Brasil
por Ana Moraes

Ano 16 - N° 786 - 21 de Agosto de 2022

 

 65 anos sem Leopoldo Machado


Amanhã, dia 22 de agosto, registra-se o 65º aniversário da desencarnação de Leopoldo Machado, professor, escritor, poeta, jornalista, compositor, palestrante e grande incentivador das mocidades espíritas e do movimento de unificação do Espiritismo no Brasil, no qual teve atuação decisiva na década de 1940.


Primeiros anos e iniciação espírita

Leopoldo Machado de Souza Barbosa nasceu em 30 de setembro de 1891 em Arraial de Cepa Forte (hoje Jandaíra), Estado da Bahia. Filho de Eulélio de 
Souza Barbosa e Ana Isabel Machado Barbosa, Leopoldo conheceu a Doutrina dos Espíritos em torno de 1915 por meio de José Petitinga.

Em 1927, casou-se com Marília Ferraz de Almeida e, juntos, dois anos depois, mudaram-se para Nova Iguaçu (RJ). Lá, integraram a equipe de trabalhadores do Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, participando ativamente da construção do Albergue Noturno Allan Kardec e do Lar de Jesus.

Junto de sua esposa, em 1930, consagrou-se como educador na cidade, inaugurando o Colégio Leopoldo - hoje, tradicional estabelecimento de ensino - , que contou com a colaboração de sua irmã caçula, Leopoldina Barros (esposa do também professor Newton Gonçalves de Barros), e do Almirante Paim Pamplona, ex-Presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB).


Leopoldo e a Caravana da Fraternidade

Leopoldo participou da organização de diversos eventos, como o I Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado em 1939 sob a coordenação de Deolindo Amorim, e o I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, de 17 a 23 de julho de 1948, tendo sido o idealizador do Congresso Brasileiro de Unificação, realizado na capital paulista de 31 de outubro a 5 de novembro de 1948. No ano seguinte, participou do II Congresso Pan-Americano, realizado no Rio de Janeiro, e também do Pacto Áureo.

A respeito deste importante momento, os escritores Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy relataram no livro Personagens do Espiritismo:


“Percebendo a importância desses encontros, para a grandeza da Doutrina Espírita no futuro, dentro de suas possibilidades, esteve sempre presente ajudando de alguma maneira. Os mesmos Espíritos que inspiravam o Pacto Áureo inspiraram a ‘Caravana da Fraternidade’, na qual tomaram parte Leopoldo Machado, Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Luiz Burgos Filho, cuja Caravana foi o coroamento do Pacto Áureo, o incentivo unificador na formação do Conselho Federativo Nacional, sob os auspícios da Federação Espírita Brasileira. Ao regresso da ‘Caravana da Fraternidade’, o êxito absoluto, com a adesão dos Estados do Norte e Nordeste do País à unificação do Espiritismo em todo o território nacional. Leopoldo realizou, também, a Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, em homenagem ao ‘18 de Abril’, data magna de lançamento de O Livro dos Espíritos, cuja festa tornou-se hábito em todo o Brasil nas comemorações ao ‘Dia do Livro’. Criou o Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas, na sede da antiga Liga Espírita do Distrito Federal.”


Leopoldo e as Semanas Espíritas

Leopoldo Machado foi também um dos grandes incentivadores e participante ativo das Semanas Espíritas, evento que se iniciou em 1939 com a Semana Espírita realizada na cidade de Três Rios (RJ), como lembrou em entrevista publicada nesta revista o saudoso companheiro Antenor de Souza.

Segundo Antenor, em 1944, Leopoldo Machado sugeriu que os espíritas se reunissem e fizessem  uma espécie de Liga Hanseática, que é, salvo engano, algo parecido com as Nações Unidas de hoje, em que cada um defenderia os interesses dos outros. Leopoldo lançou essa proposta juntamente com a ideia de cada cidade assumir o compromisso de realizar uma Semana Espírita por ano. Devido a isso, seis localidades se comprometeram a realizá-las: Cruzeiro (SP), Nova Iguaçu (RJ), Macaé (RJ), Juiz de Fora (MG), Três Rios (RJ) e Barra do Piraí (RJ), que não conseguiu, por motivos diversos, realizá-la, sendo substituída por Astolfo Dutra (MG).

Entusiasta como sempre, Leopoldo fez-se presente mais de uma vez em todas elas e não se limitava às conferências, porque sempre deu também grande importância à chamada parte artística, aos números musicais e ao teatro, para o qual escrevera várias peças.

A respeito do assunto, Antenor de Souza conta-nos, na entrevista a que nos referimos, o seguinte e curioso episódio:

“Em Juiz de Fora, Leopoldo Machado tinha preparado uma peça para o encerramento da Semana. Os atores eram os próprios participantes do encontro. Laís, que hoje mora em Brasília (DF), tinha ensaiado um papel importante na peça. Quando chegou o dia da apresentação, minutos antes do horário marcado, eu estava com o Leopoldo quando o telefone tocou: ‘Antenor, o professor está aí?’ Respondi: ‘Está’. ‘Então, por favor, chame-o, que eu quero falar com ele.’ Leopoldo pegou o telefone e ouviu: ‘Professor, a Lalá está batendo os pés aqui, espumando pela boca e dizendo que não vai de maneira alguma à reunião de hoje, porque ela não tem nada com esse programa de hoje, que ela não quer mais mexer com isso...’ Leopoldo lhe pediu: ‘Passe o telefone para ela’. Em seguida, ele disse: ‘Laís? Eu quero falar é com você, seu intruso, saia daí. Terça-feira nós conversaremos. Agora deixe a Laís em paz, que vamos continuar com nosso trabalho’. (N.R.: Leopoldo se dirigiu diretamente ao Espírito que atormentava Laís, como se percebe por suas palavras.) O Espírito era um ex-padre (soubemos na reunião de terça-feira, em que estivemos) que estava desesperado por causa do apogeu do Espiritismo, por causa daquela fraternidade passando pela Igreja de São Mateus, aquele monte de gente andando de braços dados, andando de um lado pro outro, ali perto...” (Para ler na íntegra a entrevista, clique aqui)


Obras e desencarnação

As novas gerações receberam as generosas contribuições dele, que incentivou a criação das Mocidades Espíritas e das Escolas Espíritas de Evangelização para Infância, impulsionando, ainda, a organização de eventos espíritas em todo o país. Percorrendo todo o Brasil, exaltou o Evangelho de Jesus e a Doutrina dos Espíritos, como sendo a volta do Cristianismo redivivo, no seu sentido mais puro, como era pregado na Casa do Caminho, logo após o sacrifício de Jesus.

De sua bibliografia constam os seguintes livros: “Meus últimos Versos”, “Saudades”; “Ideias e Iluminação”; “Prosa de Caliban”; “Consciência”; “Doutrina Inglória”, “Julga, Leitor, por ti mesmo”, “Sensacional Polêmica”, “Pigmeus contra Gigantes” e “Guerra ao Farisaísmo”; “Para o Alto”, “Natal dos Cristãos Novos”, “Graças sobre Graças”, “Caravana da Fraternidade” e “Ide e Pregai”; “Teatro Espiritualista” (1ª e 2ª séries); “Teatro da Mocidade”; “Uma Grande Vida” e “Caxias, eminente iguaçuano” (biografias); “Cientismo e Espiritismo”; “Cruzada de Espiritismo de Vivos” e “Observações e Sugestões”; “O Espiritismo é Obra de Educação”; “Das responsabilidades maiores dos Espíritas no Brasil”; “Para a Frente e para o Alto”; “Nada lhe é no momento maior”, e “Brasil berço da Humanidade”.

Leopoldo é, também, autor da "Canção da Alegria Cristã", de parceria com Oli de Castro, e compôs inúmeras outras melodias para a mocidade e a evangelização infantojuvenil. (Para ouvir o belo hino de Oli de Castro e Leopoldo Machado, clique aqui)
Leopoldo Machado desencarnou em Nova Iguaçu (RJ) no dia 22 de agosto de 1957, deixando um grande legado para o movimento espírita e também para a cultura.

 


  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita