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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 442 - 29 de Novembro de 2015

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Curitiba, PR (Brasil)

 

 

Caridade: uma espécie de bem


Talvez cause estranheza a muitos a afirmação que a Caridade é apenas uma espécie do Bem. Acostumamo-nos a pensar nela como qualquer bem realizado. Sem nenhuma distinção adicional. Uma leitura atenta das obras básicas, no entanto, nos demonstra o contrário.

Como, então, podemos definir a Caridade? O que efetivamente a caracteriza? Vejamos o seguinte: não podemos negar que muitas ações realizadas pelas pessoas, nas suas interações com o mundo físico e social, têm como consequência um bem, seja para outrem, seja para si mesmas. Todavia, podemos daí afirmar que todas as espécies de bem são Caridade? Se não, qual será a diferença? Para explicar melhor daremos dois exemplos simples:

(1) Digamos que um estudante universitário que passa por problemas financeiros ao observar as dificuldades de aprendizado de um colega de aula que tem uma irmã muito bonita e desimpedida para relacionamentos afetivos, resolva ajudá-lo, dando-lhe lições sobre o conteúdo que o colega desconhece, mas para isso nada cobra dele; ensina tudo o que sabe pela pura satisfação de ver o colega aprender o conteúdo e ser aprovado.

Digamos agora que: (2) outro estudante universitário que enfrenta os mesmos problemas financeiros, vendo as dificuldades de aprendizado do colega, resolva ajudá-lo, e também nada cobre, mas lhe ensina somente com o objetivo de angariar a sua amizade para poder aproximar-se da irmã dele para conquistá-la.

Nestes exemplos observamos uma semelhança e duas diferenças. Em ambos os exemplos o resultado final foi um bem: o universitário em dificuldades recebeu as lições que necessitava. Quanto às diferenças vemos que, no exemplo 1, o estudante realiza a sua ação benéfica sem buscar vantagens para si; seu único objetivo é ver o colega ser aprovado. Já no exemplo 2, o universitário também realiza uma ação benéfica, mas o sentimento que o move não é o de ver o colega ser aprovado; o que ele deseja é simplesmente usá-lo como meio para aproximar-se de sua bela irmã. O elemento de diferenciação entre ambos é que o primeiro produz um bem com desinteresse pessoal, enquanto o segundo também produz um bem, mas com interesse pessoal. O segundo elemento de diferenciação é a intencionalidade. No exemplo 1 o universitário quer produzir um bem para outro, enquanto no exemplo 2, o universitário quer produzir um bem para si mesmo, usando o colega apenas como um instrumento para atingir os seus objetivos. Temos assim suas finalidades essencialmente diferentes. No exemplo 1 a ação é autotélica, isto é, a intenção do agente é produzir um bem para outrem; a finalidade é o bem pelo próprio bem. No exemplo 2, a ação é heterotélica, ou seja, a intenção é produzir um bem apenas como meio para a obtenção de outra finalidade.

Para definir a Caridade usemos a lógica formal. Esta ensina que a espécie é definida pelo gênero e pela diferença específica. Por exemplo, sabemos que o Homem é um animal racional. A animalidade é o gênero, e a capacidade de pensar, a racionalidade, é a diferença específica, ou seja, algo que existe somente nele e não nos outros animais. No caso da Caridade, e pelos exemplos apresentados, notamos que o gênero é o Bem e a diferença específica é o “desinteresse pessoal”. Nossa definição, então, é a seguinte: Caridade é a operação desinteressada cujo fim é o bem de outrem.

O que está inerente a estas duas posições quanto à finalidade é o sentido que se dá à intenção. É por este motivo que tanto os Espíritos da codificação quanto o próprio Kardec colocam o desinteresse pessoal como elemento central da Caridade. Assim, a Caridade é ação cuja finalidade é o Bem, mas realiza este Bem sem buscar primeiramente o bem do agente, daquele que a realiza. Em outras palavras, o agente não quer obter nenhuma vantagem para si mesmo, em primeiro lugar dessa ação. 

Convém, agora, esclarecer o significado de interesse e desinteresse para que formemos um entendimento mais completo da questão da Caridade. O interesse ou desinteresse implicam a intencionalidade, isto é, a intenção dirigida para algo. 

Os dicionários vulgarmente definem interesse como a vantagem, utilidade ou o proveito que alguém obtém de algo, para si mesmo; pode ser um ganho qualquer, favores, dinheiro, rendas, promoção pessoal, apreciação pública, uma função ou um cargo, uma melhor posição social ou profissional, ou como uma relação de reciprocidade entre um indivíduo e um objeto que corresponde a uma determinada necessidade daquele. Interessado é aquele que tem interesse em alguma coisa. O desinteresse, portanto, é o contrário do interesse, ou seja, no desinteresse não se busca alcançar nenhuma vantagem, utilidade ou proveito pessoal. É necessário, no entanto, não confundir o desinteresse com a indiferença, pois são coisas absolutamente distintas. Assim, a pessoa desinteressada é aquela que age sem a intenção de obter qualquer vantagem para si mesma, mas, sim, busca o Bem para outrem; significa dizer que é uma ação autotélica.

Na acepção filosófica, a ação desinteressada é aquela que tem por finalidade a produção do bem pelo próprio bem. A pessoa desinteressada será, então, aquela que produz o bem para obter como resultado, como finalidade, o bem, não para si mesma, mas para outrem. O interesse é, por sua vez, algo que tem um fim fora de si mesmo. Isto quer dizer que o bem é apenas um meio para outra finalidade, para obter isto ou aquilo. Assim, a pessoa interessada é aquela que pratica o bem como meio para atingir finalidades outras, mas que redundem em bem primeiramente para si mesma, e somente residualmente para outrem, se sobras houver e quando houver.

Algumas dúvidas sempre afloram à mente de quem reflete sobre esta questão da intencionalidade. Será que aquele que faz o Bem sabendo que este bem terá uma consequência positiva para si mesmo está, dessa maneira, agindo desinteressadamente?

Ora, como o desinteresse pessoal é central para a Caridade, e desinteresse quer dizer que a intenção de um agente em promover o bem para o outro é o fator principal e não o conhecimento da possibilidade de resultados positivos para o agente advindos da sua ação, inferimos que o que importa neste caso é a intenção, que foi de produzir um bem para outrem, e o fato de saber que haveria um resultado positivo para si mesmo não anula esta intenção. Portanto, ter conhecimento dos efeitos secundários de uma ação não constitui interesse pessoal.

Esta dúvida, que poderia causar interpretações equivocadas para a conceituação e a prática da Caridade, foi antevista por Kardec, e colocada na forma de questionamento (questão 897, 897 a, e 897 b, de “O Livro dos Espíritos”) aos Espíritos da codificação.

Por fim, podemos afirmar, com base nos ensinos dos Espíritos e de Allan Kardec, que a Caridade é um Bem, mas não qualquer Bem. Para ser Caridade este Bem deve atender primeiramente ao critério do desinteresse pessoal.  Certamente, todo Bem é necessário, mas somente o Bem que é produzido sem intenções de vantagens pessoais, ocultas ou não, é que pode ser chamada de Caridade. Portanto, a Caridade, no sentido que o Espiritismo lhe dá, é uma das espécies de Bem que o ser humano pode produzir, no entanto, é o único bem que pode libertá-lo do próprio egoísmo.


 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita