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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 403 - 1° de Março de 2015

JANE MARTINS VILELA
jane.m.v.imortal@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)

 
 
 

Vitoriosa centenária

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz...” (Jesus)


“Quando eu tinha sete anos, morava em Uberabinha, era muito difícil médico lá, costumávamos procurar curandeiros ou benzedeiros quando havia doenças. Fui levar meu irmão mais novo que estava doente, para minha mãe, que eu ajudava a cuidar, pois era a mais velha. Lá chegando, percebi que ele me olhava intensamente. Ele me disse: – Minha filha, você precisa fazer muita caridade, senão vai acabar numa cadeira de rodas. Eu não sabia o que era uma cadeira de rodas. Cheguei a casa, contei para a minha mãe e perguntei o que era uma cadeira de rodas. Ela sabia menos ainda. Estou aqui, andando até hoje com minhas próprias pernas, não fiquei paralítica e o curandeiro é meu amigo, de vez em quando vem aqui em espírito me visitar.”

Esse foi o início de um relato de uma senhora muito especial. Recebeu-nos em sua casa, em Cambé. Caminhava com ajuda de um andador, cega, um sorriso luminoso em sua face, uma simpatia enorme, muito carinhosa e lúcida. Mora numa chácara com a família. No dia 8 de maio de 2015 completará cem anos. Já convidou o Espírito de nosso querido Hugo Gonçalves, que também chegou aos cem anos, para estar com ela na comemoração de seus cem anos. Fala com naturalidade das visitas que recebe do Espírito de Jerônimo Mendonça, um dos grandes espíritas brasileiros, admirado e lembrado até hoje – “O Gigante Deitado”, conforme ainda é nomeado. Essa senhora responde pelo nome de Deolinda Abranches. Quem passa pela estrada, entre Rolândia e Cambé, não imagina que naquela chácara vive uma espírita de grande valor, uma das fundadoras do Centro Espírita Obreiros da Vida Eterna, de Santo André, São Paulo, há, segundo seus cálculos, uns sessenta anos. “Eu tinha quarenta anos”, disse-me ela. Mudou-se para Cambé há cerca de quinze anos, mas ainda se comunica toda a semana com as amigas do “Obreiros da Vida Eterna”. Sua vida é de amor ao próximo, trabalho e muito sacrifício para ajudar sua família, quando mais jovem. Nós nos ateremos aos seus relatos sobre o Espiritismo.

Aos quatorze anos de idade, morando na cidade de São Paulo, foi a um mercado, na época chamado de “venda”, para a sua mãe. Lá chegando, uma frase destacada na parede chamou sua atenção: “Tratai o corpo. Tratai a alma”. Aquilo a atraiu como um ímã. Tratar a alma? Como tratar a alma? Perguntou isso ao dono da “venda”. “Menina”, disse ele, olhando-a. (Ela, com tranças no cabelo, sandálias nos pés, vestido simples de chita, lembrava uma menininha.) “Você é muito nova para querer saber essas coisas”, disse ele. “Mas eu quero saber”, insistiu ela. “Como tratar a alma?” Ele a levou para a esposa, que lhe disse que ela era muito nova, mas que sentia que ela precisava saber. Levou-a ao salão de reuniões. Venha quarta às 20 horas, dia de nossa reunião, você verá como se trata a alma. Ela chegou a casa, contou à mãe. “Lá vem você de novo”, disse ela. Com sete anos queria saber da maçonaria, subia nas caixas e olhava lá dentro onde eram as reuniões e voltava contando para a mãe o que tinha visto no local. Agora isso? A mãe a colocou para lavar a louça toda para se atrasar para a reunião, mas ela conseguiu chegar a tempo.

O dono da venda aguardava por ela, para fechar a porta. Era uma reunião mediúnica, todos sentados, concentrados ao redor da mesa. A esposa do vendeiro gentilmente a levou para sentar-se à mesa. “Concentre-se minha filha”, disse ela. Ela fechou os olhos. Pôs as mãos no rosto como via os outros, mas, curiosa, olhava por entre os dedos, para ver o que aconteceria. A esposa do vendeiro, com paciência, aproximou-se e lhe disse: “Você não quer ver como se trata a alma? Então, feche os olhos, concentre-se que verá”, disse ela. Deolinda o fez. Pouco depois se iniciaram as comunicações mediúnicas e ela ficou encantada. Emprestaram-lhe O Evangelho segundo o Espiritismo e ela se encantou mais ainda. “Mamãe, dizia ela, eu sei tudo o que está aqui!”

Em 1929, a mãe a fez devolver o livro, com ameaça de queimá-lo, e proibiu que ela frequentasse a reunião. Dois anos depois, em 1931, com dezesseis anos, começou a namorar e o namorado, para agradá-la, comprou-lhe o livro que ela lhe pediu: O Evangelho segundo o Espiritismo.

Aos quarenta anos de idade ela e um grupo de mulheres se juntaram em trabalhos nobres, numa área perto de uma grande favela em Santo André, onde morava então. A partir disso e de seus esforços, surgiu o centro espírita “Obreiros da Vida Eterna”. Suas histórias dessa época dariam muitas páginas neste jornal, então nos limitamos a alguns fatos.

Deolinda Abranches fez palestras até os 85 anos de idade. O trabalho que mais a encantava, no entanto, era na área de evangelização infantil com as crianças da favela. Disse ela que os evangelizadores dos outros centros, há muitos anos atrás, nos encontros de evangelizadores do estado de São Paulo, lhe perguntavam como ela conseguia. Suas crianças iam limpas e cheirosas, não usavam mais estilingues, não usavam mais canivetes, não brigavam mais. “Com amor”, ela dizia. Mas dava a receita da “limpeza”. Fez campanha, comprou sabonetes, dentifrícios, escovas de dente, vasilhames e entregou para os seus 36 alunos, ensinando-lhes como tomar banho e escovar os dentes. Só tinha uma torneira para a favela inteira, então, tinham que ficar em fila, não brigar e encher o vasilhame de água, levar para casa e tomar banho. “Quem não vier limpinho, cheiroso, não ganha bolo”, dizia ela. Como todos queriam bolo, todos iam limpos.

Seus olhos marejaram de emoção ao se recordar de um dia das mães. Ela ensinou as meninas a fazerem bicos de crochê nos panos de prato e os meninos, trancinhas. Embrulhou carinhosamente os presentes para levarem para as mães. Quando iam se retirando, uma das meninas, a mais pobre, órfã de pai, lhe levou uma linda flor de presente. Ela havia economizado durante meses cada moedinha que ganhava, juntou tudo para lhe comprar a flor, como presente do dia das mães.

Deolinda conheceu Jerônimo Mendonça quando ele fez palestras em Santo André. Fez campanha para o Lar Espírita Pouso do Amanhecer, que ele fundou, em Ituiutaba, Minas Gerais. Conseguiu lençóis para as crianças e brinquedos também. Não é de estranhar, portanto, que hoje o Espírito dele a visite fraternalmente.

Quando ouvimos sua história, pensamos como Deus é infinitamente bom e misericordioso. Permite que o amor se difunda através de seus filhos mais esclarecidos. Hoje, aos 99 anos, ela sorri e diz: – Não fiquei paralítica, sempre agi com a caridade nos atos.

Uma receita para a lucidez nessa idade: amor e trabalho no bem. Hugo Gonçalves foi assim também. Lúcido aos cem anos.

Feliz época aquela em que aos sete anos (em 1922) alguém podia falar o que falou ao Espírito daquela criança, o curandeiro, sem ser injuriado ou condenado por isso. Despertado, o Espírito, aos 14 anos, quis entender como tratar a alma e, aos 16, recebeu o Evangelho de presente. Uma vida de poucos, a vida toda servindo ao bem, com amor, e agora, próxima dos cem anos de idade, anônima em Cambé.

Que nós, espíritas, nos espelhemos sempre em Jesus, nosso modelo e guia, mas aproveitemos essas vidas que são exemplo de amor ao próximo, para que, por nossa vez, façamos a parte que nos é pedida de amor, fraternidade e tolerância. Que possamos ter, na velhice, boas recordações, como a dona Deolinda.



 


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