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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 443 - 6 de Dezembro de 2015

RICARDO BAESSO DE OLIVEIRA 
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)

 

 

Vivendo mentalmente
no paleolítico


O Paleolítico é um período de nossa pré-história que antecede as construções de cidades, o cultivo de plantas para a alimentação e a domesticação dos animais. Vivíamos em bandos nômades constituídos de algumas dezenas de pessoas, como caçadores-coletores. O nosso grupo representava a nossa defesa contra animais predadores e outras tribos que se digladiavam por espaço, água, alimento e proteção. Era natural que vivêssemos armados uns contra os outros – tribos contra tribos. Tratava-se de uma questão de sobrevivência.

Muitos de nós cristalizamos em nossa maneira de ser e de pensar uma reação psicológica construída nesse distante período, e vivemos mentalmente armados contra o diferente, a outra tribo, uma espécie de tribalismo no qual as pessoas são neuroticamente leais a sua turma, a seu país, a sua etnia, a sua orientação sexual ou qualquer outro grupo social. Sob certo aspecto, o tribalismo alimenta a intolerância ante o diferente e todas as lamentáveis ocorrências derivadas dela: o racismo, o sexismo, a homofobia, a discriminação social, o preconceito relacionado à aparência física ou o jeito de vestir-se etc. Não nos apercebemos de que as diferenças existentes entre nós são a riqueza da humanidade, pois permitem a filosofia do diálogo. Se todos fôssemos iguais, onde o caldo de cultura que permite o desenvolvimento de nossas potencialidades?

A intolerância é grave problema social e precisamos examiná-la seriamente. Conversando, recentemente, com uma companheira do movimento espírita, contou-me ela o seguinte episódio: Foi convocada por um diretor de uma grande empresa de Juiz de Fora, onde ela desenvolve atividades profissionais nos recursos humanos, a selecionar, através de entrevista, um profissional para a função de jornalista. Dezenas de candidatos se apresentaram. Momento antes de iniciar a seleção, foi convocada à sala do presidente da empresa e ouviu dele a seguinte recomendação: “rapazes cabeludos ou com tatuagem e moças de piercing ou chinelinho de dedos elimine de cara”.

A expressão elimine de cara é cruel, pois significa o mesmo que não ouça, não deixe que ele se mostre, não permita que ele demonstre seu talento, julgue unicamente pela aparência, revelando uma lamentável atitude excludente. Estudos têm demonstrado que mulheres de boa aparência se dão muito melhor na carreira profissional que as outras e homens altos conseguem progressão nas empresas muito mais rapidamente que os de baixa estatura.

Até que ponto nós temos nos preocupado com o que o outro é na sua expressão profunda, sua competência, sua humanidade, suas virtudes? Até quando vamos permitir que pessoas sejam excluídas pela cor, pela idade, pela religião ou pela aparência?

Atendia certa feita, no consultório, quando entrou uma jovem portadora de grave obesidade mórbida. Ao entrar em minha sala, notei em seus olhos semblante de alívio, que ela justificou: “graças a Deus vou poder sentar em sua sala. Eu não caibo em cadeiras com proteção lateral. Por isso deixei de ir aos cinemas e tenho que permanecer de pé em muitos locais aonde vou”.

Minha esposa, que teve recusada sua pretensão a uma vaga como educadora em uma escola tradicional de nossa cidade, ouviu da responsável pela instituição a seguinte justificativa: “seu problema é que você não é simplesmente espírita, você é uma evangelizadora espírita. E, além disso, seu esposo é expositor espírita. Você entende como são essas coisas”.

Mantêm-se graves em nosso país problemas como a homofobia e a discriminação social e étnica. Um homossexual é morto por dia no Brasil em virtude da intolerância e 70% dos homoafetivos confessam que foram vítimas de situações constrangedoras, agressões físicas ou psíquicas. Rapazes e moças ainda são excluídos pela própria família por questões sexuais.

Matéria recente publicada no noticiário da UOL revela: homicídios de negras aumentam quase 20% e de brancas caem 12%. Segundo o artigo, entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2015, produzido pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais).

Para o coordenador do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, a discrepância entre as mortes de mulheres negras e brancas é resultado de pelo menos três fatores: terceirização da Segurança Pública, politização da temática da segurança e o racismo. “Na prática, a população branca tem mais recursos para pagar por uma segurança extra. Isso acontece nas lojas, nos shoppings para onde esse público vai. Na realidade, a população branca acaba tendo acesso a duas formas de segurança: a do Estado e a privada", explica Jacobo.

O pesquisador diz ainda que a segurança pública virou um tema muito caro aos políticos e que isso influencia a tomada de decisões dos gestores. "Quando uma empresária branca morre em um bairro nobre, a consequência imediata é que mais policiais são deslocados para aquela área como uma forma de atender ao clamor da opinião pública. O mesmo não acontece quando uma mulher negra é morta em uma favela. Essa politização da segurança gera distorções", afirmou.

Para Jacobo, o racismo é o terceiro elemento que ajuda a explicar a diferença entre os índices de homicídios contra mulheres negras e brancas. “No Brasil, nem há tanta cordialidade e nem há a tal democracia racial que se prega. Há um coquetel onde o negro e a negra são mais visados no quesito violência. Isso se observa não apenas com relação às mulheres. Em geral, a população negra é mais afetada pela violência e isso, claro, vai atingir as mulheres.”

O Espiritismo tem muito a contribuir na dissolução de posturas tão lamentáveis. Uma doutrina universalista por natureza nos convoca a um grande movimento pela tolerância. Busquemos, em nossas relações, demonstrar o espírito de fraternidade que nos deve unir, consonante com o pensamento dos Espíritos superiores apresentado por Kardec no item 799 de O Livro dos Espíritos:

“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele [o Espiritismo] faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos”.

 
 

 


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