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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 416 - 31 de Maio de 2015

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Indaiatuba, SP (Brasil)

 


Liturgia da natureza


Gosto de passear pelo parque, nas manhãs de domingos, quando o tempo está bonito, sol de primavera, e as flores enchendo o ar.
Nenhum ruído digital perturba a natureza, e de quando em quando se veem crianças alegres e um azul celeste vestindo sem pudor o céu.

Penso que a vida poderia ser assim, um largo jardim, o canto das aves dando o tom da vigília; depois, sem pressa, o suspiro das folhas no entardecer, que termina na escuridão das árvores, convidando o sono para o corpo e os sonhos que decifram enigmas sobre o nosso mundo.

Houve tempo em que os parques e as praças, mesmo nas grandes cidades, eram, ao menos, mais amados, pois, sem dúvida, aquilo que (mal) fazemos ao espaço coletivo, como o péssimo hábito de jogar lixo no chão ou nas águas dos lagos, denuncia a rude atitude (feia) de nossas almas…

Mas o gestual mais perverso justamente aparece, e cada vez mais, onde deveria ser evitado: no meio da casa privada das árvores, a qual na cidade chamamos “espaço público”. Onde estão flora e fauna? E quem de nós ousaria maldizer aquilo que a natureza levou memórias de anos para conceber e de forma tão bonita?

Por isso me assusta a verticalização abusiva em muitas cidades do País, o excesso de condomínios murados, os edifícios todos iguais, construídos segundo a tirania da economia de mercado, que cada vez mais dá lugar à cidade empresa, feita para consumidores ou desatentos com as leis maiores que organizam a Vida.

A utilidade da cidade empresa faz agonizar a pólis, a possibilidade de uma urbanidade como espaço do encontro entre cidadãos. Já se define então no País, e isso tão nítido, com pressa e barulho nos últimos anos, um (dissimulado) adeus ao ideal de philia nas cidades.

E pensei no último domingo, quando corria no parque, que a elegância das árvores deveria ser meditada por aqueles que passaram a ignorar valores estéticos e valores fraternos, e que são indeclináveis conviventes.

Sim, em geral, estética e fraternidade avisam que as cifras da economia com pouca frequência ativam memórias relacionadas à melodia dos passarinhos, lagos cristalinos, bichos invisíveis, mas que sabemos que estão ali, habitando bosques e parques, fazendo parte da rede misteriosa que torna a Terra nossa casa, nosso destino comum, ainda que os existentes grudados às coisas duvidem…

No final, somos cúmplices, querendo ou não, naquilo de misterioso e belo, mas também feio e grotesco, que definem o nosso tempo-espaço como um ambiente de horror e egoísmo, além das escassas esperanças.

Pouco sei, porém insisto: são os espaços privados das árvores que nos ajudam viver nossos corpos para conduzir nossos sonhos. E apenas cuidando deles poderemos evitar o pandemônio que na cidade grita a vida em fuga, agonizada pelo sintoma da insônia e o escuro da depressão – cujo cinzento peso pode provocar profundidade à [árida] vida do indivíduo.

Desconfio, portanto, que parte de um “existir com sentido” é recriado diariamente no silêncio dos espaços públicos, quando perdemos tempo com flores e pássaros, e, durante a noite, quando aceitamos tecer nossos sonhos, que nos acendem para o amanhecer na cidade.

Então, confiantes, revitalizados na liturgia da natureza, fluir com nossas incertas jornadas, contudo implicadas com a atitude cotidiana de quem sabe reverenciar o outro ao seu redor. Afinal, que motivos alegar contra o prazer de aquietar os pensamentos sob a sombra de uma robusta árvore durante o sol do meio-dia?


 

 


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