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por Jane Martins Vilela

 

Serenidade


Que pensais? Eles responderam: é réu de morte. E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?
  (Mateus, cap. 26, v. 66 a 68)


Estamos vivendo nestes últimos anos muitas aflições, considerando que o conceito de amor ao próximo necessita ser vivido com muita intensidade e a agressão e a violência estão muito propagadas na mídia.

Os mais velhos se lembram com saudades de um país onde havia, sim, muita carência econômica, mas cuja população, essencialmente rural, embora não tivesse bens materiais suficientes (muitos contam que ganharam o primeiro par de sapatos aos 10 anos de idade), tinha a fartura da alimentação nos sítios e nas fazendas. A solidariedade era muito grande.  Distribuíam alimentos uns para com os outros. As pessoas trabalhavam nos campos, conversavam umas com as outras, frequentavam sua religião e o conceito de ser era muito mais importante do que ter.

Quando havia um crime, aquilo era tão inusitado que todos ficavam atônitos. Mas o êxodo rural veio. As cidades aumentaram de modo descomunal. Não havia renda para uma qualidade de vida melhor entre as pessoas que chegavam dos campos, sem instrução, em massa. Isso é muito falado nos estudos sociais do país. As mulheres tiveram que trabalhar fora, pois os salários dos maridos não eram suficientes. Com isso, as crianças começaram a ficar desassistidas, devido à ausência da mãe na maior parte do tempo. A agressividade cresceu.

As crianças, isso nós podemos dizer, pois já conversamos com milhares, começaram a achar que o mais importante é o dinheiro, pois seus pais, atrás do dinheiro, não ficavam com eles. Infelizmente. Não por escolha dos pais, mas por necessidade, pois muitas vezes, sem o trabalho materno, não haveria comida na mesa para os filhos.

As crianças não entendem muito bem isso. Prefeririam a presença do que ter as coisas, mas isso se inverteu de tal modo, que agora querem coisas sem parar. Houve uma inversão de valores e os mais velhos sentem saudades da palavra de honra, da serenidade, da paz, do respeito. Contam como era o passado, sofrido, com poucos bens materiais, mas com amor e respeitabilidade entre todos.

Os mais velhos falam de um tempo em que não se precisava ter cerca nas casas, podiam deixar portas sem trancar, que ninguém entrava. Os vizinhos sentavam nas calçadas e conviviam, conversando, toda a vizinhança com cadeiras nas calçadas, conversando ao anoitecer, enquanto as crianças brincavam de pega-pega, esconde-esconde, jogando bola, nas ruas das cidades, sem perigo. Quando vinha um carro, era devagar, todos paravam; o carro passava e as brincadeiras recomeçavam. É o que contam. Uma das razões da longevidade atual é esse passado mais pacífico e calmo, pensamos nós.

Não duvidamos. Lembramos de nossa casa em Minas Gerais. Tinha uma pequena cerca de madeira na frente, menos de um metro de altura. Era para preservar o jardim dos cachorros que andavam soltos. O jardim era lindíssimo, cheio de flores. As pessoas, se o portão estivesse fechado, batiam palmas, não pulavam a cerca. Era o respeito à propriedade do outro. Mesmo pessoas alcoolizadas, que eventualmente apareciam pedindo comida, batiam palmas da calçada mesmo e só entravam se convidadas.

Domingo era sagrado para a religião. Havia ensinamento sobre bondade e amor ao próximo, gentileza e boas maneiras, nas famílias, não importando a renda delas, se maior ou menor. Era importante formar pessoas de bem e o exemplo era fundamental.

Isso ficou no passado. O presente, porém, é consequência do que fizeram dele. As crianças precisam de amor e de educação, não apenas de instrução. A violência e a agressividade que está acontecendo hoje é fruto de ter sido deixado para trás esse passado, pois o passado é ensinamento para o futuro. O que é bom não deve ser abandonado.

Jesus é o modelo que muitos esqueceram. O amor que ele pregou e viveu jamais deve ser deixado para trás.

Temos visto famílias maravilhosas, de diversas religiões, que, entendendo sua responsabilidade perante Deus, estão educando bem os filhos, dentro da crença do amor ao próximo, do respeito ao semelhante e dos ensinos de Jesus.

Somente seremos um país digno quando todos compreendermos os ensinamentos de Jesus e os colocarmos em prática, pois Jesus disse tudo quando nos recomendou que tudo aquilo que desejarmos do próximo façamos nós aos outros.

Lembramos um professor de karatê muito respeitado em sua cidade. Pudemos assistir a algumas de suas aulas com as crianças e todas as vezes, ao encerrar, ele passava por elas dizendo: - O verdadeiro guerreiro é aquele que tem domínio sobre si mesmo e nunca agride ninguém.

Agressão é estagiar nos instintos primários, não ter maturidade. A criança muitas vezes agride. À medida que vai aprendendo, compreendendo, vai deixando isso. Mas há aquelas que permanecem na agressão. O que lhes faltou? Amor, carinho, educação, respeito, exemplos, religião, disciplina, deveres?

A sociedade, estarrecida com a criminalidade juvenil, analisa tudo isso. As escolas pedem aos pais que eles eduquem.

Voltemos ao passado, não nas coisas materiais ou no modo de vida de hoje, que é difícil, mas na autoridade moral, nos exemplos, na vivência, na educação que se tinha. Isso é possível, se a família quiser.

Tivemos a oportunidade de conversar com uma mãe, das muitas com quem lidamos. Ela não conseguia nem se mexer direito, de dor nas costas. Havia-se mudado de residência e carregado muitos móveis, dois dias antes. Tem um filho de 9 anos, outro de 7.  Dissemos a ela que pedisse ajuda aos seus filhos. Com sua orientação, um poderia limpar a casa, outro o banheiro e assim por diante, até que ela se restabelecesse. Isso não seria trabalho infantil, mas ensinamento de solidariedade e fraternidade e as crianças adorariam cooperar com a mãezinha.

Adorávamos poder auxiliar quando éramos criança. Precisamos disso. Não formar adultos que acham que só têm direitos, geração que não quer fazer nada, mas pessoas de bem, que sabem ajudar-se umas às outras.

Quando o amor imperar a violência vai desaparecer. Jesus deve ser o modelo constante. Evitemos a agressão e ensinemos, com nosso exemplo, nossas crianças a perdoar e a reagir ao mal com o bem.

A geração que crescer com respeito e amor será serena. Isso não significa inação, mas capacidade de manter a calma em todas as circunstâncias. Inteligência emocional.

Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, no livro Celeiro de Bênçãos, diz que, consubstanciando o verbo divino nas atitudes, o cristão novo deve aplicar-se ao indeclinável ministério da ação elevada, atualizando os postulados evangélicos na vivência diária, de tal modo que os cultivadores da insensatez e da perturbação, após os incessantes tormentos que os vergastam, permitam-se à terapêutica salutar de Jesus Cristo, o médico divino de todos nós.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita