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por Jorge Gomes

Não sabem que o corpo físico já morreu


Na sala sente-se um clima de muita paz. Passado o dia de trabalho, na noite desta terça-feira o grupo mediúnico está muito tranquilo, como é normal. Compõe-se de três médiuns psicofónicos – ou de incorporação, termo menos adequado – e de mais meia dúzia de pessoas formadas para dialogar de forma fraterna com os Espíritos desencarnados que a equipa espiritual desencarnada trará a manifestar-se, dentro do critério de necessidade de serem ajudados e de terem condições de absorver esse apoio.

O objetivo é apenas auxiliar. Para que isso aconteça, há que merecer a confiança de um grupo de Espíritos esclarecidos muito especializados e competentes, que são quem faz a gestão da atividade da hora que dura este serviço de fraternidade desinteressada de qualquer recompensa material ou espiritual, embora nesta última parte, deva ser dito que se sai de lá invariavelmente com uma paz maior do que aquela a que estamos habituados.

Mais do que pensa a maior parte das pessoas por que passamos na rua, a morte do corpo material é um fenómeno natural que não finaliza a vida. Pelo contrário, a vida continua, independentemente de quaisquer crenças, e por vezes é tão simples que até lembra algo como o retirar um pesado casaco de inverno, mantendo, ainda assim, por tempo variável a sensação de continuar com ele vestido.

Diante dos factos que surgem verificamos numa amostra de duas centenas de casos anotados, na nossa experiência, que apenas cerca de 30% dos Espíritos ignorantes que se comunicaram em necessidade sabiam que o seu corpo material já tinha morrido. Os restantes não faziam a menor ideia. (Confira no gráfico abaixo.)

Aliás, com frequência era difícil convencê-los, com suavidade para não os assustar, de que isso já tinha ocorrido há alguns anos. O curioso desta situação peculiar é que a mesma situação pode acontecer a cada um de nós, dentro de certas circunstâncias.

Para que não haja dúvidas, os dois casos isolados assinalados no gráfico dizem respeito a situações em que o gravador de áudio não avisou que tinha as pilhas com pouca carga e desligou a gravação antes que pudéssemos a posteriori ouvir e apurar se nesses casos sabiam já estar desencarnados ou não. Na manhã seguinte cada um entra na sua vida profissional – técnicos aposentados, jornalistas, médicos, gestores comerciais, etc. – e há o descuido de esquecer de telefonar a quem esteve envolvido em cada caso de atendimento mediúnico para esclarecer isso.

Para quem nunca abordou este assunto, irá parecer estranho que haja quem já tenha o seu corpo físico morto há vários anos e ainda não tivesse percebido isso. Acontece o mesmo com numerosas entidades espirituais com quem conversamos no atendimento mediúnico. Recordo que um entre muitos afirmava no início do esclarecimento: “Como é que me dizes que morri, se estou aqui a conversar contigo?! Estás a querer enganar-me”.

Para nós é simples. O corpo físico morreu. Na maioria dos casos há uma perda variável de consciência – como quando adormecemos – e quando voltamos a nós, à vigília, desligados do corpo físico, temos um corpo espiritual (muito parecido) e achamos que não se passou nada de significativo.

Porém, para quem não sabe que tem corpo espiritual e acha que tudo acaba com a morte corporal, fazer desvanecer essa crença com os factos não é imediata em muitas situações.

Como no plano material, na vida espiritual há também inúmeros estados alterados de consciência que podem prevalecer por um tempo muito variável.

Em alguns grupos mediúnicos, neste grupo de casos, há quem opte por abreviar o esclarecimento. Para isso, sendo o caso de um Espírito de perfil masculino a manifestar-se por uma médium, pedem-lhe que passe (é a mão da médium que se move e faz prevalecer a percepção) a mão pelo peito, localizando os seios. Resultado: o Espírito fica chocado – pode dizer: “Mas o que é isto? Que é que me fizeste?!”, indignado. Ou então se o Espírito comunicante com défice de esclarecimento é calvo e o/a médium tem cabelo, sentir essa diferença da mesma maneira. No nosso caso, optamos por apelar a que observe em volta e nos diga o que vê. Estranham. Perguntam por vezes: “Tu não vês? Para que queres que te diga o que vejo?”. A resposta é simples: “Para saberes como estás”.

Após alguns minutos do diálogo fraterno, o clima interior do Espírito comunicante melhorou, apoiado pelo choque anímico oriundo do médium, o que faz com que consiga ver melhor outras realidades vibratórias que nos momentos iniciais seria impossível. São leis da natureza, e funcionam assim. “Sem amor no coração não teremos olhos para a luz”, vem no livro de André Luiz (Espírito) “Entre a Terra e o Céu”, na psicografia do médium Francisco Cândido Xavier.

Como ocorre todos os dias quando adormecemos, nunca sabemos em que minuto isso ocorreu. Essa rampa deslizante ocorre com frequência também na desencarnação. Sabemos apenas quando acordamos.

Vale a pena por isso, no quotidiano, manter uma claridade interior de bons sentimentos, tanto quanto possível. Sem exercitar não saímos do sítio. Funciona como a ginástica aplicada no corpo físico. Assim, quando a partida para o plano espiritual chegar (morte do corpo material), teremos olhos para ver e ouvidos para ouvir aqueles que se encontram em condições de nos ajudar na vida espiritual, sejam eles velhos conhecidos ou aparentes desconhecidos. Todos, contudo, com o denominador comum de nos amarem sem esperar retribuição e de nos apoiarem para mais depressa termos condições de continuar a trabalhar e a evoluir.

 

Nota - Esta análise foi efetuada a partir de um grupo de serviço mediúnico situado nos arredores da cidade do Porto, na região Norte de Portugal. Através de registos recolhidos das manifestações mediúnicas habituais no grupo em que colaborámos regularmente durante vários anos, até 2019, identificaram-se e registaram-se a posteriori, através de um código numérico, os médiuns em causa em cada manifestação, anotando-se caso a caso diversos dados emergentes do diálogo de esclarecimento estabelecido com a entidade espiritual no transe mediúnico. O poster “Reuniões Mediúnicas Uma análise estatística”, relativo a este gráfico, está disponível na internet, no site Scribd e no Issuu, e pode também ser acessado clicando-se neste Link

 

Jorge Gomes reside na cidade do Porto, em Portugal.

   

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita