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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 400 - 8 de Fevereiro de 2015

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)

 
 
 

Puritanismo espírita

 

No estupendo livro “Além do Rosa e do Azul: Recortes Terapêuticos sobre Homossexualidade à Luz da Doutrina Espírita” o psicólogo Gibson Bastos conta a história de uma senhora espírita que, certa vez, disse a alguns jovens do centro que sexo era apenas para reprodução. Ela não é a única. Já ouvi isso de alguns expositores espíritas, mas foi na década de 80 do século passado. Espero que eles ainda não estejam dizendo isso por aí. É muito chato quando, inadvertidamente, falamos, em nome da Doutrina, palavras que a Doutrina não disse. A afirmativa dessa senhora, pelo que o livro descreve, foi mais recente.

Após ter dito o que disse, foi questionada por um dos jovens. Ele perguntou quantos filhos ela tinha. Resposta: dois. Não teve mais porque as condições, na ocasião, não permitiram. Ela fez laqueadura de trompas e fechou a fábrica, mas, segundo disse, gostaria de ter engravidado mais vezes. O jovem, então, argumentou que ela e o marido provavelmente nunca mais tiveram relações sexuais, já que sexo é só para reprodução. Nesse caso, ela nem precisaria ter feito a laqueadura. Se sexo é só para reprodução, para que fazer essa cirurgia? Era só nunca mais transar. Afinal, sexo é apenas para reprodução.

Chateada e ofendida, a senhora afastou-se. Não deveria ter se agastado tanto. O argumento do jovem é pra lá de correto.

Fico pensando em que livro espírita ela leu que sexo é apenas para reprodução. Gibson, ao comentar esse fato, cita o capítulo 18 da obra “Evolução em Dois Mundos”, do espírito André Luiz e psicografada pelo médium mineiro Chico Xavier. Nela, André Luiz esclarece que o sexo, muito mais que agente de reprodução, é um reconstituinte espiritual por meio do qual as criaturas se alimentam mutuamente. É a permuta de forças psicomagnéticas, tão necessárias ao progresso humano. Em suma: sexo é para reprodução para quem quer procriar. Mas é, antes de tudo, importante meio de harmonização de energias físicas e espirituais.

Isso me lembra de um seminário a que assisti da psiquiatra carioca Anete Guimarães. Ela, expondo com muita propriedade sobre os circuitos cerebrais beneficiados pela energia do sexo, disse que quando um casal se entende muito bem sexualmente libera uma energia tão grande a ponto de ambos ficarem 48 horas ouvindo melhor e enxergando com cores mais nítidas. Sexo, portanto, faz um grande bem, principalmente entre pessoas que se amam e se desejam.

A Doutrina Espírita é moderna. Acompanha as mudanças sociais e sempre dá respostas consoladoras às criaturas. E é moderna também porque joga por terra muitos temores infundados e conceitos equivocados que as religiões tradicionais puseram na cabeça dos homens ao longo dos séculos.

Há tempos somos – e muitos ainda são – doutrinados por religiões que condenam o prazer sexual. O Espiritismo é relativamente novo. Foi codificado por Allan Kardec em meados do século 19, na França. Ao migrarmos para o movimento espírita, às vezes trazemos para ele, sem perceber, várias posturas oriundas de outras religiões. Dentre elas, a de que sexo existe apenas para fins reprodutivos.

É comum que tais equívocos aconteçam. Não estamos acostumados com um Consolador Prometido que liberta a criatura de grilhões seculares. Mas devemos ter cuidado em não deturpar a mensagem espírita, adaptando-a aos preconceitos e puritanismos que ainda trazemos em nossa bagagem. Precisamos jogar essa bagagem fora. Ela é pesada e não é mais apropriada. Tratar o sexo como assunto proibido e feio que só deve ser praticado para fins reprodutivos não condiz mais com os tempos atuais. Principalmente quando se fala em nome do Espiritismo.

São vários os exemplos dessa monta. No livro “Para Rir e Refletir”, logo no primeiro capítulo, o escritor e expositor paulista Richard Simonetti comenta sobre a seguinte dúvida de um colega espírita: a prece antes de dormir deveria ser feita antes ou depois do ato sexual? Ele achava que se fizesse sexo logo depois da prece, o efeito da mesma cairia por terra, já que ele e a esposa se entregariam aos prazeres da carne. E se fosse depois, não teria coragem de conectar-se com Deus; sentir-se-ia como uma criança que vai se explicar com o pai depois de ter feito uma travessura. Simonetti responde que, quando o casal se ama, o ato sexual já é uma prece. Nada de culpa ou pecado. Apenas o momento mais profundo da intimidade de duas pessoas que se gostam. Simples assim.

É interessante notar como muitos espíritas, a pretexto de serem espiritualizados, tratam a questão sexual como algo negativo.

O mesmo Gibson Bastos citado há pouco contou, num seminário sobre homossexualidade realizado em Petrópolis, RJ, que, certa vez, foi abordado por dois rapazes no centro espírita onde evangeliza a mocidade. Gibson é psicólogo especialista em sexualidade, e os dois jovens tinham dúvidas sobre o assunto. Ele, então, prestou os esclarecimentos necessários. Uma senhora, colaboradora do centro, estava por perto e acabou ouvindo parte da conversa. Quando os rapazes se retiraram, ela, de forma severa, perguntou ao Gibson: - Precisava ter utilizado um vocabulário tão pesado? Gibson, sem entender a argumentação, questionou: - O que a senhora acha que eu falei demais? Ela retrucou: - Você falou pênis e vagina! Gibson arrematou: - Vem cá, a senhora queria que eu dissesse o que para dois rapazes? O piu-piu e a florzinha?

Ofendida com a resposta e contrafeita, a senhora afastou-se, resmungando. Decerto foi educada de forma puritana e não percebeu que a Doutrina Espírita é libertadora.

Todas as partes do corpo humano têm nome específico. Fígado, mediastino, braço, fêmur, tímpano, perna, estômago, uretra etc. Os órgãos reprodutores também. Chamam-se pênis e vagina. No entanto, são os únicos que levam apelidinhos fofos ou termos pejorativos. Como o sexo ainda é um tabu na cabeça de muita gente! De espíritas, inclusive.

Que mal há em falar pênis e vagina dentro de um centro espírita? Será que as pessoas pensam que a vibração espiritual vai cair e espíritos menos esclarecidos, afeitos a viciações sexuais, irão entrar e fazer a festa? Como eu disse, os órgãos genitais têm nome. Tratemo-los pelos nomes, portanto. O problema está em trazer a educação puritana para dentro do centro espírita e, em nome da Doutrina, exercer falso moralismo. Deixemos o Espiritismo fora disso e mudemos a mentalidade. Sexo faz parte da vida e deve ser tratado com naturalidade. Lógico que com o respeito e seriedade, pois tem a ver com a vida íntima das pessoas. Nunca, no entanto, como se fosse um tabu. Não é essa a proposta da Doutrina Espírita, que tem inúmeros autores encarnados e desencarnados debruçados sobre o tema.       



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita