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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 424 - 26 de Julho de 2015

PAULO OLIVEIRA
psdo2010@gmail.com 
Santos, SP (Brasil)

 



Quatrocentos e noventa vezes! Uma história sobre o perdão

Até mesmo na cruz Ele proferiu o poema do perdão


Jurandir é um professor de matemática, muito estudioso e dedicado à ciência do cálculo e das equações. Jovem ainda, ele busca sempre sentido lógico e racional em tudo que observa. Um copo nunca é só um copo, mas sim um conjunto de formas obtidas da relação intrincada de cálculos geométricos. A física também lhe presta grande auxílio para buscar o entendimento de tudo o que acontece à sua volta.

Mas nem sempre lhe é possível concluir de forma lógica. Há algo que o intriga muito: o ser humano. Esse ser pensante, dotado de condições excepcionais de análise e conclusões lógicas, deixa-se sempre envolver por suas emoções. Afinal, não seria mais razoável se tudo se limitasse a fórmulas e equações com resultados objetivos, dizia ele com grande eloquência, quando em conversas com a parentela ou amigos próximos. Por que quis Deus criar no espírito humano essa condição emocional que tanto complica?

Pois bem, para buscar alguma explicação plausível, deteve-se, certa feita, na análise do comportamento de alguns ícones, que se tornaram, pelo exemplo, grandes referências do pensamento humano.

Gandhi havia enfrentado o poder de seu tempo propagando a sua mensagem de não violência e conseguiu criar uma Índia independente; Madre Tereza de Calcutá devotou toda a sua vida a ajudar e amparar os mais necessitados, sem visar a ganhos e compensações pessoais; Paulo de Tarso, o apóstolo, um dos principais responsáveis pela expansão da mensagem cristã pelo mundo conhecido, em sua época, abandonou todas as vantagens do poder e do ouro para se dedicar a uma causa, cuja divulgação preencheu o seu espírito com a mais pura alegria. Dizia ele: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”.[1] E Jesus, então, o que dizer de seu total desprendimento e entrega por todos aqueles a quem chamava de irmãos e que o colocaram numa cruz infamante, provocando a sua morte?

Jurandir era cristão e já tinha tido a oportunidade de folhear o Novo Testamento, porém sem aprofundar-se no sentido real das palavras do Mestre. Ele não conseguia entender o porquê de Sua atitude de não se rebelar contra aquela injustiça que sofria. Isso não fazia sentido para seu raciocínio lógico. As últimas palavras de Jesus, expirando na cruz, foram de perdão a todos que cometiam aquele tremendo crime. Como isso era possível?!

Já havia escutado, muitas vezes, preleções sobre a necessidade de perdoar, tinha lido o Novo Testamento várias vezes, bem como discutido o assunto com amigos e pessoas mais próximas e, no entanto, não tivera sucesso algum. Acreditava ser mais certo tirar a limpo todas as situações, chamando à responsabilidade todo aquele que assumisse a condição de agressor, obrigando-o ao justo acerto de contas. Afinal, como seria possível deixar de cobrar o justo diante de uma afronta recebida? Não é o criminoso passível de pena? Essa atitude não incentivaria os maus elementos a produzirem maiores males?

Tais questões abrasavam a mente de Jurandir, na busca de alguma resposta que lhe pudesse abrandar o coração. Lembremos que ele sempre está à caça de conclusões lógicas e, quando isso não é possível, o assunto fica remoendo até que consiga organizar uma resposta que lhe seja satisfatória.

Continuava pensando que essa história de perdoar era algo romântico, bom para palestras religiosas e para os menos avisados e ingênuos.

Certa tarde, conversando com um amigo, Jurandir trouxe a questão que o importunava por demasiado tempo. Explicava ele, a seu amigo, que não conseguia entender a questão da necessidade do perdão, considerando-a como uma simples convenção, e reforçava que as pessoas tinham, sim, o direito de cobrar aquilo que lhes era justo, deixando para Deus a função de julgar e perdoar a quem merecesse perdão.

Ricardo, o amigo prestativo, sorrindo, começou a falar a respeito de suas concepções sobre a questão. Disse ele ao amigo:

- Jurandir, eu por minha parte também busco compreender o perdão, embora deva admitir que não seja tarefa de fácil resolução. Por muito tempo, também eu me debati com essa questão, e por não conseguir atinar com alguma resposta que me satisfizesse, continuei entranhando-me por vias tortuosas desenhadas pela incompreensão, pelo orgulho e pelo egoísmo.

Ia continuar discorrendo sobre suas ideias, porém resolveu questionar o amigo Jurandir sobre suas convicções em relação à religião.

- Você tem alguma convicção religiosa? - perguntou Ricardo.

- Sim, respondeu Jurandir, de forma meio desconfortável. Tenho lá minhas noções religiosas, que são mais da aprendizagem com a família do que de convicção própria. Como todo mundo, tento cumprir com alguns compromissos nesse campo, porém devo admitir, realmente, que não sou praticante de religião alguma.

- Entendo. - respondeu Ricardo em tom meio melancólico. - Como você deve saber - continuou ele -, eu abracei a fé espírita, e tenho encontrado consolação para o meu coração, pois aprendi que a fé pode ser raciocinada e não imposta de maneira dogmática ou que busque atender mais a questões sociais do que a desenvolver uma convicção pessoal fortalecida. Deixe-me contar uma pequena experiência que tive outro dia e espero que isso o ajude a pensar sobre as suas angústias com relação ao perdão.

Jurandir começava a encarar o amigo num misto de desdém e ironia. Pensava consigo mesmo: Lá vem o Ricardo querer me converter!

Mas, em função do respeito e da amizade, prestou a devida atenção à história que o amigo iniciava.

- Certa noite - disse Ricardo - estava numa palestra evangélica na instituição da qual participo. O tema era exatamente esse: o perdão. O palestrante iniciava sua fala explicando a passagem na qual o apóstolo Pedro, aproximando-se de Jesus, pergunta-lhe nos seguintes termos: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete”.[2]

Ao ouvir a citação feita pelo amigo, Jurandir, imediatamente, fez uma continha de cabeça. Pensou: setenta vezes sete é igual a 490 vezes. Será que essa é a quantidade máxima de perdão a ser dada na vida?

Quase interrompeu seu amigo para expressar sua conclusão, porém, Ricardo explicava de forma tão serena e com tal convicção o que havia ouvido a respeito do perdão, na citada palestra, que Jurandir decidiu continuar ouvindo o que ele dizia.

- É uma das mais difíceis conquistas humanas - continuava Ricardo, repetindo as palavras do palestrante. - Para isso acontecer de forma sincera é necessário que o indivíduo desapegue-se de forma abnegada, entendendo que, se alguém errou contra ele, também ele já teria errado, várias vezes, contra outros, sendo ainda mais necessitado de perdão.

Jurandir torcia o nariz diante daquela fala “ilógica” e completamente sem fundamentos, conforme seu modo de pensar. Continuava acreditando que a justiça está mais no olho por olho e que essa atitude a nada levava, a não ser a mais injustiças.

Tendo Ricardo percebido que seu amigo estava desconfortável com sua fala, resolveu questioná-lo sobre como entendia essa citação evangélica, e disse:

- Jurandir, o que pensa você sobre essa questão de se perdoar setenta vezes sete?

Jurandir, de forma jocosa, respondeu com outra pergunta:

- Então, quer dizer que se a gente perdoar quatrocentas e noventa vezes, já estaremos todos perdoados?

Ricardo riu-se discretamente da pouca compreensão do amigo a respeito do que Jesus queria de fato ensinar, a todos nós, sobre ser o perdão ilimitado. Percebendo que o amigo Jurandir ainda precisava de mais tempo para digerir melhor aquelas palavras, continuou a dizer:

- Mas o que significa, para você, perdoar quatrocentas e noventa vezes aquele que ofendeu?

Jurandir sentiu-se um pouco chocado com a inesperada questão e ficou emudecido. Ricardo, no entanto, continuou:

- Já que você é um matemático, ajude-me a fazer alguns cálculos. Tomemos um dia comum. Das vinte e quatro horas, dormimos em média oito horas, restando dezesseis horas para nossas atividades. Dividindo-se quatrocentos e noventa por dezesseis horas, temos o número aproximado de trinta vezes por hora ou uma vez a cada dois minutos.

Nesse instante Jurandir arregalou os olhos e disse:

- Por dia? Eu pensei em quatrocentas e noventa vezes numa vida inteira!

Ricardo riu, novamente, da ingenuidade do amigo, que complementava:

- Por que Jesus está nos orientando que devemos perdoar a cada dois minutos quem nos ofendeu? Por que tantas vezes? Uma ou outra vez não basta? – perguntou Jurandir.

Ricardo, olhando para o amigo de forma muito terna, disse:

- Meu caro Jurandir, a condição humana é ainda muito animalizada. Estamos a meio caminho entre a fera do passado e o anjo do futuro. É óbvio que, enquanto não depurarmos nossa forma de pensar e agir, praticando mais a caridade e o perdão, trilharemos, ainda mais, estradas cheias de ressentimento, ódio, rancor e ira, sentimentos que poluem nosso mundo interior, provocando distúrbios no campo do Espírito que, indubitavelmente, afetarão também o campo das células corpóreas, gerando situações tristes de dor e sofrimento.

A atitude de buscar a reparação, quando justa - continuou Ricardo -, não está interditada a ninguém, e os meios existem para que isso aconteça. No entanto, quase sempre, a intenção de reparação vem acompanhada do desejo de subjugar o “algoz” e, se possível, sufocá-lo até à morte. Lembremos o nobre ensinamento de Jesus sobre “dar a outra face”, brilhantemente explicado por Kardec: “Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio às agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança”.[3] Essa determinação em busca da “justiça” mais imediatista, e de acordo com os padrões do homem comum - continuou Ricardo mais entusiasmado -, só demonstra a real necessidade de uma reforma interior, com vistas à libertação do espírito imortal, habilitando-o para regiões mais felizes da criação.

Nesse ponto da conversa, Jurandir volta à sua argumentação, dizendo:

- Ora vamos, Ricardo, tudo isso é muito bonito, mas eu preciso de comprovações racionais, e a religião não possui os elementos para a comprovação do que você afirma, meu amigo!

Ricardo ri e argumenta:

- Você é muito cético, Jurandir, e acredita que tudo se explique através das equações. Devo lembrá-lo, no entanto, a citação feita por um dos maiores e mais respeitados cientistas: Albert Einstein. Ele disse: “A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega”. E continuando a exposição, disse: - o perdão não é só uma questão de religiosidade. Ele tem fundamentos científicos. A física quântica já nos dá informações que comprovam que nosso cérebro reage de formas diferentes quando emitimos pensamentos e sentimentos de amor, fé, esperança, do que quando estamos irados, nervosos e agressivos. Acredite, meu amigo, a vida não se resume a números. Vamos relembrar Jesus: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.[4]

A própria ciência - continuou Ricardo - já está caminhando para a comprovação das ideias de alma e de continuidade da vida, através da análise das reações físico-químicas que ocorrem em nosso organismo, notadamente no cérebro humano, por meio de estudos realizados pelas neurociências.

Jurandir, impressionado pela exposição calorosa do amigo Ricardo, disse:

- É, Ricardo, você realmente acredita nessa ideia. Eu, por minha vez, fiquei impressionado pela sua eloquência. Você deu-me elementos de análise que, devo admitir, nunca haviam passado pela minha cabeça. Prometo que vou meditar a respeito.

Ricardo, satisfeito com a reação do amigo, declarou:

- Fico muito feliz de contribuir para sua reflexão. Minha intenção foi exatamente essa, desde o início de nossa agradável conversa, embora você pudesse ter pensado que eu queria mesmo era convertê-lo.

Ricardo riu-se muito.

Jurandir, um tanto acanhado, retrucou:

- Realmente, parece que você leu meu pensamento.

O assunto já ia para o seu final quando Ricardo arrematou:

- Para que esta conversa termine de forma completa, quero citar um ensinamento de um Espírito iluminado pela experiência e dedicação à causa cristã. Seu nome é Joanna de Ângelis. Diz a querida mentora: “É necessário aprender-se a amar, porquanto o amor também se aprende”.[5] E eu pergunto: Existe forma mais perfeita de expressar-se o amor, do que o perdão das ofensas?

Medite sobre isso meu irmão, e que seu esforço de crescimento espiritual seja abençoado pela paz da consciência tranquila.

 


[1] Paulo (Gálatas 2:20)


[2] Mateus, 18:21-22.


[3] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, 25. ed. de bolso, Federação Espírita Brasileira, RIO DE JANEIRO/RJ– 2010, cap. XII – item 8.


[4] Mateus, 4:4.


[5] JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Garimpo de Amor [psicografado por Divaldo P. Franco], 3ª. edição, Livraria Espírita Alvorada Editora, 2003. “Amor e Casamento”, Cap. 3.

 

 


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