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Por que
as pessoas temem tanto a
morte?
A pergunta que intitula
este artigo é pertinente
à medida em que coletei
inúmeros e
surpreendentes
comentários ao longo da
vida – e pasmem,
inclusive partindo de
espíritas atuantes - a
respeito do receio da
morte. Por essa razão,
retorno ao tema, já que
a morte é um fenômeno
natural sobre o qual
somos lembrados
praticamente todos os
dias em virtude do
falecimento de um
parente, amigo, pessoa
que admiramos ou
desgostamos e assim por
diante. Ou seja, a morte
espreita constantemente
as nossas vidas, e um
dia com certeza
haveremos de enfrentá-la
por um motivo ou outro.
E isso é um fato
inquestionável da vida!
Sendo essa a realidade
que nos cerca, por que,
então, não nos
empenhamos em melhor
compreendê-la?
Na verdade, as pessoas
demonstram – pelo menos
foi o que inferi da
maioria das conversas
que travei com
indivíduos de diferentes
extratos sociais e
intelectuais – enorme
desconforto, temor ou
mesmo absoluto medo de
morrer, sem falar da
indiferença claramente
expressada pelos mais
céticos. Em resumo, há,
infelizmente, muito tabu
ou ignorância sobre a
morte, e ainda pouco
interesse em
desvendá-la. No entanto,
a morte está aí em nosso
dia a dia, e se preparar
para ela é, antes de
mais nada, uma questão
racional.
À guisa de exemplo, não
faz muito tempo assisti
a um vídeo de um líder
de determinada
agremiação religiosa
expressar certo desdém
sobre o que virá depois.
Foi chocante constatar a
sua total ausência de
transcendentalidade,
considerando
especialmente a sua
profissão. Fiquei com a
nítida impressão de
tratar-se de um assunto
irrelevante na sua
visão. Aliás, este mesmo
cidadão – vale a pena
recordar – é
protagonista de outro
vídeo no qual ele prega
- sem a menor desfaçatez
- aos seus seguidores
para que deixem seus
bens materiais para a
sua entidade religiosa
em detrimento dos seus
familiares. Tais
recursos, advoga ele sem
nenhum constrangimento e
pudor, servirão à
expansão da sua
instituição.
Lamentavelmente, há
muitos líderes
religiosos que dirigem
as suas entidades como
autênticos
empreendedores da fé, e
a sua retórica gira em
torno da obtenção de
bem-estar material e,
assim, pouco ou nada
abordam os assuntos da
alma. Quanto à morte
propriamente dita,
vendem um discurso e/ou
pregação sem nenhuma
base sólida ou
coerência. Por
conseguinte, tais
religiosos acabam se
comprometendo
consideravelmente
perante a
Espiritualidade Maior. A
propósito, o Espírito
Amélia Rodrigues, no
livro Vivendo com
Jesus (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco), com acerto
pondera que “Não raro,
as preocupações
materiais com o êxito
terreno [incluindo aí o
comércio religioso]
anulam as realizações
transcendentes,
substituindo os ideais
de enobrecimento”.
Por sua vez, o Espírito
Alexandre, na seminal
obra Missionários da
Luz, de autoria do
Espírito André Luiz
(psicografia de
Francisco Cândido
Xavier) esclarece que:
“[...] Os desvios das
almas que receberam
tarefas de natureza
religiosa são sempre
mais graves. Existem
padres [o raciocínio é
válido para todos os
religiosos] que,
contrariamente a todas
as esperanças de nosso
plano, se entregam
completamente ao sentido
literal dos ensinamentos
da fé. Recebem os
títulos sacerdotais,
como os médicos sem amor
ao trabalho de curar, ou
como os advogados sem
qualquer espécie de
devotamento ao direito.
Estimam os interesses
imediatos, requisitam as
honrarias humanas e,
terminada a existência
transitória, se
encontram em doloroso
fracasso da consciência.
Habituados, porém, ao
incenso dos altares e à
submissão das almas
encarnadas, não
reconhecem, na maioria
das vezes, a própria
falência e preferem o
encastelamento na
revolta lamentável, que
os converte em gênios
das sombras. Neste
particular ... devemos
reconhecer que
semelhante condição,
neste lado da vida, é a
de todos os homens e
mulheres, de
inteligência notável,
com primores de cultura
terrestre, mas desviados
do verdadeiro caminho de
elevação moral.[...].”
(ênfase minha)
Nada mais esclarecedor,
convenhamos. Uma
respeitável entidade
espiritual consignando
uma criteriosa análise
sobre os eclesiásticos
desvirtuados, e que
também não cogitaram
sobre os que lhe
aguardam além-túmulo. De
minha parte, tive a
oportunidade de
trabalhar em atividades
de doutrinação por
muitos anos a fio nos
quais pude dialogar com
dezenas de Espíritos. E
o que sempre me chamou a
atenção nesta sensível
tarefa foi o estado de
penúria dessas
entidades. De fato, a
esmagadora maioria
encontrava-se sob
penosas condições e, em
seus relatos,
transbordavam um
completo despreparo para
o enfrentamento da vida
após a morte.
Em outras palavras, o
senso de continuidade da
vida não lhes tocava a
alma quando estavam
encarnados. Em
decorrência disso,
dedicaram-se totalmente
às questões da
existência corporal, mas
negligenciaram os
assuntos do porvir.
Colhidos pela dura
realidade espiritual,
após o desfecho da
jornada material, muitos
lamentavam a falta de
conhecimento e preparo à
nova condição de
Espíritos desencarnados.
Moral da história:
muitos enfileiram
encarnações em sequência
sem um avanço espiritual
significativo, já que
não se preparam
convenientemente para o
retorno à dimensão
espiritual.
Nesse sentido, como bem
explica Amélia
Rodrigues, também na
obra acima citada:
“O ser humano é aprendiz
rebelde da evolução, que
opta pelo prazer de
efeitos imediatos,
embora anestesiantes, em
detrimento da alegria
pura e profunda de curso
demorado. Por isso,
encontra-se,
invariavelmente,
percorrendo o estreito
corredor das amarguras
quando poderia passear
pelas imensas paisagens
livres do bem-estar.”
De forma semelhante, o
pungente depoimento do
Espírito Otília
Gonçalves, em Além da
Morte (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco), merece nossa
profunda reflexão:
“Quantas aflições e
remorsos, receios e
ansiedades visitaram
minha alma, depois do
túmulo, não sei dizer.
“Constatei que a vida
prossegue sem grandes
modificações, oferecendo
a cada alma, no cadinho
evolutivo, as bençãos ou
punições de que se faz
credora.
“Atormentados do sexo
continuam ansiosos.
“Escravos do prazer
prosseguem inquietos.
“Servos do ódio
demoram-se em aflição.
“Companheiros da ilusão
permanecem enganados.
“Aficionados da mentira
dementam-se sob imagens
desordenadas.
“Amigos da ignorância
caminham perturbados.
“Somente as almas
esclarecidas e
experimentadas, na
batalha redentora,
caminham em liberdade,
desfrutando a dádiva da
esperança entre sorrisos
e realizações.”
Portanto, conhecer a
realidade espiritual que
nos envolve, além de ser
um imperativo da vida,
pode tornar nossas
existências mais
enriquecedoras, bem como
mais cuidadosos em
nossos passos, atitudes
e modo de ser. Se formos
bem em relação a isso,
não há nada a temer em
relação ao inevitável
advento da morte que um
dia nos alcançará,
consoante a vontade de
Deus, pois teremos paz e
mérito para receber as
bênçãos divinas.
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