WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual
Capa desta edição
Edições Anteriores
Adicionar
aos Favoritos
Defina como sua Página Inicial
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Divaldo Franco
Site oficial
Raul Teixeira
Site oficial
Conselho
Espírita
Internacional
Federação
Espírita
Brasileira
Federação
Espírita
do Paraná
Associação de
Magistrados
Espíritas
Associação
Médico-Espírita
do Brasil
Associação de
Psicólogos
Espíritas
Cruzada dos
Militares
Espíritas
Outros
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco

 
Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 4 - N° 158 - 16 de Maio de 2010

FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

 

Wilson Czerski: 

”Precisamos buscar espaços e persuadir sem impor”

O vice- presidente da ADE Paraná, referindo-se ao movimento espírita, entende que há muito por fazer e que é preciso dialogar mais e debater abertamente questões importantes que não têm sido tratadas como merecem

 

Militar da reserva da Aeronáutica, especialista em Meteorologia, administrador de empresas e microempresário, nascido na cidade de Ponta Grossa (PR), Wilson Czerski (foto), que reside atualmente em Curitiba (PR), é editor e articulista do jornal "Comunica Ação Espírita", apresentador de programas de rádio e televisão, autor dos livros "A Eficiência na Comunicação Espírita" e "Espiritismo - Uma Visão Panorâmica" e atual Vice-Presidente e Coordenador Financeiro da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná (ADE-PR), além de um dos colaboradores da revista O Consolador. Na presente entrevista ele nos

fala sobre sua trajetória no Movimento Espírita e como vê diversos assuntos relacionados com o Espiritismo nos dias que correm.

O Consolador:  Quando  e  como teve contato com o Espiritismo pela primeira vez?

Minhas primeiras leituras foram livros esotéricos e da Rosacruz, apanhados da gaveta de um armário de meu pai quando tinha mais ou menos 12 anos de idade. Com ele, frequentei um centro espírita e depois até um de Umbanda. Fiquei afastado de tudo na década seguinte até retornar e me firmar nos estudos das obras espíritas propriamente ditas. 

O Consolador:  Qual foi a reação de sua família ante sua adesão à Doutrina Espírita?

Nesta altura eu já vivia longe e só. Ao me casar, minha esposa, que já era simpatizante, aderiu de vez.

O Consolador: Quais os cargos ou funções que você já exerceu no movimento espírita ao longo de sua vida?

Tenho ligações com a Comunhão Espírita Cristã de Curitiba, onde já desempenhei diversas funções, mas atualmente tenho me dedicado quase que exclusivamente à Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná (ADE-PR), da qual fui um dos fundadores em 1995.

O Consolador: Como você conheceu a revista O Consolador e que você acha deste trabalho de divulgação espírita pela internet?

Através do amigo Astolfo Olegário que tenho o prazer de conhecer desde 1982 quando frequentava o Centro Espírita Nosso Lar, em Londrina. Durante muito tempo fui colaborador do jornal "O Imortal", de Cambé. A associação que dirijo também faz divulgação pela internet, que considero como um dos canais mais eficientes, rápidos e baratos atualmente para divulgação do pensamento espírita. Os números relativos aos acessos de "O Consolador" demonstram de modo inequívoco o sucesso da iniciativa. Mas para isso é preciso ter qualidade e competência. Felizmente vejo muitas matérias, sites, blogs e sei de salas virtuais de bate-papo que contribuem em muito para a difusão e debate das ideias espíritas de modo democrático. 

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – qual lhe interessa mais?

Eu prefiro o filosófico. Já tive uma propensão maior pelo científico, mas como não sou pesquisador, nem nada na área, entendo que a essência da Doutrina Espírita está assentada em sua filosofia e ela hoje me atrai, obriga-me a pensar, refletir, analisar o que acontece com o mundo e comigo mesmo, tudo confrontado com o que a Doutrina ensina. Não podemos nem devemos jamais abrir mão de pensar, questionar, buscar a verdade destemidamente. 

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?

Dos desencarnados fico com Léon Denis, Ernesto Bozzano e Herculano Pires, além de Allan Kardec, obviamente. Entre os ainda encarnados sou fã de Hermínio de Miranda, Jorge Andréa e Richard Simonetti. Mas há muitos outros autores menos conhecidos e que prestam inestimável contribuição ao trabalho de disseminação do pensamento espírita através dos livros e dos periódicos. 

O Consolador: Que livros espíritas que você já tenha lido considera de leitura indispensável aos que estão se iniciando no Espiritismo?

As Obras Básicas, sem dúvida e, dentre elas, absolutamente imprescindível, "O Livro dos Espíritos". 

O Consolador: Se fosse para um local distante, sem acesso às atividades e trabalhos espíritas, que livros você levaria?

"O Livro dos Espíritos", "O Problema do ser, do destino e da dor" e toda a série do André Luiz. 

O Consolador:  As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Kardec definiu o Espiritismo como uma filosofia espiritualista de bases científicas e consequências morais. Apenas isso. Mas ao ter suas raízes transplantadas para o Brasil, por força da estreita associação com o modelo cristão e da necessidade de busca de reconhecimento social, assumiu uma configuração inegavelmente religiosa. É provável que o próprio Codificador, ao escrever "O Evangelho segundo o Espiritismo", não tenha percebido a possibilidade destes desdobramentos no futuro, especialmente fora da França. De qualquer forma, atualmente considero inúteis os esforços de se desvincular o Espiritismo da conotação religiosa, embora possamos evitar os desvios mais graves, além da sua mera conceituação. Alguém já imaginou Chico Xavier contar com o reconhecimento que possui somente se tivesse sido um filósofo ou cientista? 

O Consolador:  Outro tema que suscita geralmente grandes debates diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Eu nunca as li, por falta de interesse. O que sei a respeito foi por via indireta, inclusive de Kardec na Revista Espírita de junho de 1866. O Codificador não a condena, vê mesmo certas qualidades como a de não estar em contradição "em nenhum ponto" com a aplicação dos princípios contidos em “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns” nem com os aspectos morais de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Sua principal restrição está na falta do uso do critério do Controle Universal dos Ensinamentos Espíritas, pois Roustaing escreveu "Os Quatro Evangelhos" com base em comunicações isoladas de Espíritos sem confrontação com as de outros mensageiros e outros médiuns. Por isso Kardec considera as suas teorias, como a do corpo fluídico de Jesus, como mera especulação lastreada em opiniões pessoais e sem possibilidade de fazer parte integrante da Doutrina Espírita.

O Consolador: Sobre os passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond, embora saibamos que no Paraná a opção já definida pela Federação seja tão-somente a imposição das mãos tal como recomenda J. Herculano Pires, qual é sua opinião a respeito?

A fluidoterapia constitui parte de um capítulo mais extenso das práticas espíritas que, eventualmente, podem conter também outras atividades mais especializadas com características curativas. No dia-a-dia das Casas Espíritas está mais do que comprovado que o passe aplicado com a simplicidade da imposição de mãos, que não deixa de ser também padronizado, é o mais adequado. O que não impede que em outras circunstâncias o magnetismo de encarnados e desencarnados seja transmitido com metodologias diferentes e que possam lograr êxito mais completo. Basta observar alguns critérios para não descambar para o misticismo e outras formas de abuso. 

O Consolador:  Como você vê a discussão em torno do aborto? Acha que os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Os espíritas já têm participado ativamente de campanhas e outras manifestações públicas a respeito, ao lado de outros segmentos religiosos e da sociedade civil. Mas iniciativas como a campanha "Vida, diga sim à gravidez", da AME-PR, por exemplo, carece de efeitos multiplicadores, especialmente pelos esclarecimentos ministrados nas escolas. Aliás, não é só esse tema que os espíritas poderiam desenvolver melhor na comunidade. Possuímos centenas ou milhares, se contadas em todo o Brasil, de pessoas altamente competentes para palestrar e debater outros assuntos como ecologia, violência, convivência social, conduta no trânsito, família, etc. Mas temos preferido ficar falando somente para os próprios espíritas dentro das nossas instituições, sem nos abrirmos para a sociedade. Com isso perdemos uma grande oportunidade de levar os princípios teóricos fundamentais do Espiritismo e principalmente a sua proposta de ética de vida para milhões de pessoas. 

O Consolador:  A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a ideia da ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual é sua opinião a respeito?

Sou a favor da ortotanásia. Claro que sempre há a inconveniência do fator humano quando do diagnóstico da irreversibilidade de estado comatoso, por exemplo; porém, a ciência aperfeiçoa cada vez mais as formas de diagnosticar a morte cerebral, situação em que resta apenas a vida vegetativa sem a presença do Espírito que animava aquele corpo. Agora, se os aparelhos que mantinham a vida artificialmente forem desligados e mesmo assim o indivíduo permanecer respirando e o coração batendo, devemos deixar a natureza seguir seu livre curso. O que não posso concordar é que em nome de uma morte menos dolorosa, mesmo a pedido anterior da própria pessoa, comodidade da família ou economia financeira, efetue-se a supressão de medicação básica ou elementos nutricionais, inclusive água, como ocorreu com Terry Schiavo e outros casos mais recentes. 

O Consolador: O movimento espírita em nosso País lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

Penso que há muito por fazer. No âmbito interno precisamos dialogar mais, debater abertamente questões importantes que não têm sido tratadas como merecem, tanto as relativas ao Movimento em si como as que afetam o dia-a-dia das pessoas. No trato das Casas Espíritas é fundamental lembrar que a tão propalada reforma íntima deve começar a ser exemplificada por nós mesmos, respeitando as diferenças e dificuldades dos demais neste processo. Portanto se quisermos realmente ajudar no crescimento espiritual das pessoas, devemos orientar e aceitar suas limitações e não tentar fazê-las "à nossa imagem e semelhança", especialmente porque a imagem que projetamos, infelizmente, nem sempre corresponde à nossa realidade íntima.

Externamente temos observado avanços significativos na inserção social do pensamento espírita através da mídia e esforços outros como, por exemplo, através das associações especializadas (Abrade, Abrame, AME, Abrape, ADESP, os NEUs etc). Estas entidades, se receberem o apoio de que necessitam do segmento espírita para se estruturarem e desenvolverem seu trabalho em atendimento aos propósitos a que se propõem, podem contribuir significativamente para que o Espiritismo seja não só mais conhecido e admirado, mas tenha seus princípios e práticas mais presentes na sociedade em geral. Enfim, sou favorável a que se promova mais a busca da união, sem tanta preocupação com a unificação. Esta é muito limitadora e, por vezes, injustificadamente excludente. Temos muita gente e instituições sérias e competentes atuando, mas fora do chamado "Movimento Oficial" e isso não é bom. Perde-se muito em talento e realizações. Mais importantes do que regras e supostos privilégios de autoridade são as pessoas. É para o bem-estar, espiritualização e felicidade delas no futuro, mas também no presente, que nós devemos trabalhar. 

O Consolador:  Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o País? Na sua opinião, como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

As estatísticas realmente são alarmantes e a mídia as torna superlativas. Combater a violência é um dever do Estado e de toda sociedade e começa dentro de nós mesmos desarmando nossos Espíritos no trato com os semelhantes. Portanto, há necessidade de maior empenho e investimento na atuação repressiva, mas principalmente na prevenção. As causas da violência, obviamente, provêm do estágio evolutivo em que a humanidade se encontra, mas não podemos debitar à conta disso todos os males. Alguns países controlam razoavelmente bem esta situação. Por que aqui não? De qualquer forma, destaco duas questões de “O Livro dos Espíritos” para sintetizar o estado atual e a solução futura. Na 784 os Mentores alertam que "É preciso que haja excesso do mal para fazer-lhe compreender a necessidade do bem e das reformas".  A outra é a 685 quando nos deparamos com a imperiosa necessidade de formulação de diretrizes capazes de promover a verdadeira educação do ser humano. Portanto, o Espiritismo, se quiser, através de todos aqueles que laboram em seu Movimento, pode desempenhar um papel relevante neste processo. Mas, para tanto, volto a dizer, além de tudo o que realizamos nas instituições espíritas, precisamos ter a ousadia de ultrapassar seus limites físicos e nos tornar mais participativos em todas as atividades sociais. Não podemos ficar eternamente só falando para os espíritas. 

O Consolador: Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Eu sou uma pessoa realista-otimista. Sinceramente creio que este processo já está em andamento. Observe com calma as pessoas que estão a sua volta: parentes, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e todos os demais. Se tivermos "olhos de ver", perceberemos que a grande maioria que conhecemos é constituída de gente honesta, bondosa, solidária, possuidora, enfim, de diversas virtudes, embora quase sempre não totalmente desenvolvidas. Quem perturba a paz planetária é uma diminuta minoria. São estes poucos que matam, estupram, corrompem, promovem as guerras desnecessárias, que se regozijam no egoísmo exacerbado. Ou seja, a despeito de muitos processos expiatórios e provacionais, já não somos tão atrasados assim e, por consequência, com um pouco mais de tomada de consciência a respeito de nossa origem, natureza e destinação, poderemos superar o passado de sombras e almejar dias mais felizes. Temos que considerar que, se o egoísmo e o orgulho são considerados pela espiritualidade superior como as duas grandes chagas morais da humanidade, a causa deles é a ignorância de nossa própria essência espiritual. 

O Consolador: Quanto aos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, o que você acha que deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Estou convencido de que se pudéssemos viabilizar uma estratégia de esclarecimento consistente de todas as lideranças do país, passando pelos políticos, administradores públicos e algumas classes como a dos professores, forças policiais, empresários, médicos e tantas outras sobre a realidade de quatro princípios fundamentais da Doutrina Espírita, estaríamos influenciando muitos daqueles que determinam o destino do país. Imagine você se todos ou ao menos a maioria dos membros do Congresso Nacional, por exemplo, fossem instados a examinar em profundidade a possibilidade da existência de Deus com todos os seus atributos, particularmente o da justiça; compreendessem que a imortalidade da alma é uma realidade; que a vida se desdobra em muitas etapas a que chamamos de reencarnação e que coordenando nossos atos está presente uma lei de Causa e Efeito que faz cada um receber na justa medida do que pensa, diz e faz. Se eles tivessem a certeza de que isso é verdadeiro e inescapável, será que arriscariam a fazer o que fazem por lá? Há muitos deles que faltam até com os mais elementares princípios éticos, mas tolos eles não são. Precisamos buscar espaços e persuadir sem impor. Oferecer a proposta de vida que o Espiritismo nos ensina, sem pretensões de ser o único instrumento de transformação social, atuar sem autoritarismo ou pieguice religiosa, mas sustentar nossas práticas na filosofia espírita. Como Kardec, penso que é ali que está sua força e é por ali que poderemos penetrar a alma humana, iluminar a razão. Sem esquecer, é claro, do suave apelo do amor, do método da doçura e da tolerância, bem como das comprovações científicas que estiverem à nossa disposição.


 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita