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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 438 - 1° de Novembro de 2015

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)

 



Jesus Cristo e os Três Porquinhos


Título estranho para um capítulo de livro, não é? Ainda mais livro espírita! Mas não estou fazendo piada. Embarque nas linhas a seguir comigo.

Muitos de nós já devem ter lido ou ouvido fábulas, histórias carregadas de ensinamentos morais e nas quais os animais têm comportamento humano, ou seja, pensam, falam e agem. Várias delas são famosas, como A Cigarra e a Formiga, do escritor grego Esopo (620 a.C – 564 a.C); e A Raposa e as Uvas, do francês La Fontaine (1621 – 1695).

Talvez uma das mais famosas fábulas seja Os Três Porquinhos. Pelo que pesquisei, as primeiras edições datam do século 18. Imagina-se, no entanto, que a história seja muito mais antiga. E veremos daqui a pouco que, de fato, essa informação se confirma. E como!

Segundo a enciclopédia virtual Wikipedia, tal fábula foi divulgada pela primeira vez em 1853 pelo escritor australiano Joseph Jacobs. Ele era folclorista e morou na Inglaterra um bom tempo, onde resgatou e publicou contos tradicionais que eram passados oralmente de geração em geração. Mas a história só se tornou mundialmente conhecida quando foi transformada em desenho animado pelo americano Walt Disney, em 1933.

Os três porquinhos que dão título à fábula são irmãos. Aqui no Brasil, ficaram conhecidos pelos nomes de Heitor, Cícero e Prático.

Segundo a história, ao receberem uma herança, os três irmãos suínos decidiram cada um construir sua própria casa. É o sonho da casa própria, que, pelo visto, é tão antigo quanto a história.

Cícero, o porquinho mais preguiçoso, construiu uma casa à base de palha e lama. Heitor, também não muito afeito ao trabalho, fez uma cabana de madeira; contudo, não usou prego e aço. Já Prático fez uma morada como manda o figurino. Hoje em dia, diríamos que ele utilizou tijolo, cimento, vidro, telha etc.

Aí entra o quarto personagem, que ainda não é Jesus Cristo, mas um lobo faminto.

Lobos são carnívoros, e nosso amigo de dentes pontiagudos decerto ficou com a boca cheia d’água quando viu tanta carne suína à disposição. O que ele fez? Foi ao encalço de Heitor, que saiu correndo e se trancou em casa, tremendo de medo. O lobo, então, soprou, soprou e a casa de palha e lama foi ao chão. Mais do que depressa, Heitor refugiou-se na casa de Cícero. Ficaram os dois lá, morrendo de pavor de serem devorados. O lobo novamente soprou, soprou e a casa de madeira meramente encaixada também tombou. Os dois irmãos, correndo do lobo em desabalada carreira, se abrigaram na casa de Prático, feita com toda segurança e infraestrutura. Ficaram os três lá dentro. Cícero e Heitor ainda com medo. Prático não.

Novamente o lobo soprou até não poder mais. Só que a casa, resistente, manteve-se de pé. O lobo, que não era bobo, resolveu esperar a chegada da noite e entrou na casa descendo pela chaminé. Foi quando sentiu cheiro de queimado. Era Prático, o porquinho safo, que fervia água num caldeirão e, assim, queimava a cauda do malvado canídeo, que fugiu assustado e nunca mais voltou. Os três porquinhos, então, viveram felizes para sempre.

Disse, há algumas linhas, que a história dos três porquinhos é antiga. Bem antiga, aliás. Muito mais do que possamos supor. Na verdade, é uma história constante da Bíblia. Mais precisamente, do Novo Testamento. E contada pelo próprio Jesus Cristo.

Nos Textos Sagrados, não encontraremos o Mestre falando sobre porquinhos às voltas com um lobo esfomeado. Mas a história, sob outra roupagem, é da autoria do Meigo Rabi. Está presente nos Evangelhos de Lucas (capítulo 6, v. 47 a 49) e Mateus (capítulo 7, v. 24 a 27). Vou utilizar o texto de Lucas:  

Qualquer que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.

É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.

Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre a areia, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa. 

Eis aí a conhecida Parábola da Casa Sobre a Rocha. Trocaram o homem por três adoráveis suínos e as intempéries por um lobo. Mas a moral é a mesma.

Não importa a troca. Importa constatar como os ensinamentos do Cristo estão inseridos no inconsciente coletivo da humanidade. Tanto que viajam através do tempo e ganham o mundo ocidental por meio de um desenho animado produzido na década de 30 do século 20.

Meu livro anterior se chama O Espiritismo é Pop. Se é pop e é o Cristianismo Redivivo é porque Jesus Cristo é pop. Está na boca do povo e estará para sempre, quer o povo perceba ou não.

Como uma história tão simples é capaz de atravessar séculos sem perder a essência? Justamente por ser simples e conter um ensinamento grandioso, válido para homens e mulheres de todas as épocas.

Basicamente, a casa sobre a rocha e sobre a areia é uma fábula sobre a prudência e a imprudência humanas. A rocha significa a vida calcada em valores sólidos. Materialmente falando, é a vida de quem sabe se planejar, que não gasta dinheiro e tempo à toa. E quando vêm os contratempos, embora sinta o baque, está mais preparado para lidar com eles. Mas também simboliza a pessoa que dá mais valor à vida espiritual e constrói sólidas bases de ética, integridade, humildade, conhecimento de si própria e amor ao próximo. Quando chegam as desilusões e ingratidões da vida, não se abala; sabe que a vida é muito mais que uma decepção passageira.

A casa sobre a areia, por sua vez, é a vida calcada na superficialidade. Quando chegam os embates, a construção desaba e o construtor imprevidente revela-se frágil e desnorteado.

Há vários e ótimos livros espíritas que analisam a Parábola da Casa Sobre a Rocha. Vou tentar fazer diferente e dissecar o ensinamento pela história dos três porquinhos.

Cícero, Heitor e Prático são irmãos. Recebem da mãe – ou da avó, segundo algumas versões – uma herança. Resolvem, então, construir cada um uma casa. Simbologia interessante. Muitas vezes, o ser humano acha que pode se virar sozinho e dispensa a orientação de pessoas mais experientes, como pais, demais familiares, irmãos mais velhos e amigos de confiança. Resumo: vai cada um para o seu canto, isoladamente, sem pensar que vivemos em sociedade, porque precisamos uns dos outros, seja em termos materiais, afetivos ou espirituais. Uma das máximas da Doutrina Espírita diz: Fora da caridade não há salvação. Caridade significa amor em movimento, operante. Traduzindo: enquanto não aprendermos a cuidar uns dos outros, este mundo será essa barafunda que a gente conhece.

E há também os que vivem indiferentes à participação social. São os que se preocupam apenas com a própria vida e nem querem saber se há desigualdades e injustiças. Se há, não é com eles. Então, para que se preocuparem?

Há, ainda, os que nem se lembram da existência de uma força maior que a tudo presencia. Creem que podem fazer o que bem entendem e não param para pensar que toda causa gera um efeito. Se eu sou do bem e faço algo bom, cedo ou tarde colherei as benéficas consequências. Mas se vivo de forma inconsequente, sendo desonesto, irresponsável ou similar, algum dia colherei o que plantei. É o lobo faminto, simbolizando as dores da vida, querendo me abocanhar.

A questão da herança recebida por Heitor, Cícero e Prático remete à ideia dos dons que recebemos do Criador e que muitas vezes são dispersos, já que preferimos trilhar caminhos não solidários, mas meramente exclusivistas e de forma atabalhoada. É o filho pródigo de outra grande parábola do Mestre. Um filho que pede ao genitor sua parte na herança para, em seguida, cair no mundo e dissipar tudo. Ouviu as palavras do Mestre, mas não ligou de praticá-las, conforme o texto evangélico transcrito neste capítulo.

Cícero, o primeiro porquinho, constrói uma casa de palha e utiliza lama para dar liga. Lama é algo mole, fétido e pegajoso. A palha, coitada, não se aguenta em pé de tão frágil. O que uma casa assim poderia simbolizar? Talvez a infantilidade de quem acha poder viver de forma satisfatória sem cultivar o mínimo de educação e respeito ao próximo. São os que vivem para agredir, ofender, espezinhar. E também os que se locupletam com a corrupção, o tráfico de drogas, a devastação da natureza, os crimes de toda ordem. Julgam-se poderosos e inalcançáveis. No entanto, não percebem que construíram uma casa para lá de frágil e nada agradável.

Aí vem o lobo, que simboliza a cobrança de tudo que foi feito de errado. Afinal, cedo ou tarde, os truques e ardis mandam a conta. Apavorados, os Heitores da vida se refugiam na casa nada ética e nada aconchegante que construíram. Basta um simples sopro da lei de causa e efeito para derrubar tudo. Daí, Heitor foge, espavorido, mas tendo em seu encalço a sombra de tudo que fez de ruim. Quantos Heitores há no mundo, correndo desse lobo, às vezes de reencarnação em reencarnação!

Onde Heitor vai bater? Na casa de Cícero, que construiu uma casa de madeira. Até aí nenhum problema. Há muitas casas de madeira pelo mundo; e muito bem feitas e confortáveis. Mas Cícero não se preocupou com o acabamento. Pelo visto, não prendeu as tábuas da cabana umas às outras. Se porventura o fez, foi de forma displicente. Como se diz por aí, fez uma casa para inglês ver. Bonitinha na aparência, mas pobre de conteúdo.

Muita gente age assim. Leva uma vida aparentemente perfeita, harmônica. No entanto, tudo não passa de aparência. Como narra o Espírito Joanna de Ângelis no livro Momentos de Meditação – psicografia do médium Divaldo Pereira Franco – (mensagem intitulada Como Seguirás?), os Cíceros dão muito valor aos bens materiais e à posição social. Os fariseus de ontem e hoje eram assim. Viviam unicamente para o culto exterior. Pouco valor davam ao cultivo das virtudes. Viviam em palácios suntuosos, mas um dia tudo foi ao chão. O lobo das mudanças soprou e não sobrou pedra sobre pedra daquela Jerusalém que crucificou o Cristo.

Há muitas histórias similares. Famílias aparentemente muito distintas, religiosas, de boa posição social. Tudo perfeito. Um dia, ocorre algo trágico, repentino, e a família se desfaz. Era uma casa de madeira. Aparentemente bem construída e vistosa, mas ligada de forma frágil. O vento da realidade soprou e acabou com a hipocrisia.

Cícero, assim como Heitor, fica sem-teto. A dor oriunda da irresponsabilidade e da ilusão deixa os dois desnudos espiritualmente, e com o lobo da cobrança por uma mudança de atitude no encalço de ambos. Hora de se abrigar na casa de Prático.

O nome Prático fala muito sobre si. É alguém objetivo, realista, que não perde tempo com ganância, despotismo, ilusões e frivolidades. Por ter os pés no chão e ser alguém preparado, Prático não se abala com o perigo iminente, abriga os irmãos e fica esperando o lobo perder o fôlego e ir embora. Afinal, conhece muito bem a estrutura da casa que construiu.

Só que o lobo decide voltar na calada da noite. Sobe no telhado, desce pela chaminé e, em seguida, foge espavorido, com a cauda queimada. Ele havia se deparado com um caldeirão cheio de água, já fervente, que Prático colocara na lareira.

Várias versões da história dizem que Prático é o mais velho dos três. Simbologia interessante. Os mais velhos são sempre tidos como sábios, experientes. Afinal, estão aqui há mais tempo e conhecem os embates da vida. Ele simboliza, portanto, o Espírito amadurecido que não se deixa abalar pelos embates da vida.

Jesus Cristo se refere a eles quando diz, no Sermão do Monte, Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra.

Temos o hábito de achar que esse manso é a criatura indolente, otária, mosca-morta etc. Não é. O manso é a pessoa que já conquistou equilíbrio moral a ponto de não se deixar abater em demasia pelas tristezas nem se empolgar demais com alegrias. Não flutua ao sabor das circunstâncias. Por ter a casa moral sólida, é senhor de si. Por isso, lida com as ameaças e adversidades sem perder a cabeça. O lobo soprou, soprou e a casa se manteve inabalável. Tais Espíritos herdarão a Terra, ou seja, terão melhores condições de se adaptar aos novos tempos que estão chegando, já que, há um bom tempo, sabem lidar com mudanças.

Só que o vilão da história volta à noite e acha um caminho alternativo para penetrar na casa. Uma brecha, digamos. Mas como Prático não é de dar brechas, o lobo se dá mal e foge com o rabo chamuscado.

Brechas morais nós damos a todo instante. Deixamo-nos levar por maus conselhos, falastrões e falsos profetas sobre os quais falarei no próximo capítulo. E também por Espíritos desencarnados que querem nos prejudicar e aproveitam nossas fraquezas para nos inquietarem e causarem toda sorte de desequilíbrios. Mas como Prático é previdente, percebe onde pode haver uma brecha e a aproveita de forma construtiva, fervendo a água que será utilizada para um fim útil.

Podemos, ainda, analisar os três porquinhos como se fossem um só. Heitor, o primeiro, é o homem deveras rebelde, irresponsável, afeito a coisas vãs. Chegam os primeiros embates e ele, de início, foge sem rumo. Até que um dia, já como Cícero, constrói uma casa melhor, mas frágil no acabamento. Passa, então, a viver de aparências e hipocrisias. Só que chega o lobo das provações e chama novamente aquele Espírito ao amadurecimento por meio de dores e lutas diversas. Ele, então, finalmente torna-se Prático, um Espírito sábio e sereno, que já trilhou o caminho das provas e expiações e encontra-se pronto para lidar com os altos e baixos da vida.

No livro Vinha de Luz, o Espírito Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier, diz, na mensagem intitulada Em Nosso Trabalho (capítulo 71), que embora Deus seja o Arquiteto Divino que criou o universo, cada um de nós precisa construir a habitação que nos seja mais propícia. Deus estabelece leis; mas nós, seus filhos, contribuímos na execução delas construindo obras e operando interferências. Por isso, responderemos pelo que houvermos construído individualmente. Se tudo estiver de acordo com os projetos divinos, teremos cada vez mais crédito para seguirmos edificando. No entanto, se nossas obras estiverem dissonantes com o que Ele espera de nós, seremos chamados a mudar de atitude e construirmos, sempre à custa de esforço, a casa que nos seja própria. Quem sabe até, um dia, um santuário.

Heitores, Cíceros e Práticos são, portanto, todos nós, a caminho do Pai, muitas vezes impelidos pelo lobo que sopra e derruba nossas construções equivocadas. Até que um dia, correndo daqui para lá, ergueremos, enfim, a morada definitiva, estruturada em conhecimento de si próprio, participação social, maturidade, lucidez e tantos outros itens que compõem uma longa lista de material de construção.

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita