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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 419 - 21 de Junho de 2015

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)

 


Ô, do centro espírita!


Era um dia de 2011 ou 2012, não lembro ao certo.  Só sei que havia estado doente. Nada grave. Nem sei se doente é o termo adequado. Foi um problema dermatológico que estava causando certo incômodo. Havia ido ao dermatologista, que me receitou creme e antibiótico.

Duas semanas haviam se passado e eu já estava bem melhor. Mas era preciso voltar ao médico para fazer o acompanhamento. Eu estava marcado para o meio da tarde; 16h, creio. Por questões de trabalho, no entanto, não conseguiria chegar no horário combinado. Liguei, então, para o consultório e falei com a secretária. O Dr. Marco Liserre, meu grande amigo e excelente dermatologista, atenderia somente até 17h30, pois teria um compromisso. Combinei de chegar logo depois das 17h.

Entre 17h e 17h15, lá estava eu caminhando apressado pela rua. Apertava o passo, pois precisaria vencer algumas quadras e cruzamentos para chegar ao consultório. Estava preocupado com o horário. Não gosto de chegar atrasado e muito menos deixar as pessoas me esperando. E nem podia, pois o Marco não iria me esperar.

Foi aí que algo inesperado aconteceu. Passei em frente a um bar onde vários homens jovens bebiam cerveja e conversavam animadamente. Uns na calçada, outros ocupando parte da beira da rua. Foi quando um dos rapazes, do grupo que estava além do meio-fio gritou e olhou em minha direção: - Ô, Ô! Ô! Não tenho o hábito de tomar cerveja e de frequentar bares. Nada contra. Apenas não é minha praia. Por isso, concluí que o rapaz estava chamando outra pessoa e prossegui no meu passo apressado. Foi quando o rapaz gritou: - Ô, do centro espírita! Ô, do centro espírita!

Não havia mais dúvidas. Era comigo. Parei. Ele veio em minha direção todo sorridente, olhos brilhando de contentamento, rosto iluminado de empolgação e felicidade. Quando ele chegou perto de mim, disse, cheio de gratidão e alegria, que havia gostado muito da minha palestra. Falou que ficou muito feliz de ter ouvido os ensinamentos que eu transmitira. Aquilo me tocou sobremaneira. Sorridente e meio sem graça, conversei ligeiramente com ele, agradeci e segui apressado, já que não podia perder a hora do médico.

Faço palestra não só na União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep), como também em vários outros centros espíritas da Cidade Imperial. E como sou muito falante e brincalhão, muita gente vem conversar comigo depois da palestra. Dizem que gostaram do que expus, das histórias que contei etc. Isso me deixa sempre muito feliz. É bom saber que nosso trabalho toca as pessoas.

Mas aquele rapaz era diferente. Ele não veio conversar comigo logo depois da palestra. Ele estava na porta de um bar e me abordou com um copo de chope na mão e cheio de alegria. Ressalto esse fato porque algumas pessoas têm receio de serem admoestadas por um espírita caso sejam flagradas ingerindo bebida alcoólica. Sobre isso, recomendo a leitura do capítulo intitulado O Argueiro, a Trave no Olho, o Chope e o Cigarro, do meu primeiro livro – Inquietações de um Espírita. E se ele me abordou daquela forma é porque percebeu, inconscientemente ou não, que com os espíritas não deve haver esse tipo de barreira. Afinal, o espírita deve orientar, esclarecer e consolar. Nunca condenar ou bancar o censor da vida alheia. Eis por que o Espiritismo é pop. Creio que só ele permite uma abordagem assim, tão livre e democrática, despida de prejulgamentos.

Depois que saí do médico, minutos mais tarde, pus-me a pensar: - Em que centro espírita ele me viu fazer palestra? Quando foi? Qual terá sido o tema da palestra? O que será que eu disse para deixá-lo naquele estado de euforia e gratidão? Será que eu o libertei de alguma culpa? Terei eu aliviado uma carga de mágoa que ele carregava? Será que a minha fala o fez dar uma nova diretriz à vida? Em seguida, deduzi que eu deveria ter perguntado o nome dele e onde havia sido a palestra. Mas como estava com pressa, segui adiante. Arrependo-me disso até hoje. Já se passou um tempo e ainda me pergunto quem é aquele rapaz.

Isso me fez recordar um episódio semelhante, ocorrido em abril de 2012, lembro-me bem. Foi em plena Praça Florida de Livros, evento espírita cultural que em todos os anos realizamos em Petrópolis e na cidade vizinha de São José do Vale do Rio Preto. Estava eu na porta do Theatro D. Pedro verificando o material de divulgação da palestra que ocorreria no local, quando uma moça chegou para mim e perguntou: - Você é o Marcelo, não é? Respondi que sim. Ela, então, completou: - Olha, você mudou a minha vida! Aquela palestra que você fez foi muito boa para mim. Graças ao que você disse, consegui resolver um problema que me agoniava. Muito obrigado! Perguntei onde havia sido a palestra. Ela respondeu que havia sido no Grupo da Fraternidade Espírita Oswaldo Cruz, centro petropolitano no qual volta e meia faço palestra. Mas e o rapaz do chope? Em que centro ele me assistiu? Acho que jamais saberei. Pena.

Citei no capítulo anterior a Parábola do Semeador. Nela, Jesus diz que o semeador saiu espalhando sementes por onde passava. Jogou-as e seguiu adiante; cumpriu sua tarefa sem saber se germinaram ou não. Faço um paralelo com uma história muito conhecida. Faz parte do livro O Semeador, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco e ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues. Na história, uma professora andava de trem constantemente. Quem a via de fora, pensava que se tratava de uma mulher louca, já que vivia com a mão para fora da janela, como se estivesse acenando a esmo. Mas, na verdade, ela trazia sempre consigo um saco de sementes e as ia jogando pela janela. Quando souberam disso, os que não entendiam seu gesto compreenderam por que as margens dos trilhos eram tão floridas. As sementes que a professora jogava transformavam-se em flores a enfeitar o caminho. Ela simplesmente saía a semear. Ao longo dos anos, transformara a paisagem árida em um local florido.

Quem é esse semeador ao qual Jesus se refere? Um missionário de altíssima elevação que saiu de casa ciente de que exerceria a nobre missão de jogar sementes? Talvez sim. Mas pode simbolizar todos nós, seres humanos cheios de contradições e que, a despeito dos problemas que enfrentam, saem de casa para trabalhar e jogam sementes de compreensão, entendimento, esperança, tenham ciência disso ou não.

Semeadores, portanto, seríamos todos nós. Às vezes sem percebermos, devido a um sorriso, uma gentileza, uma palavra amiga ou equivalente, renovamos as esperanças na vida de alguém.

No livro Ceifa de Luz, o Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Chico Xavier, na mensagem intitulada Compromisso Pessoal, diz que Deus dá a seiva, o solo, o clima, a semente etc. E também fornece a saúde, a coragem a inteligência e o discernimento do semeador. No entanto, ressalta que o trabalho só será concluído se alguém plantar.

Agora me levo a imaginar Jesus Cristo como o maior semeador de todos os tempos. As sementes fornecidas por ele estão aí, ao nosso alcance, dia após dia. E quem exerce tarefas no meio espírita sabe muito bem do que estou falando. Muitas vezes, estamos chateados, cansados, desanimados até. Tivemos um dia cheio, a família está dando problemas, a saúde anda meio irregular, problemas no trabalho, finanças balançadas... Mas temos de aplicar passe, fazer palestra, aplicar estudo e similares. Chegamos meio chateados ao centro e, com a ajuda dos amigos espirituais, exercemos nossa tarefa. Depois, voltamos para os desafios da vida lá fora. Mas, apesar de todos os percalços, pegamos a semente e a plantamos. Aí, seguimos sem olhar para trás e nem tomamos conhecimento que uma semente que plantamos floresceu.

Até que um dia, andando apressadamente rumo ao consultório do dermatologista, alguém que eu não conheço, mas que me conhece, chama por mim em frente a um bar e, tulipa de chope em punho, me dá um dos maiores presentes que já recebi desde que entrei para o movimento espírita, em 1984. Não tive tempo de perguntar o que eu disse na palestra e onde ela ocorreu. Nem o nome do rapaz eu perguntei. Mas havia plantado algo bom no coração dele. Acho que ganhei a encarnação naquele momento insólito. Num instante, percebi o quanto vale a pena dedicar-se a uma causa nobre como a do movimento espírita. Não desanimemos, portanto. Sigamos a plantar, apesar de todos os nossos pesares.

Termino esse texto fazendo um pedido aos companheiros do movimento espírita de Petrópolis (RJ): contem essa história para todo mundo. Espalhem-na aos quatro ventos. Tenho muita vontade de saber quem é esse rapaz e dar a ele a atenção que, naquele dia, não pude dar.

Enquanto isso não acontece, a frase inesquecível, pois tocada de amor e gratidão, continua a ecoar em meu coração. Quando passo em frente àquele bar, então, nem se fale! Ô, do centro espírita! Ô, do centro espírita!

 

BIBLIOGRAFIA:

1 -    FRANCO, Divaldo Pereira. O Semeador.

2 -   XAVIER, Francisco Cândido. Ceifa de Luz. Federação Espírita Brasileira (FEB), 4ª Ed., 1996, Brasília, DF.


 

 


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