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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 422 - 12 de Julho de 2015

VINICIUS LIMA LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Bento Gonçalves, RS (Brasil)

 

  

Brevíssimo apontamento a partir do prefácio de O céu e o Inferno, de Allan Kardec(1)

 

(...) O Evangelho segundo o Espiritismo representou um avanço; o Céu e o Inferno é um avanço ainda maior cujo alcance será facilmente compreendido, posto que toca o essencial de certas questões, contudo, não deveria ter aparecido prematuramente.                                    – Allan Kardec[2]

       

Allan Kardec, pouco a pouco, vai se revelando ao leitor como o pensador maduro, comprometido com a filosofia que pretende desenvolver a partir das revelações trazidas pelos Espíritos em sua pesquisa sobre o mundo invisível.

O observador atento, que se constituiu nesse educador da era nova, pesa com sobriedade as palavras, administra racionalmente o movimento de ideias ao qual é guindado como chefe, por pioneirismo científico e acolhimento coletivo. Ele vai apresentando progressivamente o desdobramento da Doutrina dos Espíritos em um formidável trabalho interexistencial, sob a orientação do Espírito de Verdade, o Mestre de todos nós, como um dia se referiu o Espírito Erasto[3].

Na epígrafe em tela, Allan Kardec destaca o avanço nas ideias espíritas, corporificado na obra O céu e o Inferno, como até maior do que o ocorrido com a publicação de O evangelho segundo o Espiritismo. Mas o que o levaria a fazer tal afirmativa? Observemos, caro leitor, a epígrafe cujo texto retiramos do prefácio escrito pelo fundador da Ciência Espírita, ali o mestre se reporta ao alcance da obra e às questões que o seu conteúdo atingiria.

Esta obra fundamental do Espiritismo aborda o intrigante tema da vida futura ou do porvir do ser humano que sempre inquietou a humanidade e encontrou eco nas reflexões propostas por diversos pensadores que figuraram na História da Filosofia. Muitas foram as ideias e sistemas erigidos, mas nenhum deles trouxe, antes de Allan Kardec, a sansão dos fatos observáveis a partir do diálogo investigativo com aqueles que já ultrapassaram a “fronteira” que separa o mundo corpóreo do mundo espírita ou dos Espíritos.

O livro toca nos temas que vigoravam entre os dogmas teológicos e, o seu alcance, poderia ser antevisto na possibilidade, deduzo, de trazer racionalidade à fé, tendo em vista que, não sendo o Espiritismo uma religião constituída, não tinha por propósito converter ninguém à sua perspectiva e nem fazê-lo abandonar a própria fé, aliás, dizia o mestre no diálogo com o padre:
 

“(...) o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas”.[4]

Kardec estava convencido de que o Espiritismo não era uma religião, aliás, na mesma obra destaca que quem teve a iniciativa errônea de colocá-lo nesse patamar foi a Igreja dominante à época. Pelo contrário, o Espiritismo, na esteira do pensamento iluminista, vinha esclarecer questões obscuras no campo da fé humana, mas não com teorias preconcebidas ou dogmas religiosos, mas com a sanção dos fatos espíritas, observados e levados à verificação experimental, bem como, considerados no desdobramento filosófico de suas consequências morais.

Em consonância com o princípio de liberdade de consciência, preconizado pela Doutrina dos Espíritos, Allan Kardec faz ver que os espíritas poderiam cultivar a sua fé religiosa no campo da esfera pessoal e adotar por convicção a nova filosofia. Logo, era normal ter o seu culto particular e ser adepto do Espiritismo, algo difícil de ser compreendido numa visão que ignorasse o verdadeiro caráter da Doutrina e a sua intencionalidade filosófica, no sentido de postar-se como aliança possível entre a ciência e a religião, contribuir com a unidade de crenças e, por consequência, fomentar a tolerância religiosa.

Além disso, ao invés de disputar adeptos, no arrojado projeto do Espiritismo estaria o desejo de combater a incredulidade, fosse pela lógica irretorquível de sua filosofia, fosse pela apresentação de uma quantidade de fatos observáveis, sobejamente registrados por Kardec e publicados, especialmente, na Revue.

O Céu e o Inferno está disposto em duas partes que compreendem o estudo da Doutrina e a descrição da condição moral de diversos Espíritos, constituindo-se em “guia do viajante antes de entrar em um novo país”, conforme observa Kardec (idem). Esse livro extraordinário apresenta um profundo estudo filosófico das alternativas apresentadas para a humanidade no tocante à vida futura, disponibiliza, mais uma vez, a tese espírita da imortalidade da alma objetificando o seu estado de felicidade ou infelicidade no mundo dos Espíritos, com base nos relatos dados pelos próprios mortos, outrora “proibidos” por Moisés e as igrejas de atenderem o convite à manifestação neste mundo, junto aos seus ou a qualquer outro interessado na sorte dos que partiram desta materialidade.

A doutrina e os exemplos apresentados na obra derrubam os dogmas das penas eternas, dissonantes da compreensão de Deus lecionada por Jesus de Nazaré e incapaz de convencer uma criança em tempos de primado da razão, como se esperava no século XIX.


 

[1] Devo destacar ao leitor que me utilizei da tradução do primeiro Préface, publicado por Kardec, feita pelo pesquisador Augusto C. de Araújo, conforme encontramos em KARDEC, Allan. Préface. In: ______. Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme. Paris : Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri, 1865. p. I-VIII. Tradução: Augusto César Dias de Araujo. Revisão: Vital Cruvinel. Acessível em: http://acdaraujo.blogspot.com.br/2011/11/o-prefacio-quase-esquecido-da-primeira.html. Acessado em 19/06/2015.
 

[2] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Ou a justiça divina segundo o Espiritismo. Prefácio. In: KARDEC, Allan. Préface. In: ______. Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme. Paris: Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri, 1865. p. I-VIII. Tradução: Augusto César Dias de Araujo. Revisão: Vital Cruvinel. Acessível em: http://acdaraujo.blogspot.com.br/2011/11/o-prefacio-quase-esquecido-da-primeira.html. Acessado em 19/06/2015.


[3]______. Revista Espírita de novembro de 1861. Reunião geral dos Espíritas bordeleses - Primeira epístola de Erasto.
 

[4] KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Diálogo com o padre.

 

O autor é educador, pesquisador, editor do blog www.saberesdoespirito.blogspot.com, residente em Bento Gonçalves/RS.


 

 


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