Artigos

por Arleir Bellieny

 

Indivíduos e valores


Estamos presenciando momentos tormentosos no terreno sociofamiliar, socioeconômico, sociopolítico, sociorreligioso e, por conseguinte, sociocultural. Os hábitos, costumes e valores aprendidos na formação educacional dos nossos contemporâneos estão deveras sofrendo transformações e deformações. É esperado e até natural que a vida siga seus rumos em todos os campos do saber e do agir, para consigo e para com a sociedade em geral, promovendo assim o que aprendemos a chamar de evolução, tempos modernos, avanço da humanidade etc. Porém, a velocidade em que tudo está sendo colocado à disposição de todos, confesso que assusta a qualquer ser humano que esteja engajado a dar prosseguimento a uma conduta adequada aos costumes aprendidos como sendo o ideal para convivermos com os nossos pares em qualquer parte do país de origem, e por extensão, em qualquer parte do nosso Planeta azul.

Os noticiários que têm como premissa informar a população dos acontecimentos no seu habitat natural transformaram-se em capítulos diários de exposição de crimes, assassinatos, prisões, fugas, acusações, mentiras, perseguições, ostentação de poder, genocídio e todos outros “cídios”, ensinando como lesar o outro no passo a passo dos golpes de toda sorte, espalhando terror por todos os lados, de tal maneira que, ao despertarmos pela manhã, o primeiro pensamento que nos vem à mente é: como será o dia hoje?

Toda essa ebulição reflete, certamente, no nosso comportamento diário. Como agir e como conviver com essa situação real, sem nos deixarmos ser engolidos pela massa humana robotizadas que reforçam essas práticas e atitudes no dia a dia? O que fazer para ajudar as pessoas que nos procuram dentro desse torvelinho de acontecimentos?

Abraham Maslow, um dos pioneiros da Psicologia Transpessoal, cunhou uma frase que gostaria de dividir com o gentil leitor: “O que é necessário para mudar uma pessoa é mudar sua consciência de si mesma.” E como fazer para mudar a consciência de si mesma? Independentemente de onde estivermos, em meio a qualquer situação, só depende de nós a mudança que desejamos e esperamos que os outros façam por nós. Enquanto aguardamos, tudo continua da mesma maneira. Quando promovemos um movimento em direção às mudanças de atitudes, estimulamos energias acompanhadas de pensamentos, sentimentos e emoções, que catalisam outras tantas que, vibrando na mesma sintonia, corporificam a nossa ação causando as alterações que almejamos alcançar.

É nesse contexto que se torna primordial fazermos as escolhas do que queremos de fato atingir. Ao firmarmos os nossos pensamentos na direção do alvo a ser alcançado, mudamos a rota dos nossos caminhos e de quem mais pensar e agir como nós.  Ao acendermos a chama da nossa perseverança, levamos conosco um fluxo de certeza e vontade de prosseguir, que os possíveis obstáculos que surgirem passarão despercebidos diante do desejo de sermos coroados com a chegada aos objetivos que foram previamente estabelecidos.

A diferença se faz na razão direta da seriedade que atribuímos à conquista a ser realizada. Quando nos propomos mudar a nossa história engajados num propósito focado na harmonia, na tolerância, na cumplicidade, no respeito às leis da natureza, na simplicidade de soluções, na alegria de viver, no amor e na visão cósmica ou espiritual do outro como sendo meu igual incondicionalmente, nos tornamos apaixonados pelas belezas da nossa Mãe Terra, e do aprendizado que temos diuturnamente a oportunidade de extrair do cotidiano da nossa cidade, do nosso bairro, do nosso grupo social que fazemos parte.

As mudanças são trabalhosas. Solicitam abandonarmos aquilo que utilizamos por um certo tempo e agora não será mais útil. Descartarmos pensamentos e sentimentos que nos trazem tormentos e lembranças de decisões que foram equivocadas é um passo seguro e lucrativo no rumo certo. Escolhas tóxicas, que ocuparam espaços significativos nas estantes empoeiradas do nosso orgulho e que não mais serão contempladas, deverão ser desqualificadas.

A ressignificação ou reforma íntima tem início quando aceitamos que cometemos nossos equívocos e estamos verdadeiramente dispostos a reconhecê-los e nos perdoar por tudo que porventura cometemos consciente e ou inconscientemente. Essa atitude provoca em nós abertura para o entendimento e compreensão do novo momento que estamos nos preparando para vivenciar.

Necessário se faz o esvaziamento daquelas práticas, e o pertencimento de outras mais adequadas ao presente que estamos construindo sem prazo e nem tempo para terminar. É a vida que estua de dentro para fora, tornando-nos indivíduos únicos na imensidão sem fim. O processo de individuação, segundo Jung, ocorre com o rompimento das tradições culturais ou os costumes, que foram tantas vezes trilhados seguindo propósitos alheios às escolhas pessoais. A educação psicoterapêutica, tendo como foco principal a personalidade, libera os indivíduos das regras coletivas opondo ética e moralidade. Da mesma forma, no ponto de vista psicológico, os indivíduos se comportam com igualdade enquanto são inconscientes de suas diferenças verdadeiras agindo em conformidade com o pensamento das massas (na expressão do poeta Zé Ramalho em Admirável gado novo, “povo marcado, povo feliz”).

Quem ou aquele que se individualiza está assumindo um compromisso consigo mesmo de contribuir com o coletivo, oferecendo novos valores que substituam aqueles que fizeram parte da sua história até então. Seria uma forma de recompensa psíquica e emocional. Gratidão e respeito ao outro por compreender o valor de tornar-se indivíduo consciente dos seus valores, do seu compromisso consigo mesmo e para com a sociedade.

Para reflexão, acrescento esta frase de Carl G. Jung: “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino; a sua visão só vai ficar nítida quando você olhar com o coração. Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.”
 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita