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por Rogério Coelho

 

Mediunidade, convivência, personalidade e... evolução


Mediunidade é compromisso com a consciência sedenta de recomposição do passado


“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Jesus. (Jo., 8:32)


Muitas criaturas que chegam ou que já estão no Espiritismo há muito tempo, e que ainda não lograram a identificação dos próprios talentos, e consequentemente não conseguiram colocá-los para multiplicar, deixam-se envolver nas inconvenientes malhas da inveja e do desânimo.          Para essas pessoas, Joanna de Ângelis, esclarece o seguinte pela mediunidade de Divaldo Franco: “(...) Desejarias ser como eles... Renteiam contigo, produzindo em alta escala com a leviandade de quem ignora o tesouro de que dispõem. Uns falam, e o calor das ovações que recebem desata-os em sorrisos largos e festivos que te encantam; outros escrevem, e as moedas da admiração que lhes chegam às mãos se convertem em adornos faiscantes que te fascinam; alguns recuperam a saúde no próximo enfermo com aplicação de passes, e o respeito de que se sentem distinguidos te emociona; muitos escutam orientação segura, e são classificados como seres especiais, apresentando-se como se o fossem, despertando-te inveja; diversos veem homens que vivem além da esfera física, e são homenageados pelo carinho de todos, enquanto fremes de angústia.

E gostarias, sim, de ser médium, porém, igual a eles! Consignas, algo decepcionado, que as tuas possibilidades mediúnicas são escassas, dúbias mesmo, deixando-te algo confuso, em muitas circunstâncias. As Entidades que te utilizam os recursos, consideras, são tão doentes e perturbadas quanto tu mesmo.  Nada dizem nem realizam de original, que se constitua novidade: nem palavras candentes; nem páginas brilhantes; nem recuperações orgânicas estupefacientes; nem informações retumbantes; nem visões celestes... Somente se referem à necessidade de renovação e trabalho.  Como renovar-se, porém, e trabalhar, remoqueias intimamente, se foste tão pouco aquinhoado?! Sentes a necessidade de difundir a luz que se irradia da mensagem espírita, entanto... Não te perturbes, não desanimes. O Espiritismo se apresenta e se afirma pela conduta dos que o expõem sem se impor a ninguém.

Os transeuntes da carruagem dourada da mediunidade deslumbrante são como tu mesmo, enfermos graves em desfile da ilusão. Demandam o túmulo, que os aguarda inexoravelmente, enganados, enganadores... São doentes do espírito em adiantado grau de desequilíbrio. É verdade que portam o tesouro medianímico em alta expressão fenomênica para que não digam ignorar, mais tarde, as informações do Mundo Imortal para onde seguem. Enquanto se divertem, aumentam compromissos, agravam responsabilidades... Todos os louvores que receberem ficarão com a massa carnal, silenciosos e inexpressivos no sepulcro.

Muitos, no entanto antes mesmo do retorno à vida espírita, constatam, no abandono de que se veem objeto pelos seus admiradores, também transeuntes da vida, o travo de fel e o azedume do arrependimento, tarde demais.

Mediunidade é compromisso com a consciência sedenta de recomposição do passado e meio de servir com segurança e desprendimento, por ensejar trabalho a outrem por intermédio de alguém. Ajuda, pois, aqueles que no Além-Túmulo sofrem e te advertem com a aflição deles. Talvez não sejas um grande médium, conhecido e disputado pela louvação dos homens; no entanto, procura constituir-te obreiro do amor, que não é ignorado pelos infelizes, podendo ser identificado pelos sofredores da Erraticidade.

Jesus, o Impoluto Médium de Deus, quando esteve conosco e deu início ao Seu Apostolado de amor excepcional, esqueceu - deliberadamente - magos e adivinhos do Seu tempo, sensitivos de renome e profetas conhecidos, videntes famosos e escribas célebres, retóricos apaixonados e curadores distinguidos para selecionar atormentados, doentes, sofredores e perturbados das cercanias das cidades por onde deambulava, erguendo do lodo e amparando do abismo os que se tresloucaram para com eles levantar, como levantou, a mais duradoura e nobre construção que o espírito humano conhece: a redenção do homem”.

Definindo a importância de trilharmos os próprios caminhos sem mimetizarmos alheias personalidades, esclarece William Shakespeare: “(...) depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aí você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o Sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.   Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam; percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Aprende que não importa aonde já chegou, mas para onde está indo. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados; aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências; aprende que paciência requer muita prática; descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se; aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.  Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo; aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte; aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua Alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.  E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!”  

Ensina Herculano Pires[1]: “(...) com o passar dos milênios o homem vai se libertando de si mesmo, da sua condição humana, construída penosamente através das estruturas sociais do horizonte tribal e do horizonte agrícola, procurando uma forma mais precisa de definição de sua natureza. Na organização tribal, ele se libertou da condição animal e do jugo absoluto das forças da Natureza, para elaborar a sua condição própria. Na organização agrícola, ele aprendeu a dominar a Natureza e submetê-la ao seu serviço, mas caiu prisioneiro da estrutura social. No horizonte civilizado ele começa a romper os liames da organização social, para descobrir-se a si mesmo, o que só fará quando se tornar um indivíduo.

A evolução do Espírito está bem clara nesse imenso processo de desenvolvimento histórico da humanidade. O homem se eleva progressivamente da selva à civilização, através de períodos históricos que podem ser definidos como “horizontes”, ou seja, como universos próprios, nos quais os diferentes poderes da espécie vão sendo treinados em conjunto, até que o desenvolvimento da razão favoreça o processo de individualização. Primeiramente, o homem se destaca da Natureza através do conjunto tribal; depois, reafirma a sua independência através dos conjuntos mais amplos das civilizações agrárias; e, depois, ainda, constrói os conjuntos mais complexos das grandes civilizações orientais. Nesses conjuntos, porém, o homem descobre a possibilidade de destacar-se individualmente da estrutura social. O espírito humano se afirma como individualidade, como entidade autônoma, capaz de superar não somente a natureza, mas a própria humanidade”.

A Doutrina Espírita nos coloca frente a frente com o “horizonte espiritual” que Jesus mencionou à mulher samaritana junto ao poço de Jacó; horizonte esse totalmente diferenciado de todos os outros pelos quais temos passado nesta longa peregrinação evolutiva desde os tempos das cavernas e das tribos primitivas...

Conhecendo as raízes históricas dos maus costumes que se perdem na noite dos tempos, fica mais fácil identificar os seus corolários e, consequentemente podemos trabalhar com mais eficiência no sentido de erradicá-los dos arraiais espiritistas, livrando tanto o Movimento Espírita quanto as Casas Espíritas de todos os “usos e costumes” ainda comprometidos e atrelados ao passado de ignorância de onde procedemos. Tal a maneira de projetarmo-nos na direção do “horizonte civilizado”, ou seja, do “horizonte espiritual” atentos às palavras de Jesus à Samaritana[2]“(...) vós adorais o que não sabeis; mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem”.    

 

[1] - PIRES, Herculano José. O Espírito e o tempo. 3.ed.São Paulo: EDICEL, 1977.

[2] - BÍBLIA, N.T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983, cap. 4, vers. 22 e 23. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita