Enfermidades e tratamento espiritual 

“As moléstias dificilmente curáveis, como a tuberculose, a lepra, a cegueira, a paralisia, a loucura, o câncer, são escoadouros das imperfeições.” ¹

Jesus não veio para curar corpos, mas Espíritos.

No tratamento espiritual, buscamos curas de doenças físicas e espirituais.

Aos apóstolos, Deus lhes dera o dom de curar. “Esse dom lhes havia sido dado gratuitamente (...), para alívio dos que sofrem e para ajudar na propagação da fé.” ²

Cegos e leprosos curados (...) voltaram mais tarde a enfermar; e morreram.

Contudo, ainda hoje, a maioria das pessoas prioriza a cura do corpo, desatenta às lições do Evangelho – remédio real, definitivo, do qual somos todos necessitados.

“Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda cousa pior.” - (Jo 5:14). Nessa afirmativa, Jesus nos diz que a enfermidade resulta da transgressão das Leis de Deus (pecado).

*

Ao nos revelar a existência do corpo espiritual – denominado perispírito, por Allan Kardec –, Mentores Espirituais afirmaram, na questão 135 de O Livro dos Espíritos, que ele é “(...) o laço que liga a alma ao corpo”. ³

É a matriz de nosso corpo de carne; e registra nossos pensamentos, emoções e ações, ao longo dos tempos...

Tal como a febre corporal indica infecção no organismo físico, doenças espirituais revelam-nos que o Espírito que somos está enfermo, por violações às Leis divinas.

“Bem-aventurados os aflitos”, diz Jesus, eis que as enfermidades limpam o perispírito. O corpo ‘sofre’ e o Espírito liberta-se da “mancha” que nele trazia, se resignado, paciente, aceita os desígnios dos céus.

Emmanuel, Espírito, informa-nos:

“A hepatite, a indigestão, a gastralgia, o resfriado, são excelentes avisos contra o abuso e a indiferença. Por que preferes bebidas excitantes, quando sabes que a água é a boa companheira, que lava os piores detritos humanos? Por que o excesso dos frios no verão e a demasia de calor nos tempos do inverno? Acaso ignoras que o equilíbrio é filho da sobriedade? O próprio irracional tem uma lição de simples impulso, satisfazendo-se com a sombra das árvores na secura do estio e com a bênção do sol nas manhãs hibernais”. ⁴

E noutra parte:

“96. – Toda moléstia do corpo tem ascendentes espirituais?

– As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. (...)

E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos.

A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos.

O remédio eficaz está na ação do próprio espírito enfermiço.

(...) A reencarnação, em si mesma, nas circunstâncias do mundo envelhecido nos abusos, já representa uma estação de tratamento e de cura e que há enfermidades d’alma, tão persistentes, que podem reclamar várias estações sucessivas, com a mesma intensidade nos processos regeneradores”.

“97. Se as enfermidades são de origem espiritual, é justa a aplicação dos medicamentos humanos, a cirurgia, etc., etc.?

– O homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico. (...) tratará da saúde do corpo, até que aprenda a preservá-lo e defendê-lo, conservando a preciosa saúde de sua alma. (...)” ⁵

Convida-nos Jesus, generosamente:

“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28). (Destacamos).

Não nos promete cura, mas alívio! E isto se dá porque a dor (moral ou física) é o tratamento a nós aplicado para nos conduzir à purificação espiritual. Vamos a Ele quando aviamos suas receitas. Não basta buscar religiões, mas, sim, exercitar religiosidade, em todos os momentos, não apenas nos templos!

A cura efetivamente se realiza quando nos transformamos interiormente e eliminamos em nós as causas do mal. Podemos, pois, acelerar, ou não, esse processo!

Deus não castiga. Ele educa.

Conduz-nos a múltiplas experiências, através das reencarnações; leva-nos ao amadurecimento e à transformação interior. Só então, preparados para suportar a expiação de erros milenares, submete-nos às provas reparadoras.

*

O tratamento espiritual, nas Casas Espíritas, compreende três fases, de aplicações simultâneas (*):

a - Tratamento imediato, na condição de assistidos:

a.1 - Passe;

         a.2 - Água fluidificada; e

         a.3 - Desobsessão (assistência espiritual).

b - Estudo sistematizado da Doutrina Espírita (conscientização);

c - Trabalho (espiritual e material). A ação no bem favorece a reforma íntima e nos torna cooperadores na “vinha do Senhor”.

a.1 - O passe atua no perispírito.

“O passe não é unicamente transfusão de energias anímicas. É o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos.

(...) cultivemos o passe, no veículo da oração, com o respeito que se deve a um dos mais legítimos complementos da terapêutica usual.

(...) o Evangelho apresenta Jesus, ao pé dos sofredores, impondo as mãos.” ⁶

b.2 – Quanto à água fluidificada:

“(...) quando Jesus se referiu à bênção do copo de água fria, em seu nome, não apenas se reportava à compaixão rotineira que sacia a sede comum. Detinha-se o Mestre no exame de valores espirituais mais profundos.

A água é dos corpos mais simples e receptivos da Terra. É como que a base pura, em que a medicação do Céu pode ser impressa, através de recursos substanciais de assistência ao corpo e à alma, embora em processo invisível aos olhos mortais.

(...)

A fonte que procede do coração da Terra e a rogativa que flui do imo d’alma, quando se unem na difusão do bem, operam milagres”.  ⁷

b.3 – A desobsessão visa esclarecer Espíritos vingativos e à reconciliação de adversários.

O estudo da Doutrina Espírita conscientiza-nos de nossas responsabilidades espirituais:

– Prepara-nos para viver melhor neste e no outro plano;

– Educa-nos para usarmos a liberdade com equilíbrio;

– Ensina-nos a coragem e a resignação ante as dores morais;

– Explica-nos com clareza os conflitos humanos, familiares e sociais, à luz da reencarnação;

Estimula-nos ao trabalho para contribuir na edificação de mundo mais justo e humano.

Seu fim último é reviver o Cristianismo primitivo e a promoção do ser humano.

Ela é transformadora, pois não alimenta o comodismo tradicional.

Não devemos nos limitar à recepção de passes, mas estudar, fugindo ao menor esforço, corrigindo vícios e adquirindo virtudes.

A evangelização e a observância das Leis Divinas levar-nos-ão à felicidade plena, à saúde física e espiritual.

Nossa cura real dar-se-á gradualmente, à medida que nos evangelizarmos e vivermos essas preciosas lições!

"Não nos consta que o Mestre estivesse algum dia de cama (...)." ¹

(*) Síntese do artigo “O que esperar do Centro Espírita”, de Aylton Paiva – do Jornal ‘Mundo Espírita, dez/97.

Referências:

1.  XAVIER, F. Cândido. Coletânea do Além. Espíritos Diversos. 5. ed. São Paulo: LAKE. p. 127.

2. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2010, p. 447.

3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. Reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2.011, p. 149.

4. XAVIER, F. Cândido. Coletânea do Além. Espíritos Diversos. 5. ed. São Paulo: LAKE. p. 126.

5. XAVIER, F. Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. FEB: Rio de Janeiro, 1977. q. 96 e 97.

6. XAVIER, F. Cândido e VIEIRA, Waldo. Opinião Espírita. Pelo Espírito André Luiz. 4. ed. CEC: Uberaba, 1973. Cap. 55, p. 180/181.

7. XAVIER, F. Cândido. Segue-me. Pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. CASA EDITORA O CLARIM: Matão, 1987. p. 131.