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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 401 - 15 de Fevereiro de 2015

MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br

Taguatinga, Distrito Federal (Brasil)

 
 
 

Tudo posso, mas nem
tudo me convém
 


Há mais de dois mil anos, um rico mercador grego tinha um escravo chamado Esopo. Um escravo corcunda, feio, mas de sabedoria única no mundo. Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou:

Toma, Esopo. Aqui está esta sacola de moedas. Corre ao mercado. Compra lá o que houver de melhor para um banquete. A melhor comida do mundo!

Pouco tempo depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:

Ah, língua? Nada como a boa língua que os pastores gregos sabem tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo?

O escravo, de olhos baixos, explicou sua escolha.

O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua é que une a todos, quando falamos. Sem a língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, do amor, da compreensão. É a língua que torna eternos os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos “mãe”, “querida” e “Deus”. Com a língua, dizemos “sim”. Com a língua dizemos “eu te amo”! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor?

O mercador levantou-se entusiasmado:

Muito bem, Esopo! Realmente tu me trouxeste o que há de melhor. Toma agora esta outra sacola de moedas. Vai de novo ao mercado e traze o que houver de pior, pois quero ver a tua sabedoria.

Mais uma vez, depois de algum tempo, o escravo Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso:

Hum... já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior.

O mercador descobriu o prato e ficou indignado:

O quê?! Língua? Língua outra vez? Língua? Não disseste que a língua era o que havia de melhor? Queres ser açoitado?

Esopo encarou o mercador e respondeu:

A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que vende, que seduz, que corrompe. Com a língua, dizemos “morre” e “demônio”. Com a língua dizemos “não”. Com a língua dizemos “eu te odeio”! Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as coisas!

Este texto é evocado para tecermos alguns comentários acerca dos últimos acontecimentos na França. Toda forma de violência é lamentável! O terrorismo não se justifica em nenhuma hipótese. Mas é preciso considerar que há uma linha tênue entre a tal "liberdade de expressão" e o desrespeito.

Fazer caricaturas de um líder religioso (como o profeta Maomé) é perigoso; é grave! Especialmente, quando lidamos com fundamentalistas/radicais.

Aqui no Brasil há também a tal “liberdade de expressão” e é em nome dela que ocorrem violências simbólicas, que se tornaram corriqueiras, infelizmente.

É em razão dela que alguns religiosos vilipendiam as religiões de matriz africana; propagam absurdos sobre elas. É em nome da tal liberdade de expressão que certa feita um líder religioso resolveu chutar/quebrar a imagem de Nossa Senhora, porque, segundo essa pessoa, cultuar imagens era um equívoco. É em nome da tal liberdade... que a Igreja, por exemplo, proíbe determinados filmes, como o "Inútil Paisagem" do diretor José Padilha, ou faz uma pressão para a grande mídia não divulgar os casos pavorosos de pedofilia em seus porões. A tal liberdade de expressão só é conivente para quem dá as cartas. E o preço disso é bastante alto!

Este é um tema delicadíssimo e não se esgotará com essas breves linhas redigidas...

A liberdade tem um preço altíssimo! As pessoas que lutaram e lutam por ela que o digam. Contudo, em minha opinião, a fábula de Esopo sobre o uso da língua é brilhante! Ela é portadora de um ensinamento profundo.

A língua (e aqui compreendamos qualquer tipo de manifestação escrita, verbal, visual, charges...) pode tanto contribuir para a edificação de uma sociedade melhor, mais justa, mais igualitária, como pode destruí-la, provocar guerras, enfim. Infelizmente, os cartunistas franceses morreram de modo estúpido. Mas eles sabiam do perigo que corriam. E é este o ponto. Será que tudo pode ser dito mesmo sem medirmos as consequências?

Vejamos o trecho de uma reportagem sobre os tais "cartoons" muito antes do atentado terrorista:

"Editor do satírico 'Charlie Hebdo', conhecido apenas como Charb, exibe a última edição da revista, que traz na capa uma charge sobre o Islã. A França anunciou que fechará temporariamente embaixadas e escolas em 20 países após a publicação. O Facebook retirou da página da revista francesa Le Point na rede social a reprodução da charge do profeta Maomé nu, publicada originalmente pelo semanário satírico francês Charlie Hebdo. Sob o título "Por que Charlie Hebdo brinca com fogo?", a charge foi publicada pela Le Point nesta quarta-feira. Uma hora depois, a rede social americana retirou a postagem da fotografia, informando ao administrador da conta que o conteúdo "não está de acordo com o regulamento em vigor" no Facebook, segundo informou a revista francesa nesta quinta-feira. A maior rede social do mundo costuma bloquear conteúdos com referência a nudez e a sexo explícito"  (veja.abril.com.br/noticia).

Ora, se eles já sabiam do risco, para que ou qual a utilidade de se aviltar as idiossincrasias alheias? Se o leitor tiver a curiosidade de realizar uma busca acerca das tais charges, não será difícil constatar que são de péssimo gosto. São racistas, preconceituosas, machistas etc.

A tal “liberdade de expressão” pode ser exercida sim, mas que se arque com as consequências desse direito. Penso que a cada um, segundo as suas obras. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.

Porém, muitos confundem. E é em nome da “liberdade de expressão” que se ofendem negros, homossexuais, pessoas com necessidades especiais, mulheres, nordestinos, líderes religiosos ou religiões, propagam-se calúnias, difamações, etnocentrismos...

A liberdade de expressão é um direito ainda pouco compreendido em sua essência para a grande maioria das pessoas. Ela só convém para aqueles que ditam as regras. Mas, quando eles são aviltados no mesmo diapasão, a situação muda de contexto.

Sua Santidade, o Papa Francisco, disse recentemente que “temos a obrigação de falarmos abertamente, de ter essa liberdade, mas sem ofender” (g1.globo.com/mundo/noticia).

Sua fala é a consequência do que foi dito pelo Apóstolo dos gentios há muitos anos: Tudo posso, mas nem tudo me convém.

Qualquer cidadão cônscio das ciências jurídicas sabe que nenhum direito é absoluto, inclusive a liberdade de expressão.

Abominável o terrorismo. Mas, execráveis uns rabiscos que denominam arte.


 



 


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