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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 447 - 10 de Janeiro de 2016

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

 


A solução fora do quadrado (2)


Por semelhanças óbvias com o repertório evolutivo de meu mentor desencarnado, autor de nossos romances mediúnicos, que reencarnou, no contexto de várias vidas, na Itália, e, em muitas dessas, como militar, sempre possuí um fraco pela antiguidade romana e, em decorrência, por filmes que ilustram aquele período histórico, como no caso de Gladiador.

Uma das cenas mais significativas da trama, que conta a história de um general romano vitorioso em várias campanhas, caindo depois na infelicidade de desagradar justo ao príncipe herdeiro do trono do Imperador Marco Aurélio, mostra o fim de uma batalha contra os germânicos. E, nela, o Imperador pergunta ao general o que ele quer como recompensa pelo brilhantismo com que vencera mais aquele combate liderando as tropas; ao que o militar – avesso a todo viés político melífluo, próprio daqueles, e de todos os tempos – responde, com certo ar de cansaço:

“– Deixe-me ir para casa?...”

Ao que Marco Aurélio, com certa puerilidade no semblante sábio, devolve, pensativo:

“– Ah!... Casa...”

O general em questão era um personagem simples de alma, não obstante a bravura e liderança nata nos campos de batalha. Possuía esposa e filho. Não ambicionava nada além de poder retornar à tranquilidade de suas colheitas de trigo e à vida rural pacata, após todos aqueles extensos anos mergulhado em selvageria e carnificina.

Assim, ao longo dos anos em que vi e revi este filme recordista de bilheteria e de prêmios, nunca pude deixar de estabelecer o paralelo entre a mensagem secular transmitida por esta única cena com o que temos ainda hoje, vicejando no espírito humano dos dias atuais. A incapacidade da retomada da simplicidade da vida, nos maiores quanto menores detalhes. Porque o consumismo desenfreado, a competitividade selvagem que grassa em todos os setores de atividade, dentre outras turbulências de nossos tempos, roubaram da percepção comum a noção dos valores verdadeiros: aqueles capazes de reconduzir, de fato, os seres ao reconhecimento de um estado de felicidade real, que prescinde dessas coisas.

Como fez o general Maximus, que não ambicionava nenhuma das ofertas tentadoras decorrentes da vida militar e política bem-sucedida de então, dando-se por feliz com a perspectiva da volta aos prazeres simples da sua vida em família, era de se perguntar, hoje em dia, aonde vem nos conduzindo nossa fome voraz por mais!

Ter mais ou/e melhor disso ou daquilo. Atingir esta ou aquela posição ascendente na escalada profissional, a fim de se ganhar mais para, mais do que a garantia do sustento de vida, já oneroso, ainda se poder esbanjar para possuir e adquirir mais!

Mais e mais diversificados lazeres. Ser mais ou melhor do que fulano e sicrano. Vencer na disputa profissional, aqui ou ali. Ganhar mais; ter mais; ser mais do que, ou do que ele, ou ela, é!...

Mais belo; mais rico; mais capaz; mais inteligente; melhor posicionado social ou profissionalmente; morar melhor; ter mais daquilo, ou do que ele ou ela tem...

E nessa escalada insana, a cada dia mais cai na obscuridade tudo a que de fato se deveria dar relevância para uma vida social e humana saudável: os valores intrínsecos e inimitáveis, inatos, existentes em cada um de nós, tendo em conta que nenhum ser no universo é clonado; o que já existe, como fatores prévios, e hoje quase totalmente ignorados, para uma autêntica bem-aventurança e estado de alegria.

Ouço muito a respeito do ser imperioso se saber viver em consonância com as exigências de nossos tempos, e que de nada adianta se sublimar sobre isso. Sobre o ser contraproducente romantizar os dias de hoje, em regime de anacronismo, invocando fatores fora do contexto contemporâneo, que em nada contribuiriam para a conquista do tão propalado mundo melhor. E, então, em nome da modernidade, tome consumo! Tome pressão sobre nossos filhos, acerca da necessidade, sempre “para ontem”, de se atirarem desesperadamente aos estudos e ao mercado de trabalho, já que a competitividade está imensa, os países e mercados de trabalho em crise!

A informática transmuta-se, neste ínterim, e simultaneamente, em instrumento imprescindível de auxílio, mas também de tortura, na medida em que rouba em grande parte das pessoas a imprescindível convivência olho no olho, lado a lado – e assim esvaem-se, como névoas, os bons hábitos dos bate-papos entre amigos, diante de uma mesa posta com o aromático café, ou em parques e nas praças. Famílias, desde os primeiros minutos dos dias úteis, desaparecem vertiginosamente, rumo às obrigações cotidianas, para se reencontrarem à noite esvaídos de cansaço, e, não raro, magnetizados de imediato pelas telinhas alienantes das tvs e computadores, que anestesiam as mentes exauridas, mas não oferecem o calor humano tão necessário à saúde espiritual.

Tempos atrás, meu filho mais velho renteava os dezoito anos, e requisitava-se a obrigação cívica do seu comparecimento ao alistamento militar. Não serei hipócrita para mentir que não me senti aliviada quando cumpriu-se minha expectativa de vê-lo isentado do fardo, já que, rapazinho intelectualizado, tímido, e, na época, consumido pela ansiedade crônica do vestibular e do fim do nível médio, nunca havia feito, nem fará o perfil ogro ou assertivo, que dota o homem do dom das lideranças ou dos patamares hierárquicos das casernas. Mesmo sob os argumentos ocasionais de conhecidos ou parentes, que alegaram ser necessário este estágio na formação da vida de um homem, para auxiliá-lo a criar couraça diante das adversidades.

Mas não é do desconhecimento de ninguém o que vige na intimidade diária das práticas da vida militar. Recordo-me daqueles outros pais e mães, que, junto comigo, aguardavam ansiosos o desfecho do alistamento dos rapazes, a quem acompanhavam. Um deles apontara-me, ao acaso, um jovem a distância, fardado, com espécie de estranha “mossa” na parte lateral da cabeça, como se houvesse tomado uma violenta bolada, que lhe afundara o crânio naquela região afetada pelo aspecto lúgubre de um hematoma. Mas não fora “bolada” – contara-me a pessoa em questão, revoltada. O rapaz cometera um tipo qualquer de insubordinação banal no quartel, e tomara um tiro de bala de borracha na cabeça. Fora aquela, a punição recebida pelo comportamento irregular! E foi deste modo, portanto, que confirmei como mais válida a minha convicção, amigos leitores, de que a humanidade não é formada de clones! De que cada ser existente na Criação é joia valiosa em sua manifestação exclusiva de valores – em razão do que, afunda o mundo atual nos horrores das guerras, da intolerância, dos preconceitos e banalização do valor intrínseco da vida, por força da teimosia secular em se querer confinar o indivíduo nos “moldes” pré-estabelecidos, que atendam não às vocações inatas ou à ânsia genuína de felicidade e bem-estar de todos – mas aos objetivos superficiais e transitórios da hora que passa, que requerem uma massa de manobra bem treinada para atender aos propósitos por vezes inclementes das engrenagens frias dos investimentos de interesses de categorias, classes, lóbis e instituições políticas e sociais.

A solução, no entanto, caros, pode estar fora do quadrado!

Assim como meu filho mais velho jamais seria vocacionado para aspirante a uma carreira militar que pauta seu treinamento de disciplina por tiros de balas de borracha em jovens insubordinados por este ou por aquele motivo, o general Maximus, em Gladiador, queria ser recompensado, simplesmente, com a autorização de ir para casa – de volta para os seus campos cultivados e sua família, após o exercício do dever profissional bem cumprido.

Naquele outro contexto, deste modo, tenho certeza de que meu filho possui seu talento próprio, e pode criar couraça por outras vias, que não as regras opressoras muitas vezes recorrentes nas casernas militares. Pois outras tantas contingências semelhantes já surgem naturalmente, na passagem rápida das horas, e são por si suficientes para conduzir qualquer ser humano a cobrar valor, por intermédio das lições oportunas do decorrer do tempo.

A humanidade anda necessitada, e isso sim, de mais campos verdejantes; de mais conversas jogadas fora nas casas, parques, varandas e apartamentos, sobre abobrinhas e piadas. De menos tensão e preocupação obsessiva com datas comerciais implacáveis que nos impõe quase semanalmente o consumo; com contas a pagar, obrigações múltiplas, competitividade, com poder temporal e ter... Porque não há nada que proporcione maior bem-estar espiritual do que se parar, com a mente vazia, para contemplar um pôr do sol de primavera, uma árvore florida, ou o ir e vir do mar. Nada mais saudável do que se ouvir uma música alegre, ou serena, ao sabor do momento; do que o abraço sincero de um amigo, ou o silêncio cúmplice de alguém que lhe diz um “eu te compreendo”, num momento de dor...

Afinal, pensem: nada é mais reconfortante do que aqueles, hoje em dia, raros momentos em noites de tempestade. Com o ruído da chuva lá fora em meio à ventania – quando a energia elétrica, eventualmente, vai embora, para só voltar no dia seguinte, ou várias horas depois – obrigando a que nos descubramos de novo; nos olhemos nos olhos uns dos outros, nos interiores das florestas infindáveis de prédios urbanos, para que nesses instantes – quem sabe? – retomemos, nem que apenas temporariamente, o antigo hábito de se contar as estórias de mistério que costumavam enfeitar as mentes das crianças com encanto e magia.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita