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Ano 10 - N° 471 - 26 de Junho de 2016

PAULO DA SILVA NETO SOBRINHO
paulosnetos@gmail.com

Belo Horizonte, MG (Brasil)

 
 

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Teodora teria matado 500 prostitutas?  

Parte 1  

"Não espalhe boatos, nem levante falso testemunho contra a vida do seu próximo.” (Lv 19, 16.)

Nunca repita um boato, e você não perderá nada.” (Eclo 19, 7.)

Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno.” (Mt 5, 37.)

 

Introdução 

Sempre estamos ouvindo companheiros espíritas, preocupados em demonstrar a existência da reencarnação, a dizer que a Igreja, em tempos remotos, a aprovava, como se isso fosse validar tal lei divina. Essas pessoas também apresentam a informação de que a imperatriz Teodora, do Império Bizantino, uma ex-cortesã, teria mandado matar 500 prostitutas. Como se generalizou a suposição de que ela teria que reencarnar essa quantidade de vezes para cumprir seu carma, ela passou a ter um ódio da reencarnação e tudo fez até que, via seu marido, Justiniano, acabou por banir essa crença do seio da Igreja, quando do Concílio de Constantinopla (553).

Em consulta ao Houaiss, lemos:

cortesã: s.f. (sXV) 1 ant. dama da corte, favorita do rei e ger. mantida por ele; 2 ant. mulher de costumes libertinos, devassos e de vida ger. Luxuosa; 3 prostituta que atende pessoas das altas camadas sociais;  etim it. cortigiana 'dama da corte', 'prostituta';  sin/var dama; ver tb. sinonímia de meretriz. (Dicionário Eletrônico Houaiss. Versão 3.0, jun/2009.)

Colocamos a definição para que fique claro o sentido do termo “prostitutas” que usamos neste texto. 

O que “vários” autores falam disso 

Temos, atualmente, em nossa biblioteca particular setenta e nove livros sobre o assunto reencarnação; vamos ver o que, desse assunto, encontramos neles.

Reencarnação segundo a Bíblia e a ciência, autor José Reis Chaves (1935- ), escritor e bacharel em Comunicação e Expressão: 

[…] a imperatriz Teodora foi uma cortesã e se imiscuía nos assuntos do governo do seu marido, e até nos de teologia.

Contam alguns autores que, por ter sido ela uma prostituta, isso era motivo de muito orgulho por parte das suas ex-colegas. Ela sentia, por sua vez, uma grande revolta contra o fato de suas ex-colegas ficarem decantando tal honra que, para Teodora, se constituía em desonra.

Para acabar com esta história, mandou eliminar todas as prostitutas da região de Constantinopla – cerca de quinhentas.

Como o povo naquela época era reencarnacionista, apesar de ser em sua maioria cristão, passou a chamá-la de assassina, e a dizer que deveria ser assassinada, em vidas futuras, quinhentas vezes; que era seu carma por ter mandado assassinar as suas ex-colegas prostitutas.

O certo é que Teodora passou a odiar a doutrina da reencarnação. Como mandava e desmandava em meio mundo através de seu marido, resolveu partir para uma perseguição sem tréguas contra essa doutrina e contra o seu maior defensor entre os cristãos, Orígenes, cuja fama de sábio era motivo de orgulho dos seguidores do cristianismo, apesar de ele ter vivido quase três séculos antes. (CHAVES, 2002, p. 185-186) (Grifo nosso.) 

O autor não cita sua fonte, e várias vezes já tentamos, pessoalmente, obtê-la com ele e não obtivemos nenhum resultado positivo. O fato é que, em sua bibliografia, ele não cita Holger Kersten.

E, já de início, queremos deixar bem claro que não queremos de forma alguma contestar a opinião de quem quer que seja e muito menos a do nosso amigo Chaves, cujo trabalho de divulgação do Espiritismo é digno de nota; o que nos move é simplesmente descobrir a verdade dos fatos.

Em Jesus viveu na Índia, o autor Holger Kersten (1951- ), teólogo alemão, é a única fonte, fora a do Chaves, em que vamos encontrar essa história: 

Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas “colegas” e, para não sofrer as consequências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por “ordem divina”! (KERSTEN, 1988, p. 240) (grifo nosso)

Em Analisando as traduções Bíblicas, o autor Severino Celestino da Silva  (1949- ) também menciona o caso da morte das quinhentas prostitutas (p. 158), entretanto, como ele cita José Reis Chaves, não o podemos considerar como fonte primária. 

O que encontramos do fato 

O historiador Procópio, citado por alguns dos autores, fez referência a algo sobre as quinhentas prostitutas, conforme isso que encontramos na Web: 

Teodora também devotou considerável atenção à punição das mulheres encontradas em pecado carnal. Ela pegou mais de quinhentas prostitutas no Fórum, que viviam uma vida miserável se vendendo por três óbolos, e enviou-as para a margem oposta, onde foram trancadas em um monastério chamado Arrependimento para forçá-las a reformar sua maneira de viver. Algumas delas, entretanto, jogaram-se dos parapeitos à noite para livrarem-se assim de uma salvação indesejada.(Fonte: http://procopius.net/procopiuschapter17.html) (grifo nosso). 

Observemos que foi dito que Teodora “devotou considerável atenção à punição das mulheres”, e não que tenha mandado matá-las. Do fato de que “foram trancadas” (presas?), e Procópio não dá mais notícias do que aconteceu a elas, podemos supor qualquer coisa; entretanto, isso ficará no campo da hipótese.

Pesquisando a informação acima na obra História Secreta, de Procópio, encontramos o seguinte: 

Teodora, entretanto, gostava também de imaginar castigos para os delitos contra os costumes. Reuniu mais de quinhentas prostitutas, que exerciam o seu comércio em plena praça pública por três óbolos – o necessário para sobreviver – e as expediu para a margem oposta a fim de encerrá-las no mosteiro chamado Metanoia (Arrependimento), forçando-as a mudar de vida. Algumas delas se lançaram, à noite, do alto do mosteiro e escaparam assim a uma mudança que não desejavam. (PROCÓPIO, s/d, p. 47) (grifo nosso). 

Relato bem próximo do anterior, o que descobrimos na Internet. Continuando a pesquisa, encontramos algo no escritor e jornalista italiano Carlo Maria Franzero (1892-1986), em referência a esse episódio: 

Era apenas natural que a Basilissa exercesse a sua influência em favor das antigas colegas e, assim, quinhentas prostitutas por modestíssimo preço exerciam abertamente a sua profissão no Fórum, foram convidadas coercitivamente a entrar no novo convento do Arrependimento, na outra margem do Bósforo – retiro magnífico para quem quisesse meditar. Ao que parece, porém, muitas destas donzelas não se deram bem com o regime e preferiram atirar-se ao mar, durante a noite, com nítida desvantagem para as possibilidades de salvação das suas almas. (FRANZERO, 1963, p. 87) (grifo nosso). 

O francês Francis Fèvre (1951- ), historiador especialista em sociedades antigas do Oriente Médio, especialmente no Egito e Bizâncio, nos acrescenta mais coisas a essa história: 

[…] Para evitar a acusação de impiedade, Teodora não as devolve à perambulação nas ruas sombrias, nas discretas pracinhas. Talvez com o objetivo de encarnar com convicção seu novo papel de imperatriz, faz encerrar as prostitutas em um convento fundado para esse fim.

Difícil seria dizer se a antiga cortesã, amaldiçoada por todo o clero da capital, agiu por piedade ou por diplomacia. Mas, as pecadoras resgatadas a peso de ouro teriam dispensado uma vida monástica. O novo convento destinado a acolhê-las na capital mostra claramente seus objetivos: todos os habitantes o conhecem pelo nome de convento do Arrependimento. Os muros são bastante altos, uma fuga poderia deixar aleijadas as pecadoras que se arriscassem. Essas mulheres devem passar o resto de suas vidas à sombra dos muros e das edificações do convento, mantidas por uma verba significativa doada por sua benfeitora, para glória de Teodora, destinada ao céu por sua piedosa colaboração para salvar almas em perigo. (FÈVRE, 1991, p. 173) (grifo nosso). 

Bom; não temos como efetivamente saber qual a razão de Teodora ter mandado trancafiar as quinhentas prostitutas. O que podemos deduzir, desse episódio, é que algo de grave estaria acontecendo a elas, pelo motivo de algumas delas se jogarem do alto do mosteiro, buscando a morte, para não ficarem trancadas. (Continua na edição da próxima semana.) 

 

Referências bibliográficas: 

CHAVES, J. R. A Reencarnação segundo a Bíblia e a Ciência. São Paulo: Martin Claret, 2002.

FÈVRE, F. Teodora, a imperatriz de Bizâncio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

FRANZERO, C. M. Teodora. Lisboa: ENP, 1963.

GIORDANI, M. C. História do Império Bizantino. Petrópolis, RJ: Vozes, 1968.

KERSTEN, H. Jesus viveu na Índia. São Paulo: Best Seller, 1988.

PROCÓPIO. História Secreta. Belo Horizonte: CEDIC, s/d.

SILVA, S. C. Analisando as traduções bíblicas. João Pessoa: 2001.

WELLMAN, P. I. Teodora, de cortesã a imperatriz. Rio de Janeiro: Vecchi, 1961.



 


 
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