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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 410 - 19 de Abril de 2015

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 


A concha preta


No litoral carioca, havia naquela época, mais de quarenta anos atrás, vários tipos de conchas nas areias da praia da Barra da Tijuca e Recreio. Arredondadas, enviesadas, ainda fechadas com seu bichinho proprietário dentro, ainda vivo; de todas as cores e tamanhos. Havia os mariscos, e também filhotes daquelas conchas acústicas, das quais não me recordo agora a denominação, que nos permitiam a mágica de se "ouvir o barulho do mar". Eram o meu encanto! Mais que as outras, as conchas elípticas, aquela infinidade rajada de várias cores, e as arredondadas texturizadas eram as minhas preferidas.

Quando as recolhia para a minha coleção, meu pai me ajudava - sim, ainda não havia a consciência de não se retirar nada da praia, porque também a extinção em massa da fauna marinha ainda não era evidenciada. Não havia tanta poluição e depredação do ambiente; por conseguinte, a ninguém ocorria que colecionar coisas do mar poderia significar algo politicamente incorreto do ponto de vista ecológico. Salvo minha mãe, que, pressurosa, com outras considerações em mente, alertava que não se devia levar nada do mar para casa, porque isso seria de mau agouro.

Meu pai, portanto, me ajudava; mas apenas muitos e muitos anos depois, já na maturidade, compreendi a lição sutil que ele aproveitava para incutir na filha pequena durante o encanto frequente daquele lazer de verão: as conchas pretas eram as mais valiosas!

Ora, as conchas pretas eram as mais raras! E ele me dizia que era justo por isso que tinham mais valor, e eram mais belas que as outras, amarelas, rajadas de azul ou lilás, brancas, laranjas e tantas outras que se viam aos montes, conforme as ondas iam e vinham. E toda vez, praticamente, se estabelecia uma competição para o achado da rara conchinha preta, que, caprichosa, nem sempre dava o ar da graça, para ser comemorada quando, enfim, aparecia nas extensões das areias molhadas, trazida pelo movimento incessante das ondas! Eu gritava de alegria, pulava, e corria para mostrar!

A valiosa concha preta! Enfim, conseguira uma!

Qual foi a lição, incorporada na prática do dia a dia para todo o resto da vida? O valor impagável das diferenças! Porque algo assim, assimilado na fase da infância e da formação da personalidade, certamente contribuiu para a compreensão precoce de que toda e possível diferença traz, embutido, o seu valor intrínseco!

Uma mentalidade formada neste sentido, portanto, é a responsável por, mais tarde, se oferecer à sociedade o adulto maduro, do ponto de vista, sobretudo espiritual, para, ainda mais nos dias caóticos da atualidade, sobrenadarem preconceitos arraigados que há séculos contribuem apenas para transformar a vida em sociedade num inferno. 

O preconceito contra a diferença! A convivência com o diferente - algo que a humanidade, de uma forma global, ainda encontra dificuldades francas para lidar a contento, em nome de uma coexistência humana harmoniosa e mais feliz!

A concha preta! O se valorizar, com visão de dentro e amor franco, toda e qualquer manifestação de vida, desde os animais até os seres humanos, sejam quais forem seus característicos de raça, de preferências, de aparências, de limitações de saúde, ou de idade!

Sejam brancos, pardos, negros, asiáticos, orientais; cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, espíritas ou evangélicos; homo ou heterossexuais! Pessoas com necessidades especiais, idosos, pobres ou ricos, sem esse escalonamento utilitário e opressor de classes pelo qual se habituou a referir, dentro de nossos contextos sociais, a nada mais do que seres humanos!

Sim! A grande verdade! Seres humanos - habitantes de um mesmo planeta! -expressões diversificadas do Criador, com a mesma centelha de vida idêntica dentro de si! Matizados, apenas, nas suas manifestações pessoais, sob os coloridos culturais, sociais, familiares, e de acordo com cenários, idiomas diferentes, obedecendo ao uso sagrado do livre-arbítrio, que requer do circunstante apenas o uso do respeito, em toda e qualquer situação, e em nome de um cenário pacífico para uma nova realidade, de melhor qualidade para todos, na infinidade de lugares do nosso mundo!

A lição de meu pai ficou para a eternidade. E sempre hei de lhe ser grata, porque, com cerca de sete ou oito anos de idade, eu já sabia valorizar e me alegrar com a concha preta! A mais bela e a mais rara! Exatamente por sua diversidade mais escassa, difícil de se encontrar, que representava nada menos do que a capacidade suprema da Vida para a criação, para a inovação constante, sempre no rumo do ineditismo - ensinando-nos a nos encantarmos com o desconhecido e com o enriquecedor do e no outro, como em nós mesmos, ao longo das experiências pródigas do cotidiano!

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita