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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 416 - 31 de Maio de 2015

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 


Dona Deusa


Dona Deusa, a essas horas da tarde de um feriado de São Jorge, nem deve fazer ideia de que estou aqui, sentada, escrevendo sobre ela. Aliás, bem provável que nem se lembre de que eu exista. Mas eu me lembro dela! Por boas razões.

Trabalho há quase exatos vinte e sete anos no serviço público, atualmente na Justiça Federal. E, seguramente, durante esses vinte e sete anos, nunca vi ninguém tão absolutamente engajado no que faz, e tão totalmente integrado no que o próprio nome sugere.

Dona Deusa não é funcionária pública. Não, ela não fez concurso, se preparando por mais de um ano para disputar uma das concorridíssimas vagas daquele tribunal, e, enfim, levantando o troféu da vitória entre os concursados do judiciário. Ela é, sim, de uma firma terceirizada de prestadores de serviços de limpeza contratada por aquele órgão, dentre tantos outros que labutam diariamente num horário duro e diferenciado. Chegando cedo e saindo por volta das dezessete horas. Mas saindo de casa ainda mais cedo, como no caso da dona Deusa, por morar num bairro longe – mas bota longe! – do Centro da cidade do Rio de Janeiro!

Vida dura! E, no entanto, lá está a dona Deusa, justificando, com o seu modo de ser, este meu artigo, e já lhes explico a razão.

Gosto, volta e meia, de homenagear seres humanos que trazem a contribuição pessoal de uma lamparina a mais para este mundo ainda cheio de sombras, desacertos e mazelas, onde as pessoas mourejam arduamente, vencendo suas provas de aperfeiçoamento evolutivo. Assim, já discorri, em artigos mais antigos, sobre o nosso querido Chico Xavier, sobre um ou outro artista, cujo trabalho me sensibilizou de maneira positiva, mas, também, sobre alguns nobres anônimos que já cruzaram os meus caminhos diários.

Deste modo, não poderia deixar a dona Deusa passar em branco.

Por vezes, chegamos por volta das onze da manhã, e deparamos, surpresos: uma toalhinha nova na mesa da nossa pequena copa, onde nos reunimos brevemente para o almoço ou cafezinho, no decorrer dos longos dias. Um bolo. Um pão a metro, deliciosamente recheado. E o pessoal vai chegando e, bem impressionado, perguntando: quem trouxe?! Quem fez?! Que coisa mais bem-vinda!

E a resposta, frequentemente, é a mesma: dona Deusa!...

Para o nosso sensibilizado estupor!

Sempre ela, com o enfeite novo para a copa! Sempre ela com lembrancinhas providenciadas e confeccionadas por ela mesma, para cada um da Secretaria, em cada uma dessas datas comemorativas que pululam durante o decorrer do ano: dia das mães. Natal. Páscoa!... Ainda nesta última, lá estava um embrulhinho em forma de cenoura sobre a minha mesa, cheio de chocolates dentro, bombons, ovinhos...

Quem trouxe?!... Dona Deusa!...

A pergunta já se faz até desnecessária, após estes muitos anos de convivência com aquela senhorinha, espécie de anjo silencioso, quase mudo, que desliza entre a agitação do nosso dia a dia recolhendo o conteúdo das lixeiras e deixando tudo limpinho antes da nossa chegada!

Coisa de mãe! Garrafinhas individuais devidamente cheias com água geladinha, todo santo dia, sobre as nossas mesas! Uma vez entramos, e tomamos agradável susto! A Secretaria em peso estava florida – com os enfeites mimosos confeccionados por ela, com flores do campo coloridas!

O sumo do bom gosto! Sobre as mesas de todos, da diretora de secretaria a cada um dos dezesseis funcionários! Até hoje tenho sobre meu piano, em casa, o enfeite gracioso, colorindo o ambiente da minha sala!

Dona Deusa, meus amigos, serve sem prestar atenção ao que faz e sem ambição! Parece estar nela, como está nos jasmins, simplesmente, perfumar o ambiente de maneira intensa! Porque está na sua natureza, e pronto!

Alguns, mais maliciosos, poderiam argumentar: ah, algum interesse tem! Afinal, obviamente que, eternamente encantados, cativados pelos modos bondosos da senhorinha, fazemos também por onde ser reconhecidos, a uma pessoa que, com tão poucos recursos materiais, ainda faz mágica para oferecer reconforto e servir ao próximo de forma tão desprendida, tão encantadora! Alegre e empenhadamente!

E por que não?!

Acho bem pouco provável que, ao longo dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, aquela criatura amável se empenhe em mil e um mimos, criativa, agradando a todos, movida somente por premeditação, por algum outro tipo de interesse! Porque, em absoluto, não é o que se observa! Dona Deusa serve em silêncio, sem chorar lamúrias, sem reclamar de sua vida difícil – que a sabemos difícil, porque nós, sim, espontaneamente nos interessamos, buscamos saber!

De um lado para outro, atende a todos, adivinha nossas necessidades. Traz cafezinho, recolhe as xícaras, mantém tudo limpinho, oferece guloseimas e presentinhos mimosos de tempos em tempos, sem, em quase nenhum momento, sequer falar. E quando conversa, é baixinho, com poucas palavras...

Sem falar mal do próximo! Sem criticar os que não fazem como ela! Sem um olhar de interesse, premeditação, malícia... nada!...

Não adianta! Dona Deusa somente age assim. É assim! Pronto... Por que haveremos sempre de não aceitar a bondade, quando ela assim se apresenta em alguém, denodada, pura e límpida? Por qual razão? Por termos dificuldade de identificá-la, em igual qualidade, em nós mesmos, talvez? Em nós que, com maiores e melhores recursos e oportunidades na vida, por vezes mal conseguimos nos demover a oferecer uma palavra de estímulo a quem notamos à míngua de calor humano e de compreensão?!

Dona Deusa, portanto, queridos amigos, é o tema de meu novo artigo, bem merecidamente! Faz jus ao nome peculiar – que é nome mesmo, dona Deusa – e, isso, comentamos frequentemente no tribunal!

Assim como Deus serve incessantemente, e cobre as necessidades de toda a Sua imensa e portentosa Criação – em silêncio sepulcral, com o perdão do trocadilho! –, lá está, também, a dona Deusa! Exemplificando, na sua quieta modéstia, e no anonimato dos movimentos do nosso cotidiano afobado, o que o Pai nos testemunha a cada minuto!

Servir, servir, servir, e agradar à Vida, sem parar!

Fazer o bem, sem olhar a quem!

Às vezes, os céus se fazem presentes na Terra!

Obrigada, dona Deusa!



 

 


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