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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 471 - 26 de Junho de 2016

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Curitiba, PR (Brasil)

 


Análise de um parágrafo sobre modéstia e ostentação
(II)


Em artigo anterior, publicado na edição 468 desta revista –http://www.oconsolador.com.br/ano10/468/ca5.html – explicamos alguns termos usados explícita ou implicitamente por Kardec no primeiro parágrafo do capítulo XII de O Evangelho segundo o Espiritismo. Damos aqui continuidade, com a diferença que agora mostramos os movimentos de passagem entre a abstração da vida presente e a identificação com a vida futura.

Para provar que a ostentação é uma manifestação de inferioridade moral, o termo oposto, a modéstia, é colocado em proeminência, por Kardec. Porém, surge um problema, pois a não ostentação do bem realizado, ou a ocultação deste bem, exige um elevado nível de entendimento por parte daquele que pratica a beneficência. Em primeiro lugar, para conquistar tal patamar de desapego é necessário, segundo Kardec, que o benfeitor tenha realizado a abstração da vida presente e, em segundo lugar, que se identifique com a vida futura. Para que a ostentação perca valor ao olhar do benfeitor não basta abstrair da vida corpórea; é necessário da mesma forma identificar-se com a vida espiritual. Mas como fazer isto? Kardec considera que a abstração, ou seja, a desvinculação da vida material pelo sentimento e pelo pensamento é absolutamente necessária. Sem desligá-los da vida presente, ou seja, sem desapegar-se da vida corpórea não haverá condições de conquistar a superioridade moral. Para lograr tal intento é necessário desenvolver um conceito claríssimo da “vida futura”, lhe compreendendo as características, ou seja, será necessário afastar o pensamento da vida corpórea e, separando as propriedades e relações da “vida futura”, diferenciando-as daquelas da vida presente, formar o seu conceito. Uma vez formado tal conceito, será mais fácil ao homem “colocar-se acima da humanidade” e identificar-se com a vida futura. Portanto, a formação do conceito é um passo intermediário, resultado da abstração e base da identificação.

Abstrair da vida material exige um esforço enorme, pois se trata não somente do desligamento pelo pensamento; trata-se, sobretudo, do desapego à aprovação social dos atos de bondade realizados. Em termos kardequianos a abstração implica “encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo”. Isto quer dizer que é preciso elevar o pensamento e os sentimentos acima do nível comum das pessoas, mudando a perspectiva, o enfoque que damos aos acontecimentos do mundo. É necessário abandonar a maneira estrita como a maioria das pessoas veem a vida, materialista, egoísta, e colocar-se numa posição em que possa ser observada de uma perspectiva mais ampla, portanto menos grosseira.

Para Kardec o ponto de vista em que a pessoa se coloca é altamente relevante para a compreensão da vida. Mas o que é exatamente, para ele, o “ponto de vista”?

Um ponto de vista implica uma maneira própria de perceber e enfrentar as situações. Ter um ponto de vista é olhar a partir de um determinado ponto. Aceitar um ponto de vista determinado significa assumir um modo específico de apreciar, valorizar e julgar um determinado fato ou ideia. O ponto de vista é um modo subjetivo de entender as situações e problemas, que dá a base para o enfrentamento destes. Quando a pessoa se depara com qualquer situação, mesmo aquela do cotidiano, reagirá a elas de acordo com o ponto de vista que predomina em sua mente e em seus sentimentos. A importância dele reside em que aquele que foi adotado pela pessoa influirá poderosamente sobre as suas ações.

Mudar a perspectiva implica afastar-se de um objeto, pessoa ou situação para observá-los a partir de ângulos diferenciados. Muitas vezes a mudança de perspectiva é necessária para que se alcance uma visão mais ampla ou elaborada de um objeto observado. Porém, quanto mais alto está colocado o ponto de vista, maior amplitude terá a perspectiva e maior será a compreensão adquirida a respeito da vida presente. Pode-se dizer, com Kardec, que a vida corpórea e suas vicissitudes tornam-se relativas quando o ponto de vista atingiu a sua culminância. Ora, a culminância está justamente na identificação do indivíduo com a vida futura.

O Espiritismo afirma que olhar o mundo a partir de um ponto de visão mais alto, portanto, mais amplo, transforma os valores de quem olha. O ponto mais alto a que se refere é a perspectiva da vida futura, ou seja, uma perspectiva espiritual. Ver o mundo a partir de uma perspectiva espiritual, de imortalidade, modifica completamente o sentido que o observador dá ao mundo material. Kardec destaca, por exemplo, algumas características do Espiritismo que contribuem para o homem ampliar sua perspectiva da vida:
 

O Espiritismo, [...], ao demonstrar, não por hipótese, mas por fatos, a existência do mundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã.
[...].


O Espiritismo conduz inevitavelmente a esta reforma. Assim, pela força das coisas, realizar-se-á a revolução moral que deve transformar a Humanidade e mudar a face do mundo, e isto tão só pelo conhecimento de uma nova lei da Natureza, que dá outro curso às ideias, uma finalidade a esta vida, um objetivo às aspirações do futuro, fazendo encarar as coisas de outro ponto de vista.[i]
(Todos os grifos são nossos.)

Assim, a identificação com a vida futura, tão necessária para a alteração dos valores, que no sentido kardequiano significa buscar a aprovação divina, ou seja, da própria consciência, em vez da aprovação da sociedade dos encarnados, pode ser conseguida pela formação do conceito de vida futura que o Espiritismo proporciona por intermédio do estudo dos fatos que lhe dão embasamento, bem como com a compreensão das leis da vida espiritual, que lhe são decorrentes lógicos.

Ao formar um conceito correto e verdadeiro da vida futura, o indivíduo é levado a desapegar-se gradualmente de qualquer tipo de vaidade pessoal, principalmente da vaidade de ter seus atos de beneficência conhecidos e aprovados pela sociedade. O indivíduo realiza um giro no valor que dá às coisas da vida material, giro que tem seu ponto final na identificação com a vida futura.

Embora tenhamos esclarecido o que é e o que não é a ostentação, não nos fixamos especificamente a respeito da modéstia. Sabemos que para conquistar a modéstia o indivíduo necessita desligar-se abstrativamente da vida corpórea e identificar-se com a vida futura. Resta saber: o que é a modéstia? Será que é apenas e tão somente a não ostentação da beneficência que praticamos? Podemos dizer que modéstia é a virtude do anonimato; sim, pois já que a modéstia recusa a aprovação social, mas busca a aprovação exclusiva da própria consciência, isto quer dizer que ela exclui totalmente a vaidade, que é a busca da projeção da personalidade do indivíduo para conquistar o consentimento da sociedade. O problema da vaidade é que neste caso a beneficência é utilizada como um instrumento e não como um fim. O indivíduo busca unicamente a satisfação do seu ego, a satisfação de exterioridades, e não a da sua consciência. Portanto, a modéstia é a virtude do desapego ao prestígio social, à evidência midiática, à fama inútil. Quem é modesto quer sempre o anonimato. Quem usa o bem como instrumento de conquistas exteriores demonstra apenas que é apegado à vida corpórea e, portanto, moralmente inferior.

Embora extremamente sintético, o parágrafo inicial do capítulo XIII mostrou-se riquíssimo. Ele é um veio que ainda tem muito a ser explorado. Buscou-se explicitar o esquema utilizado pelo codificador na elaboração do texto e a enorme quantidade de informações subjacentes. Basicamente o parágrafo está estruturado em três pares de termos antitéticos que são unidos por um movimento ascendente de passagem que vai do concreto, a “vida presente”, ao abstrato; deste, a partir das informações sobre fatos e novas leis que o Espiritismo fornece, os indivíduos podem formar um conceito da “vida futura” e, a partir daquele, identificar-se com ela, o que promoverá uma forte ressignificação da vida e alteração profunda dos seus valores. Tal mudança valorativa fará com que a ostentação seja abandonada em favor da modéstia. Entendido este parágrafo torna-se mais fácil a compreensão do restante do capítulo, que trata de virtude tão importante para a conquista da superioridade moral.

 

 

[i] Revista Espírita – pág. 436. Edição eletrônica. Ano sétimo. Tradutor: Evandro Noleto Bezerra. ED. FEB. Novembro. 1864. Ano sétimo. Nº 11.



 


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