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por Jorge Gomes

Pesquisa: casos sugestivos de reencarnação em adultos


Purnima Ekanayake, uma menina do Sri Lanka, nasceu com marcas mais claras na pele do lado esquerdo do tronco. Essa questão não seria relevante se não se relacionasse com o facto de ela insistir que se recordava de ter morrido na vida anterior por causa do acidente que tivera com “um carro grande”. Adiantava que, nesse evento traumático, “um monte de ferro estava no meu corpo”.

Este caso foi investigado por um psicólogo islandês muito conhecido no meio científico, Erlendur Haraldsson, e integra a tese de Sandra Maciel, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, que desenvolve um “Inquérito Nacional de Casos Sugestivos de Reencarnação na População Brasileira Adulta”, trabalho divulgado no passado mês de dezembro de 2023.

O caso de Purnima encontra-se incluído na parte inicial da tese, onde a autora resume com vasta competência a investigação científica já publicada sobre crianças que garantem recordar-se de vidas passadas.

Estes casos têm sido muito pesquisados e são frequentemente relatados em todo o mundo. Envolvem crianças que descrevem detalhes das suas vidas passadas, incluindo nomes, datas, locais e eventos. Em alguns casos, as crianças podem até reconhecer parentes ou lugares que nunca conheceram na sua vida atual, com a revelação de pormenores muito interessantes e com frequência confirmáveis.

Nesta pesquisa, Sandra Maciel investigou a ocorrência de casos sugestivos de reencarnação em pessoas adultas a partir das suas reminiscências, algo menos trabalhado pelos profissionais da ciência oficial.

Voltando ao caso de Purnima, deve ser referido que há detalhes assaz curiosos. Entre outras informações, a menina, além de explicar dois processos diferentes de fabricar incenso com base nas suas memórias, chegou a pedir satisfações aos atuais proprietários da empresa pelo facto de as embalagens terem, entretanto, sido modificadas.

Durante a meticulosa pesquisa de Haraldsson ambas as famílias – a da vida passada e a atual – ficaram convencidas que se tratava da reencarnação de Jinadasa Perera, um homem efetivamente morto por um autocarro quando se deslocava de bicicleta para vender incenso.

Durante a pesquisa documental, o psicólogo teve acesso ao documento da autópsia do corpo de Jinadasa. O documento oficial datilografado, ou seja, escrito em máquina de escrever, descreve a fratura das costelas, rotura do fígado e do baço e perfurações causadas por costelas fraturadas.

O artigo de Erlendur Haraldsson que inclui o caso de Purnima é apenas um dos 78 publicados acerca de alegadas memórias de vidas passadas entre as décadas de 1950 e 2010, segundo bases de dados científicas, explica a tese. A maior parte deles versa sobre crianças (84%), sendo 74% de países asiáticos.

Já existe muito trabalho científico realizado com foco nas crianças que afirmam lembrar-se de vida passada. Investigadores que deixaram marca indelével nesse sector foram o brilhante psiquiatra Ian Stevenson (EUA), o psicólogo Erlendur Haraldsson (Islândia) e Jim Tucker (EUA), entre outros. Nesta data, destes três apenas o pedopsiquiatra Jim Tucker se encontra entre nós.

Na tese encontramos também uma lista de características que se destacam nos casos de crianças que se recordam de vidas passadas, que é interessante partilhar consigo. Eis alguns exemplos: essas crianças narram mortes violentas originadas por acidente, homicídio e suicídio, com frequência; são mais de 78% no Líbano e na Síria; há casos de crianças que mencionam, além do suposto modo de morte, o facto de terem acompanhado o que teria sido o seu próprio velório ou funeral; algumas fazem relatos sobre o chamado período de intermissão, aquele compreendido entre a alegada vida anterior e a atual, isto é, para nós a chamada erraticidade; tendem a mencionar o modo de morte, nomes relacionados com a suposta vida passada e declarações verificadas como corretas; as memórias tendem a desaparecer quando muitas destas crianças deixam de falar sobre as suas alegadas vidas passadas, mais ou menos pelos sete anos de idade.

Sobre este último ponto, recordamos que André Luiz (Espírito) considera em Missionários da Luz (1.ª edição, FEB, 1945), livro psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, que a reencarnação só se completa verdadeiramente por volta dos sete anos de idade.

Este trabalho de Sandra Maciel foi realizado com uma amostragem de tamanho significativo, o que fortalece os resultados. A autora da tese utilizou um método de investigação rigoroso, que incluiu entrevistas e análise de documentos. Além disso, deve sublinhar-se que os resultados da pesquisa são consistentes com os resultados de pesquisas anteriores sobre casos de reencarnação em crianças.

As vidas sucessivas são uma das leis da natureza a que a doutrina espírita oferece muita atenção nos seus estudos. Além dos factos pesquisados, a reencarnação abre ângulos filosóficos e éticos – a ética é a ciência do bem – representando um vector importante para anular o racismo, os nacionalismos exacerbados e outras as formas de egoísmo, imperfeição esta que tarda a abandonar de modo significativo a maior parte da população humana.

O próprio Jesus de Nazaré, há 2 mil anos, falava dela a Nicodemos, sem que ele e outros percebessem, assim como Elias, o profeta antigo, que nas suas palavras era João Baptista reencarnado.

Por toda a parte surgem os convites para uma vida mais esclarecida e mais fraterna. “Água mole em pedra dura”: um dia, todos teremos ouvidos para ouvir.

 

Jorge Gomes, escritor e estudioso espírita, reside na cidade do Porto, Portugal.

 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita