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por José Lucas

 

“Titanic” dos pretos no Mediterrâneo


De tempos em tempos ocorrem situações críticas, mundialmente conhecidas, que estimulam a fraternidade, a colaboração e o espírito de entreajuda, como nos grandes terramotos, entre outras situações.

Neste mês de Junho de 2023, um pequeno submarino de turismo – o Titan – cujo objectivo era visitar os destroços do Titanic (navio afundado após colisão com um iceberg, no início do século XX), com 5 milionários a bordo (cada um pagou 250 mil dólares americanos pela aventura), perdeu as comunicações com a sua base de apoio e, desencadeou uma das maiores operações de busca naval.

Meios ultrassofisticados dos EUA, Inglaterra, França e Canadá, entre outros países, especialistas de todo o tipo, médicos, de tudo se fez (e bem) para tentar salvar os referidos passageiros que, acabaram por falecer nessa viagem catastrófica.

Sem dúvida que a situação a todos sensibilizou e é, sem sombra de dúvidas, digno de louvor todo o esforço internacional, a solidariedade, a fraternidade, a colaboração, a dedicação, o esforço, em prol da possível salvação daquela tripulação.

No Mar Mediterrâneo, morreram afogadas 26.000 pessoas nos últimos 10 anos.

Na mesma altura em que morreram os 5 tripulantes ricos, morreram 600 pretos, miseráveis, a sul da costa grega, migrantes em busca de um futuro melhor na Europa. Apenas foram resgatados com vida 110 homens.

Dezenas de mulheres e uma centena de crianças viajavam dentro do porão.

Os milhões que se gastaram na busca e salvamento de 5 muito ricos, contrastam com o abandono de 600 pessoas no cemitério em que se transformou o Mar Mediterrâneo.

O grande problema destas pessoas é que são “invisíveis”, são pretos, que vêm de África, sem nada, escravizados por gangues que comercializam carne humana e, que a Europa, tal como os EUA, Canadá, França e Inglaterra (que tanto se esforçaram no caso do Titan) nada fazem para resolver, numa situação dramática, à qual fecham os olhos e vão empurrando com a barriga.

A doutrina dos Espíritos (Espiritismo ou doutrina espírita), que não é mais uma religião ou seita, mas sim uma filosofia de vida espiritualista, universal e universalista, apresenta ao Homem em “O Livros dos Espíritos”, de Allan Kardec, as Leis Morais que são transversais ao Universo.

Entre outras, encontramos as Leis de Sociedade, Igualdade, Liberdade, Justiça, Amor e Caridade, que nos demonstram a nossa natureza divina, as obrigações sociais mútuas.

Com o Espiritismo, nas suas componentes científica, filosófica e moral, encontramos as provas da imortalidade do Espírito, da comunicabilidade dos Espíritos, da Reencarnação, da Lei de Causalidade e a pluralidade dos mundos habitados.

 

A vida humana não vale mais de acordo

com a cor da pele ou do local do desastre:

somos todos filhos de Deus e irmãos em evolução.

 

Em essência, aprendemos com o Espiritismo a solidariedade, a fraternidade, a colaboração e o amor ao próximo nos seus índices máximos, já que sabemos que na próxima reencarnação podemos nascer num país qualquer, com um corpo de uma cor qualquer, numa condição social qualquer, num local bom ou difícil, na condição masculina ou feminina e, em locais degradados ou poupados, do ponto de vista ecológico.

Não se consegue entender esta dualidade de critérios, fruto do egoísmo humano, onde se empenham meios humanos e materiais que valem milhões, para salvar 5 vidas, por serem brancos e ricos e, se abandonam à sua sorte milhares de pessoas, por serem pretos e miseráveis, que apenas buscam um futuro melhor, uma luz ao fundo do túnel.

Lembramos o médico das almas, Jesus de Nazaré que, há 21 séculos nos deixou uma filosofia de vida para a felicidade de todos, sem excepção, no planeta Terra: “não fazer ao próximo o que não desejamos para nós e, fazer ao próximo o que desejaríamos que nos fizessem”.

O conceito é simples, eficaz, mas, de facto, é incompreensível que depois de 21 séculos ainda não tenhamos aprendido a base das bases da essência da fraternidade, da solidariedade, da caridade que eleva, do Amor ao próximo.

Se houvesse um Titanic no Mar Mediterrâneo, talvez os pretos tivessem melhor sorte.

Se calhar todos nós, ocidentais, enclausurados no nosso egoísmo doentio, somos titanics naufragados moralmente e, ainda não descobrimos isso.

A lei da evolução levar-nos-á adiante, quer queiramos ou não – são leis naturais ou divinas – sendo que essa evolução não sendo pelo amor, será inevitavelmente pela dor colectiva, fruto do egoísmo dos titanics humanos da actualidade.

Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a Lei.

 

José Lucas reside em Óbidos, Portugal. 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita