma análise atenta. Vejamos cada um dos conceitos destas virtudes.

A perfeição moral está em relação direta com o amor[2]. Quanto mais amamos, mais nos aproximamos da perfeição. Amar é fazer o bem. A característica marcante da perfeição é a presença da virtude[3] do desinteresse pessoal[4], que é a recusa de qualquer retribuição, material, social ou psicológica, pelo bem praticado. Aquele que não alimenta interesses individuais faz o bem com o único objetivo de agradar a Deus e ao próximo, impelido pelo amor que tem dentro de si, ao contrário daquele que o faz esperando receber algum tipo de vantagem[5]; ou seja, faz o bem por cálculo, como se fosse uma conta em que subtraído o bem feito ainda restaria algum bem como lucro para si mesmo, e não por amor[6]. O interesse ocorre quando o bem é realizado com a ideia preconcebida, ou seja, com a intenção de obter alguma vantagem para o autor da ação. A ostentação, isto é, a divulgação do bem realizado com o objetivo de obter a admiração alheia é também uma das manifestações desse interesse. Nesta situação não existe a prática do bem pelo bem, mas sim a realização de uma troca. Atentemos que a gratuidade é a condição da existência da caridade. O desinteresse pessoal atinge o suprassumo, a sublimidade[7], quando o benfeitor inverte os papéis e se coloca como beneficiado[8].

O amor é uma potência existente em todos os seres da criação[9]. Embora possa parecer um contrassenso, tanto o bem quanto o mal têm origem nele, ou melhor, na direção que a vontade[10] dá a essa potência divina. Quando dirigido ao bem exclusivo e em primeiro lugar ao próprio indivíduo amante, é chamado de egoísmo[11]. Ele pode também ser dirigido para coisas, animais ou pessoas, mas visando primeiramente ao bem do emissor. Neste caso ele se utiliza das pessoas como instrumentos para o próprio bem, e não como finalidade do seu amor. Quer dizer, ele ama a si em primeiro lugar. Ainda que o seu amor beneficie outrem é a si mesmo que busca satisfazer. O benefício ao outro é, portanto, apenas um efeito colateral. Ao amor às coisas, sobretudo às riquezas materiais, se chama cobiça[12]. O amor à posse exclusiva e concentração improdutiva de bens materiais ou intelectuais é conhecido como avareza. De maneira geral, esse amor, carregado de desejo de posse exclusiva, independentemente do objeto ao qual é dirigido, sejam coisas, animais, pessoas, situações, posições, imagens e estados recebe o nome de apego. Não se deve confundir, no entanto, a satisfação natural pela conquista justa de bens terrenos com o apego.

O apego aos bens terrenos é um forte obstáculo à libertação do egoísmo[13], pois sendo aquele filho deste, a sua conservação nada mais é do que o estímulo e fortalecimento do mau uso de uma potência extraordinária; mau uso que ao invés de libertar, aprisiona ainda mais. Além de aprisionar, também destrói. O apego constitui um dos mais fortes óbices ao nosso progresso moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruímos as nossas faculdades de amar, ao as aplicarmos às coisas materiais[14]. Assim, quando aumenta o apego, expressão de egoísmo, diminui a caridade, que é o bom uso e expressão do amor. O órgão ou faculdade que não é usado definha; a pessoa que não ama aos outros acaba amando somente a si mesma, aprisionando-se num círculo de egoísmo.

Contrariamente, “O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los” [15]. Está evidente que o desapego é o bom uso do amor, isto é, o direcionamento dele para o bem de outrem, utilizando as coisas como instrumentos, partilhando-as e distribuindo-as inteligentemente[16] e não com prodigalidade, tornando produtivos os bens materiais ou imateriais, tangíveis ou intangíveis do qual o amante é o possuidor, procurando promover o bem do próximo em primeiro lugar e sabendo desprender-se deles quando as alterações da vida no-los retirarem ou a necessidade do próximo exigir satisfação. Todavia, não há que se confundir desapego com despojamento total dos bens que o indivíduo possua, com miséria voluntária, pois isso apenas o tornaria dependente de outras pessoas e, portanto, mais um problema a ser resolvido. Tal ação seria um modo diferente de egoísmo por fuga da responsabilidade.

A explicitação dos conteúdos de cada uma dessas virtudes tornou claro que embora sendo tão próximas a ponto de serem consideradas idênticas, pelo menos intelectualmente, podemos separá-las. No desinteresse pessoal predominam os aspectos intelectivos, e está mais voltado para os fins, que é o bem do próximo. No desapego predominam os aspectos afetivos, e está mais voltado para a correta utilização dos meios que produzirão aquele bem. Portanto, estas duas virtudes contêm aspectos que as complementam e as acoplam fortemente, constituindo um todo. Entender esta relação é uma tarefa essencial para quem deseja sinceramente praticar a verdadeira caridade, tendo em vista que elas unificam, influenciam e potencializam as outras virtudes. Desinteresse pessoal e desapego são condições necessárias à existência da caridade.


 

[1] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII – Sede perfeitos. Item 2.

[2] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII – Sede perfeitos. Item 2.

[3] O Livro dos Espíritos. Cap. XII. Questões 896.

[4] O Livro dos Espíritos. Cap. XII. Questão 895.

[5] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XIII – Não saiba a vossa mão esquerda... Item 8.

[6] O Livro dos Espíritos. Cap. XII. Questões 897, 897a, e 897b.

[7] O Livro dos Espíritos. Cap. XII. Questão 893.

[8] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XIII – Não saiba a vossa mão esquerda... Item 3.

[9] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI – Amar o próximo como a si mesmo. Item 9.

[10] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 8.

[11] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 8.

[12] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 14.

[13] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 7.

[14] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 14.

[15] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Item 14, § 9.

[16] O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVI – Não se pode amar a Deus e a Mamon. Itens 7, 11 e 14.

 
 


 


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