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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 451 - 7 de Fevereiro de 2016

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 



Tolerância é uma palavra feia


Tolerância é uma palavra feia... Lembra algo do tipo “aceito porque não tem jeito, né”. Prefiro a palavra respeito, que lembra convivência pacífica e compreensão da pluralidade, como é a nossa sociedade, de pessoas, povos e ideias diferentes. Basta olharmos o mundo e a história dos homens encarnados e veremos isso.  Jesus, em sua mensagem, pregava o amor, o sentimento mais universalizante possível, pois é acessível a todos em todas as eras, sem segregações.

De forma depressiva termina o mês de janeiro de 2016, em pleno Século XXI, com o homem pensando em colonizar Marte, pois presenciamos no Jornal o incêndio com indícios criminosos em mais uma Casa espírita, agora em uma área carente de Sobradinho, na Capital federal. Não se trata de fato isolado, com reportes de ocorrências recentes, envolvendo espíritas e nossos irmãos de cultos afro-brasileiros, relembrando os tempos pouco democráticos na história de nosso país, na qual espíritas tinham suas reuniões monitoradas e eram fichados na polícia. Pergunto a mim mesmo se alguém acha que numericamente ou ideologicamente pertencemos, como espíritas, a alguma crença hegemônica?

Kardec foi um contestador de paradigmas vigentes!

Não alimentemos essa doce ilusão. Da caixinha que sai essa chamada intolerância religiosa, brotam as agressões de cunho racial, a violência por conta de orientação sexual, os linchamentos, a invisibilidade dos deficientes, os preconceitos de classe social, as piadas de aparência, o antissemitismo e toda sorte de manifestações que nos afastam do sentimento humanista e de fraternidade universal, que anda ladeado com a ideia de pluralidade e respeito. Mais que tolerar, respeitar é um ato de amor.

Para entender esse cenário, precisamos mergulhar no pandemônio em que nos vemos inseridos atualmente. Vivemos em um período recente de pluralização do acesso a informação e mais, dos produtores de conteúdo, em um mundo que viveu algumas décadas de relativa estabilidade e de acréscimo de consumo às vidas cotidianas, após as tensões de conflitos e da guerra fria. No início de 2010, com acenos de crises mundiais e arranjos geopolíticos, o mundo começou a se agitar de novo, como épocas que havíamos esquecido.

Essa agitação, seguida de um clima de liberdade no chamado pós-modernismo, no qual crenças e hábitos são rapidamente desconstituídos, em um mundo que se torna irreconhecível em menos de uma geração, gerou nas pessoas o medo, um pai zeloso do ódio. Surgem agitações, ao som de pandeiros, na busca por direitos, na contestação frente a dificuldades e problemas, como é habitual da vida política, e toda essa agitação movimenta energias, de cá e de lá, causando choques, bandeiras e manipulação, em jogos de manutenção de poder, de luta por mudanças, apimentados pela falta de confiança no homem, santo de pé de barro que vê seu lado pior mostrado nos shows dos telejornais.

Nesse contexto de medo e de desconfiança, emergem da carteira das soluções imediatas movimentos ligados à chamada pauta conservadora, na qual essa profusão anterior de mudanças e quebra de paradigmas é vista como ofensa à ordem estabelecida, personificando grupos e pessoas como causa de nossas mazelas, de um mundo que adolesce e não se entende em conflito. Daí materializam-se cenas de ódio e agressão no cotidiano, temperados pela facilidade das chamadas redes sociais, em ações orquestradas e conexas, ainda que oriundas de diferentes agentes.

Confundimos meritocracia com falta de compaixão, justiça com ódio, diferenças com ofensa, colhendo as fraturas da globalização que foi mais econômica do que cultural. Com isso abrem-se caixas de pandora, que espalham a loucura em nossas manchetes, com a paranoia e a síndrome de perseguição alimentando relações desumanizadas, em explosões de ódio, tiros e surras.

Por isso, não nos espantemos com a agressão a grupos de religiões minoritárias como a nossa. Não fiquemos estarrecidos por esse sentimento antipan-religioso que domina as pessoas, pois dentro desse contexto é plenamente explicável o que está acontecendo. É tudo uma decorrência de uma grande agitação, desse grande pandemônio, que não se restringe ao Brasil e que vem sendo gestado por força das nossas imperfeições e de interesses de toda natureza.

O falso moralismo, a hipocrisia, a forma sobre o conteúdo, o burocratismo, a opressão, a busca do discurso em relação à ação, apresentam-se todos esses como porto seguro diante deste mundo em mudança acentuada e visível. Buscamos um inimigo, um lúcifer para descarregar nossas mazelas de espírito encarnado, como um narciso cego, que se admira e se oculta e que rechaça tudo aquilo que é diferente ou que não entende.

Diante dessa agitação, dessas guerras santas, vale relembrar a lição evangélica da outra face e do amor que cobre a multidão de pecados. Insta a nós espíritas não jogarmos mais querosene nesse incêndio, personificando situações na multiplicação do ódio. Para curar o ódio, só o amor e seus irmãos, o respeito e a compreensão.

Nós nos pautamos por um pedagogo que teve seus livros queimados e por um crucificado, e como espíritas já fomos xingados, objeto de piadas e somente em tempos recentes passamos a ser vistos com outros olhos nas falas, figurando em telenovelas com destaque. Não caiamos nas balelas de coisas sagradas ou povos eleitos, pois, como disse Léon Denis, o Espiritismo será a religião do futuro ou o futuro das religiões, ou seja, influenciaremos positivamente a religião e para isso não precisamos entrar em disputas por espaços políticos ou na sanha de obter adeptos pelo proselitismo.

Esse frenesi deve ser olhado por espíritas como espíritas, com a nossa fé raciocinada, percebendo que postura nos é demandada nesse momento. Queremos o incentivo à intolerância ou o cultivo, de forma integral em nossa vida, ao respeito? A religião, na sua prática atual, necessita dar as mãos ao humanismo.

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita