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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 410 - 19 de Abril de 2015

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 

 

O caminho da vida 

A existência espiritual é a existência normal, as encarnações são apenas curtas estações da vida
 

Lembra-nos o ínclito mestre lionês[1] que “(...) a questão da pluralidade das existências há desde longo tempo preocupado os filósofos e mais de um reconheceu na anterioridade da alma a única solução possível para os mais importantes problemas da psicologia. Sem esse princípio, eles se encontraram detidos a cada passo, encurralados num beco sem saída, donde somente puderam escapar com o auxílio da pluralidade das existências.

A maior objeção que podem fazer a essa teoria é a da ausência de lembranças das existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências inconscientes umas das outras; deixar um corpo para tomar outro sem a memória do passado equivaleria ao nada, visto que seria o nada quanto ao pensamento; seria uma multiplicidade de novos pontos de partida, sem ligação entre si; seria a ruptura incessante de todas as afeições que fazem o encanto da vida presente, a mais doce e consoladora esperança do futuro; seria, afinal, a negação de toda a responsabilidade moral. Semelhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça divina, quanto à de uma única existência com a perspectiva de uma eternidade de penas por algumas faltas temporárias. Compreende-se então que os que formam semelhante ideia da reencarnação a repilam; mas, não é assim que o Espiritismo no-la apresenta.

A existência espiritual da alma, diz ele, é a sua existência normal, com indefinida lembrança retrospectiva. As existências corpóreas são apenas intervalos, curtas estações na existência espiritual, sendo a soma de todas as estações apenas uma parcela mínima da existência normal, absolutamente como se, numa viagem de muitos anos, de tempos a tempos o viajor parasse durante algumas horas. Embora pareça que, durante as existências corporais, há solução de continuidade, por ausência de lembrança, a ligação efetivamente se estabelece no curso da vida espiritual, que não sofre interrupção. A solução de continuidade, realmente, só existe para a vida corpórea exterior e de relação, e a ausência, aí, da lembrança prova a sabedoria da Providência que assim evitou fosse o homem por demais desviado da vida real, onde ele tem deveres a cumprir; mas, quando o corpo se acha em repouso, durante o sono, a alma levanta o voo parcialmente e restabelece-se então a cadeia interrompida apenas durante a vigília.

(...) A seguinte comparação é de molde a tornar compreensíveis as peripécias da vida da alma: suponhamos uma estrada longa, em cuja extensão se encontram, de distância em distância, mas com intervalos desiguais, florestas que se tem de atravessar e, à entrada de cada uma, a estrada, larga e magnífica, se interrompe, para só continuar à saída. O viajor segue por essa estrada e penetra na primeira floresta. Aí, porém, não dá com caminho aberto; depara-se-lhe, ao contrário, um dédalo inextricável em que ele se perde. A claridade do Sol há desaparecido sob a espessa ramagem das árvores. Ele vagueia, sem saber para onde se dirige. Afinal, depois de inauditas fadigas, chega aos confins da floresta, mas extenuado, dilacerado pelos espinhos, machucado pelos pedrouços. Lá, descobre de novo a estrada e prossegue a sua jornada, procurando curar-se das feridas.

Mais adiante, segunda floresta se lhe antolha, onde o esperam as mesmas dificuldades. Mas ele já possui um pouco de experiência e dela sai menos contundido. Noutra, topa com um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir para se não transviar. A cada nova travessia, aumenta a sua habilidade, de maneira que transpõe cada vez mais facilmente os obstáculos. Certo de que à saída encontrará de novo a boa estrada, firma-se nessa certeza; depois, já sabe orientar-se para achá-la com mais facilidade. A estrada finaliza no cume de uma montanha altíssima, donde ele descortina todo o caminho que percorreu desde o ponto de partida. Vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes por que passou, mas essa lembrança não lhe é penosa, porque chegou ao termo da caminhada. É qual velho soldado que, na calma do lar doméstico, recorda as batalhas a que assistiu.

Aquelas florestas que pontilhavam a estrada lhe são como que pontos negros sobre uma fita branca e ele diz a si mesmo: «quando eu estava naquelas florestas, nas primeiras, sobretudo, como me pareciam longas de atravessar! Figurava-se-me que nunca chegaria ao fim; tudo ao meu derredor me parecia gigantesco e intransponível. E quando penso que, sem aquele bondoso lenhador que me pôs no bom caminho, talvez eu ainda lá estivesse! Agora, que contemplo essas mesmas florestas do ponto onde me acho, como se me apresentam pequeninas! Afigura-se-me que de um passo teria podido transpô-las; ainda mais, a minha vista as penetra e lhes distingo os menores detalhes; percebo até os passos em falso que dei». Diz-lhe então um ancião: — «Meu filho, eis-te chegado ao termo da viagem; mas um repouso indefinido causar-te-á tédio mortal e tu te porias a ter saudades das vicissitudes que experimentaste e que te davam atividade aos membros e ao Espírito. Vês daqui grande número de viajantes na estrada que percorreste e que, como tu, correm o risco de transviar-se; tens experiência, nada mais temas: vai-lhes ao encontro e procura com teus conselhos guiá-los, a fim de que cheguem depressa».

(...) A estrada é a imagem da vida espiritual da alma e em cujo percurso esta é mais ou menos feliz. As florestas são as existências corpóreas, em que ela trabalha pelo seu adiantamento, ao mesmo tempo que na obra geral. O caminheiro que chega ao fim e que volta para ajudar os que vêm atrasados figura os anjos guardiães, os missionários de Deus, que se sentem venturosos em vê-lo, como, também, no desdobrarem suas atividades para fazer o bem e obedecer ao supremo Senhor”. 

VIAGEM AO EXÍLIO [2]

Segundo a nobre mentora Joanna de Ângelis, “(...) não fosse a Terra abençoada escola de almas, onde a Divindade oferece tesouros de valor incalculável aos seus aprendizes, e poderia ser considerada uma região de exílio, na qual se auferem os recursos para o desenvolvimento espiritual indispensável para a glorificação imortal.

Para os Espíritos nobres que formam as falanges de luz da Erraticidade[3], o mergulho nas sombras densas do Planeta representa uma viagem de alto significado a um país de degredo, no qual o primarismo predomina e as lutas lamentáveis entre as criaturas são o clima normal e ambiental.

Eles, no entanto, acostumados às excelentes regiões onde não mais existe a dor, nas quais as harmonias siderais constituem um poema de indescritível sonoridade permanente e as paisagens são iluminadas por tonalidades opalinas de incomum variedade, renunciando aos afetos de sabor eterno com os quais convivem, às aspirações de infinitude, fazem parte do esquema da afetividade, vindo ao mundo de sombras para conduzir os calcetas encarcerados nas hórridas prisões da carne, a fim de libertá-los... Voluntários do amor, compreendem que sua felicidade faz parte do esquema de devotamento aos amargurados trânsfugas dos deveres, que optaram pelo retardamento na estrada do progresso, incapazes, por enquanto, de aspirar à perfeição relativa que lhes está destinada, porque, enredados nas paixões primitivas, nelas se comprazem.

Munidos de extrema paciência, convertem-se em anjos tutelares dos rebeldes, buscando arrancá-los dos pauis de sofrimento a que se arrojaram, orientando-os quanto aos meios de se afastarem dos labirintos tormentosos, utilizando da oração e da misericórdia para com as suas vítimas e algozes, lobrigando a renovação interior e a esperança de felicidade.

Os infelizes habitantes das regiões de indescritível horror são também filhos de Deus, que se arrojaram ao infortúnio, após repetirem muitas vezes os mesmos desatinos, enquanto dominados pela selvageria e hediondez.

Tomaram conhecimento das lições libertadoras do Mestre Jesus de Nazaré, chegaram mesmo a vincular-se a alguma das incontáveis escolas de fé, mas preferiram o mundo enganoso e suas oferendas mentirosas às esplêndidas concessões da paz derivada dos deveres rigorosamente atendidos, tendo corno projeto a ventura plena.

Negociaram com moedas vis a verdade e a honradez, malsinando as vidas que se lhes entregaram confiantes, enquanto esbanjavam a mentira e a sedição, preconizando a concórdia e a paz.

Ultrajaram-se, pelo abuso das energias genésicas nos pastos do prazer sensual, sem nenhum respeito pelas suas elevadas funções. Aplicaram o rigor das leis contra os outros, enquanto delas se utilizavam para apoiar-se no crime, na insolência, na crueldade. Converteram os programas de iluminação em roteiros de sombra, assim como em destruição as lições de solidariedade.

Até onde vão a astúcia e a ausência de sentimentos do Espírito que se apega às formas físicas, às sensações, aos engodos da matéria, em detrimento dos complexos deveres para com a sua realidade! Afundaram-se na ignorância, e nela permaneceram por exclusiva e pessoal vontade, enredando-se em crimes ignominiosos para atender ao egoísmo insano e ao louco desejo de gozo que sempre se acaba. Não souberam reflexionar em torno das promessas espirituais que lhes acenavam bem-estar incomum, vitórias sobre os fracassos, experiências iluminativas, caso se houvessem resolvido por alguma renúncia e pelo devotamento ao bem.

Embora houvessem chegado à Terra, anteriormente, procedentes do mundo espiritual, facultaram-se olvidar as atividades experienciadas antes do corpo, encharcando-se da matéria e negando-as. Por isso mesmo, não se detiveram a recordar as vivências no mundo das causas, somente fruindo os efeitos chocantes e grosseiros de efêmera duração, quando tudo lhes propunha imortalidade, afeições indestrutíveis, belezas transcendentais...

Naturalmente, deixando de lado quaisquer possibilidades de realização interior, conquistaram coisas, dominaram regiões, manipularam vidas que lhes padeciam nas garras da impiedade, mas sucumbiram também ao inevitável fenômeno orgânico da morte, despertando em excruciante situação nas regiões pungitivas em que se encontram. Tiveram várias chances de elevação, mas não lhes concederam o valor nem a atenção que lhes exigiam. Então sucumbiram ao desespero que impunham aos outros e que, por efeito natural, ora os assalta.

Não somente se encontram nas regiões espirituais esses exilados, mas também nas expiações severas e causticantes, nas quais o buril da dor modifica-lhes as arestas morais e o calor intenso das lavas ardentes e contínuas do vulcão do desespero que lhes propicia a diluição dos metais endurecidos do orgulho e da presunção.

À semelhança de Jesus que desceu ao vale do sofrimento, após a ressurreição, a fim de resgatar Judas da própria insânia e facultar-lhe nova oportunidade, esses mensageiros da caridade, que ascenderam aos páramos da luz, renunciam, momentaneamente, à ventura que merecem, a fim de ajudar os náufragos da retaguarda, que suplicam socorro sem dar-se conta.

Em exílio, mantém-te vigilante em relação ao amor, e procura evitar os compromissos desgastantes e tenebrosos do mundo dourado, avançando, por enquanto, por caminhos penumbrosos, mas com o coração e a mente elevados à Eterna Luz, que um dia te alcançará.   


 

[1] - KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, p. 187-192.

[2] - FRANCO. Divaldo Pereira. Vitória sobre a depressão. 2. ed. Salvador: LEAL, 2013, cap. 9.

[3] - Erraticidade, segundo a Doutrina Espírita, é o estado em que se encontra o Espírito no intervalo entre duas encarnações. Essa condição mais ou menos ditosa é determinada pelas atitudes morais desenvolvidas pelo indivíduo (vide O Livro dos Espíritos, Cap. VI - Da Vida Espírita). São denominados errantes; na questão 224 a, o vocábulo é usado pela primeira vez.  


 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita