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por Eder Andrade

 

As descobertas científicas e o Espiritismo


O conhecimento científico divulgado pelas classes dominantes desde a antiguidade tinha uma confirmação de veracidade em parceria com a religião, já que os sacerdotes eram os estudiosos e detentores do conhecimento dos fenômenos da Natureza e do Firmamento.

Existiam verdades inquestionáveis, pelo fato delas terem a credibilidade dos governantes, apoiados pela confirmação da religião, que chegavam a afirmar que conheciam e controlavam as Leis do Universo.

Um estudo aprofundado da cultura dos povos antigos, demonstra uma troca de interesses, como ocorria no Antigo Egito e alguns povos da região da Crescente Fértil no Oriente Médio. Os sacerdotes faziam a manutenção da crença da divindade do governante, para em troca os camponeses trabalharem nas obras públicas, assim como fornecer alimentos aos templos.

Era o “Modo de Produção Asiático”, uma forma de governo, onde o monarca era reverenciado como um deus vivo, muito comum nos povos da Antiguidade.

No livro A Caminho da Luz, psicografado por Chico Xavier e ditado pelo Espírito Emmanuel, encontramos o relato de várias civilizações no Oriente, que utilizavam essa prática, assim como no Império Inca e no Império Asteca, também se valiam desse modo de produção, já que era uma forma de garantir mão-de-obra para atender o interesse da classe dominante.

Para libertar o homem de uma antiga cultura, que estabelecia um sistema de classes e a crença na divindade do governante, era necessário que o conhecimento fosse de livre acesso a todos. Isso só começa a acontecer na Baixa Idade Média com o surgimento do Renascimento Cultural e a Expansão Comercial, no sul da Europa e nas rotas das feiras medievais, entre as cidades italianas e os reinos alemães.

O aperfeiçoamento da imprensa com Gutenberg foi um grande passo para o barateamento na produção de livros, panfletos e sua divulgação. Inicialmente o livro mais procurado era a Bíblia, mas o custo do livro não era barato, apesar da modernização e mecanização das gráficas.

Os livros de História Geral procuram nos mostrar que, com o fortalecimento do poder real ou absolutismo, os monarcas com o apoio do clero, numa parceria inevitável entre o poder real e o religioso, faziam a manutenção dos seus interesses. Eles afirmavam que “O direito divino dos reis” defendido por Jean Bodin, teórico político francês, estabelecia que os príncipes soberanos (os reis) eram designados por Deus para governar os outros homens.

Com a expansão marítima e as grandes descobertas científicas e náuticas no século XVI, ocorreram mudanças no cenário cultural de algumas nações, principalmente nos reinos italianos, onde a efervescência cultural remonta o período das cruzadas. Surgem pensadores e pesquisadores que perceberam com o conhecimento já adquirido, que algumas verdades estariam ficando defasadas ou ultrapassadas. Podemos destacar dois italianos e um alemão. Os italianos eram Giordano Bruno, Leonardo da Vinci e o alemão Johannes Kepler.

As formulações científicas e elucubrações desses pensadores, acabaram incomodando a Igreja, já que muitas das suas ideias e teorias iam contra os dogmas sempre defendidos pela Cristandade, como a Teoria Geocêntrica também chamada de Sistema Ptolomaico, elaborada pelo astrônomo grego Ptolomeu no início da Era Cristã e defendida como uma verdade inquestionável pela Cristandade!

As descobertas científicas e os desdobramentos desses acontecimentos na Idade Moderna, já no final do séc. XVI, favoreceram o surgimento de uma Revolução Científica no séc. XVII, que representou: “A união da observação e da experimentação, de maneira a resultar na elaboração de ferramentas capazes de medir, calcular, observar os fenômenos da natureza. Mecanismos para ajudar o homem a melhor entender e enxergar os fenômenos do universo. Como bons exemplos, temos, o astrolábio, as cartas náuticas, a luneta, o telescópio e até microscópio”.

As descobertas científicas ofereceram aos homens a possibilidade de se tornarem independentes da religião e esses acontecimentos vão despertar o interesse de alguns monarcas, onde a família real estava sob a tutela ou como vassalos da Igreja há várias gerações. Seria uma excelente oportunidade para os interesses do Estado serem separados da Cristandade, de forma que o poder religioso não estabelecesse parâmetros para o poder laico.

Com uma visão mais expandida do universo das ideias, pensadores e experimentadores (os primeiros cientistas da época), começaram a fazer uma releitura da realidade e principalmente das verdades “ditas absolutas” compartilhadas com a sociedade pelos governantes e pelo clero. Muitos pensadores defendiam as técnicas do empirismo científico, não aceitando mais pensamentos considerados verdades absolutas, mesmo que defendidos de forma veemente pela Cristandade.

Acontecimento esse que embalado pelos interesses econômicos da expansão atlântica, desviou o foco das disputas científicas para o comércio oriental, cujos lucros interessavam tanto a Igreja quanto ao Estado. As descobertas no Continente Americano e no Extremo Oriente, deram uma trégua que favoreceu aos homens da Ciência.

Essa postura abriu um precedente para muitos espíritos missionários reencarnarem como visionários, influenciados pelo Renascimento Cultural e ao mesmo tempo precursores do Movimento Iluminista ainda embrionário na sociedade científica e cultural europeia.

Acontecimentos que hoje achamos incipientes, tiveram um grande peso na releitura da realidade, assim como na aceitação de novas ideias, conhecimentos que despertaram a curiosidade de diversos homens com a mente mais aberta, dando uma guinada para a grande renovação de pensamento que estava no porvir com os Iluministas e Enciclopedistas na França do século XVIII.

 

Referências:

1 - Kardec, Allan; A Gênese; cap. VI – item: Os sóis e os planetas; FEB.

2 - Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz; cap. IV - A Civilização Egípcia;

cap. XVIII - Os abusos do poder religioso; FEB.

3 - Diversos Autores; Os Cientistas; Abril Cultural; 1972.

4 -Wikipédia (Enciclopédia livre)

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita