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Correio Mediúnico
Ano 8 - N° 404 - 8 de Março de 2015
 
 

 

Aflitiva lição

 Josefina


Conduzida por enfermeiros amigos para um leito de reencarnação, à maneira de mísera doente para uma cela de hospital, recomendam eles vos fale alguma coisa de minha angústia.

Entretanto, a boca humana foi feita para assuntos humanos e, para narrar-vos o meu infortúnio terrível, seria preciso que o pranto, o fogo e o sangue tivessem uma voz...

Sou mãe criminosa, embora não chegasse a ser mulher pervertida.

Jovem ainda, mas abandonada pelo homem que me traíra a confiança, não tive coragem de enfrentar a maternidade chamada ilegal diante dos homens.

Envergonhada de mim mesma e olvidando o brio que toda consciência deve cultivar diante da Lei de Deus, esperei o rebento de minha carne entre o ódio e a desconfiança, sentindo que labaredas de sofrimento me requeimavam a carne, retesando-me o ser.

Soube guardar o meu segredo... Esperei o momento azado e, a sós comigo, quando a criança vagia no silêncio da noite, com as minhas próprias mãos asfixiei-a, tomada de frieza satânica. Ergui-me do leito, não obstante enfraquecida, e consegui-lhe um túmulo improvisado, mas, em voltando aos lençóis que me resguardavam, o sangue borbotou-me em ondas insopitáveis, até que um sono pesado me tomou a cabeça, perdendo-se-me o raciocínio.

Não posso precisar quanto tempo gastei, entregue a semelhante torpor, contudo, lembro-me perfeitamente do horrível instante em que despertei, amolentada, experimentando o assédio de vibriões assassinos.

Achava-me, disforme, num leito estranho, pleno de sombra, enregelada, visitada por vermes asquerosos... Agitei minhas mãos, tateei o meu corpo e notei que o sangue continuava a fluir do baixo ventre. Sangue pestilencial, sangue podre...

Reergui-me horrorizada. Caminhei vacilante. Pisei detritos de carne, cujo fétido odor me impunha náuseas incoercíveis. Consegui ensaiar alguns passos e vi-me no cemitério.

Gritei, aloucada, pelo socorro de meus parentes. Vermes famintos atacavam-me, vigorosos. Clamei por auxílio, até que uma voz igualmente chorosa me respondeu.

Aproximou-se alguém de mim. Era outra mulher. Aos meus olhos, trazia uma criança nos braços. Diante dela, passei a ouvir os gemidos de meu filhinho assassinado. Pusemo-nos ambas a gritar estentoricamente. Entrelaçamo-nos uma à outra.

Abandonamos o sítio infeliz, para encontrar uma terceira mulher, não muito longe, que clamava também por socorro. Depois de mais alguns passos, encontramos uma quarta companheira e, pelas ruas afora, dentro da noite, na cidade dormente, outras mulheres se juntaram a nós.

Umas exibiam sinais arroxeados dos golpes que lhes haviam sido vibrados no seio, outras mostravam chagas abertas no colo exposto, outras traziam, como eu, o próprio ventre aberto...

Algumas ziguezagueavam no solo, rastejantes, outras tinham acessos de fúria, histéricas, indominadas, enlouquecidas e, de quando em quando, outras bailavam, gargalhavam, gemiam, estertoravam, até que, formando extensa nuvem de loucura e de pranto, nos movemos tocadas por faunos desnudos, que mais se assemelhavam a demônios egressos de pavorosas regiões infernais.

Tentei desvencilhar-me de semelhante companhia, mas achava-me imantada àquele triste grupo, como se correntes férreas a ele me retivessem.

Tangidas quais se fôssemos varas de bestas, em gritos de pavor e requebros de demência, fomos apresadas numa casa de meretrício em que o álcool e o entorpecente surgiam a jorros... E a estranha legião começou a gargalhar e bailar. Cenas que vozes humanas, com todo o patético do mundo, seriam incapazes de definir, projetaram-se aos nossos olhos...

Implorei a bênção do Céu. Roguei proteção à Mãe Santíssima, para que se compadecesse de mim, enviando-me leve gota dágua ao vulcão de dor que me devorava as entranhas...

Braços piedosos apartaram-me, então, do rebanho sinistro. Fui internada num manicômio que não saberei descrever – naturalmente aprisionada, porque a loucura me invadira o espírito e o fogo da alienação mental me calcinava os nervos.

Ouvi preleções sobre a vida eterna, ouvi preces, rogativas, exortações, frases consoladoras, leituras edificantes, contudo, na cela que as minhas trevas de mãe delituosa povoavam de pesadelos amargos, eu apenas ouvia o choro de meu filhinho...

Cristalizara-se-me a aflição. As minhas recordações, tomando consistência, os meus pensamentos, materializados, e todo o cortejo de remorsos que eu não podia alijar da mente, subjugavam-me o crânio, dominavam-me os sentimentos e, a falar verdade, nada compreendi, porque as chamas do sofrimento me crepitavam na alma toda...

Alucinada, humilhada e vencida, roguei à Mãe Santíssima novo acréscimo de piedade, e a Divina Estrela, advogada de todos os pecadores e, muito particularmente, a Mãe Augusta de todas as pecadoras da Terra, compadeceu-se de minhas penas...

É assim que transito hoje do hospício que me albergava para o berço de provação que me aguarda no mundo. Volto, hoje, a nova experiência terrena...

Que gênero de luta me espera?

Serei estrangulada ao nascer?

Terei, mirradas, as mãos assassinas?

Ou quem sabe exibirei na via pública as chagas de um corpo aleijado e infeliz?

Nada sei do futuro... Sei, no entanto, que Nossa Mãe Celestial condoeu-se de minha sorte e que, amparada por nossa Divina Estrela, palmilharei o grande caminho da restauração.

Mãe Bendita, Mãe dos pecadores, Lírio de Nazaré, ajuda-me ainda; pois, em minha amargura, Mãe Amantíssima, não há senão justiça, não há senão harmonia, não há senão a misericórdia e a bênção da grande Lei.

 

Mensagem transmitida na noite de 23 de agosto de 1956. Do livro Vozes do Grande Além, obra mediúnica recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita