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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 424 - 26 de Julho de 2015

MILTON SIMON PIRES 
cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, RS (Brasil)

 


Livre-arbítrio e bem-estar social - a teoria do paradoxo


Há séculos o tema da liberdade humana é estudado pela filosofia. Mais recentemente, tornou-se também campo de discussão da ciência. Nesse terreno são a psicologia e a genética as disciplinas que mais parecem ter feito avanços. Independente disso, parece-me sempre ter havido uma grande polêmica entre aquilo que escolhemos e aquilo que, como dizia Sartre, somos “condenados” ou não a fazer. O presente texto sustenta a ideia de que o advento do assim chamado “estado de bem-estar social” parece às vezes deslocar essa balança.

O termo “sistema” é cada vez mais utilizado para nos afastar das possibilidades de escolha. Tudo está definido, tudo está programado. Tornou-se cada vez mais difícil escutar uma antiga expressão que diz “foi minha culpa”. Soa muito mais contemporâneo dizer que isso faz geneticamente parte do “meu perfil” emocional, ou que não tive escolha “frente às alternativas do mundo globalizado”. A palavra responsabilidade, ironicamente, passou a ser cada vez mais acompanhada do adjetivo “social”.

Pergunto: qual a relação que existe entre essa sensação de “diluição de responsabilidades” com as chamadas conquistas sociais? De certa forma parece que, quanto mais garantidos são certos direitos, mais claro está para nós que alguém, que não nós mesmos, há de se oferecer para defendê-los. Talvez o que justifique essa falta de iniciativa seja a fantasia de que o verdadeiro princípio de liberdade seja algo capaz de ser entendido numa experiência coletiva, que o Estado “já está pronto” e que já nascemos livres – ideia muito bem descrita em aproximadamente 1923, por ocasião da publicação de A Rebelião das Massas, por Ortega y Gasset.

Recentemente a Suécia apresentou ao mundo o resultado explosivo de uma combinação de multiculturalismo e apologia do bem-estar social. Mergulhada num caos em que cada minoria acreditava que aquele Estado havia sido feito para ela, Estocolmo mostrou aos telespectadores perplexos cenas de violência incompatíveis com a imagem de um país de primeiro mundo. Não há dúvida de que a ilusão de liberdade como um bem a ser oferecido pelo Estado, e não uma conquista individual, foi responsável por essa situação. Aceitando pacificamente que já nasceu livre, o homem típico das democracias ocidentais substitui a certeza da escolha pela certeza dos “direitos”. Garantidos determinados direitos, somos automaticamente livres – ideia perigosa e que atribui ao Estado a prerrogativa de dizer ao cidadão o que significa exatamente a palavra liberdade.

O conceito de liberdade nasce da experiência individual do homem. Contemplando um mundo primitivo rico em perigos naturais, enfrentando sistemas políticos tirânicos e realizando escolhas que originalmente diziam respeito apenas a si mesmo, o homem adquiriu a duras penas a noção do que significa ser livre. Seu sofrimento, uma vez percebido, tinha de ser confrontado com uma ordem interna de valores primitivos, incapazes de ser compartilhados e cuja existência é anterior a qualquer experiência racional. Princípios de causa e efeito não são suficientes para explicar sentimentos de caridade e bondade que vieram mais tarde dar origem à ordem política da primeira sociedade humana.

Pensando assim, às vezes vejo que o ato de filosofar não é propriamente uma atividade “civil”. Talvez seja justamente esse o seu grande mérito num mundo como o nosso!

Não deixa de ser triste perceber que a chamada “razão democrática” acabou finalmente por nos tornar escravos de determinados “direitos” – paradoxo máximo criado numa sociedade que fez da apologia do bem-estar coletivo sua nova religião e onde poucas pessoas ainda sabem o significado do verdadeiro livre-arbítrio.


O autor é médico em Porto Alegre, RS.


 

 


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