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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 398 - 25 de Janeiro de 2015

DENISE LINO
deniselinoaraujo@gmail.com
João Pessoa, PB (Brasil) 

 
 
 

Intolerância & preconceito

Saltam aos olhos preconceitos dos vários lados,
alimentados pela intolerância


O atentado terrorista à sede do jornal satírico Charlie Hebdo, no último 7 de janeiro, exige de nós, os espíritas, sérias reflexões à luz do Evangelho e da Doutrina Espírita. Creio que precisamos analisar com isenção o que significa o lema - Je suis Charlie - repetido por multidões mundo afora, antes de sair repetindo-o ingenuamente.

Informados pela imprensa ocidental, portanto uma imprensa de modo geral comprometida com grandes conglomerados econômicos e políticos, com interesses bem claros em exaltar que nós, os ocidentais, somos melhores e evoluídos, o que a maioria de nós sabe é que os mulçumanos são beligerantes, radicais e impiedosos. Há uma imagem comum que homens de turbante e vestindo túnicas são potencialmente terroristas e que mulheres que usam a hijab são submissas. Todavia, o mundo islâmico é um mosaico, tal como o mundo cristão. Entre nós há os católicos romanos, ortodoxos, os protestantes das várias ramificações, nós, os espíritas, entre outros... Entre eles também diversas ramificações, inclusive os terroristas. Também do nosso lado há os que em nome da fé cometem e cometeram crimes hediondos. Mal comparando, é como se de nossa parte todos os de lá fossem terroristas e eles achassem que do lado de cá todos fossem pedófilos, dada a divulgação de crimes dessa natureza cometidos por clérigos.

Posto esse mosaico, vemos que nele há uma peça mal encaixada: o terrorismo praticado por radicais extremistas, ligados ao Estado Islâmico – um califado autoproclamado governo de toda a fé islâmica, sem limites geográficos e que age na base da força bruta e de métodos espúrios como a degolação de infiéis, leia-se de estrangeiros ou dissidentes. Por enquanto, esse governo se espalha por uma faixa de terra que vai do Iraque à Síria, com ramificações em todo o mundo através da presença de mulçumanos dispostos ao combate, porque os radicais desconhecem as leis dos países onde cresceram ou se refugiaram e querem que suas leis religiosas prevaleçam sobre as leis civis desses países. Em caso contrário, estão dispostos a matar e morrer em nome do profeta Maomé, numa interpretação que não encontra sustentação teológica nem diplomática.

O terrorismo é ação sórdida que conspira contra todas as conquistas de paz, diplomacia e de civilidade já assimiladas pela humanidade. Não há como dizer que não é grave ou não lhe dar atenção através de mecanismos de inteligência policial que o coíbam. Joanna de Ângelis, no livro Triunfo Pessoal, define-o como “distúrbio coletivo” que só se estrutura porque conta com a cooperação de indivíduos que “mantêm-se agarrados a instintos primários, desprovidos de sentimentos nobres, portadores de estruturas esquizofrênicas que os fazem liberar forças hediondas do primitivismo que se impõe pela tirania, abraçando o fanatismo que o caracteriza como um indivíduo primário, que em função da sua estrutura psicológica mórbida possui graves desvios da libido, invariavelmente atormentado nas suas manifestações, com severos distúrbios das funções sexuais, ocultando o vazio existencial na exorbitância dos instintos agressivos [1] nos quais se compraz.” E prossegue: “frio emocionalmente, perverso, porque insano, não possuindo qualquer amor à vida, faz-se odiar, porque se sente incapaz de despertar qualquer sentimento de amor, desencadeando a erupção da selvageria interna, que o promove a uma situação de destaque, na qual tramita rapidamente, porque detesta a vida e todas as  suas conquistas.... Incapaz de amar, porque se sente ancestralmente odiado, desenvolve perturbação do discernimento, por meio de cuja ótica as demais pessoas são todas adversários que devem desaparecer, quando ele também sucumbirá.”

Lendo a descrição acima é fácil entender a intrínseca e conflituosa relação entre desejo de poder e intolerância propagada pelo terrorismo e pelos terroristas, para os quais evidentemente a mensagem de Jesus se mostra como único caminho de soerguimento, o que sabemos dar-se-á depois.

Todavia, o caso em pauta não tem apenas um lado. Há vários... Há, por exemplo, o lado da provocação promovida sob o manto da liberdade de expressão pelo jornal francês. Para entender a questão, cabe informar que se trata de um jornal satírico, ou seja, uma publicação cuja pauta se caracteriza(va) pela perspectiva mordaz, picante, ridiculizando a tudo e a todos e não raro dando a toda e qualquer notícia uma conotação sexual desviante. Para efeito de comparação, era para a França mais ou menos o que o Pasquim foi para o Brasil na época da ditadura, porém com muito mais escracho. Uma publicação que se tornou conhecida depois que republicou charges ofensivas ao profeta Maomé originalmente publicadas num jornal dinamarquês. Daí para frente, a temática muçulmana passou a ser rotina na pauta, porque foi aquela que deu “ibope”. Ou seja, qualquer coincidência entre viabilizar financeiramente o jornal e usá-lo como meio de propaganda ideológica a favor de preconceitos não foi mera coincidência. E viabilizou-se porque tinha leitores. Assim como o terrorismo se viabiliza porque há gente disposta a levá-lo adiante.

Esse parece ter sido o estopim que levou ao fato: preconceitos constantemente alimentados e reforçados através de ações sociais. Sabemos através da imprensa, do cinema e da literatura engajada a dificuldade que estrangeiros têm de se inserirem no tecido social francês e no europeu de modo geral. É histórico o preconceito contra estrangeiros, notadamente negros, latinos americanos e muçulmanos pobres. Os jornalistas franceses do Charlie sabiam, sim, que suas charges eram ofensivas. Tanto que a publicação se autointitula(va) “jornal irresponsável[2]” e muitos jornais do mundo inteiro que têm mulçumanos entre seus leitores não as republicavam em respeito a eles. Durante a cobertura do atentado, vários informaram isso em seus editoriais.

Feita uma análise do caso à luz da Lei de Liberdade[3], verificamos que a ação dos jornalistas franceses não encontra amparo em nenhuma das questões. A título de exemplificação transcrevemos aqui a questão 826 de O Livro dos Espíritos.  Kardec perguntou aos mentores: em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade? “Nas do eremita no deserto. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta.” Ou seja, é preciso lembrar que a sociedade se organiza em função de direitos recíprocos. Além dessa, também a questão 839, na qual o questionamento é: será repreensível aquele que escandalize com a sua crença um outro que não pensa como ele?  E a resposta: “isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento.” Logo, vemos que no caso em pauta escasseia a caridade e há, senão vários, pelo menos um escândalo, qual seja o de representar em desenhos o profeta Maomé, ato considerado inadmissível entre os mulçumanos.

Trazendo, então, o lamentável episódio para um exame à luz da mensagem de Jesus, vemos muitos outros aspectos complicadores que não isentam nenhum dos lados pelos excessos cometidos. Lembramo-nos particularmente da sentença: Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado (Mateus 25:29), quando trazemos à mente os jornalistas mortos. Todos eles famosos e bem instalados no conforto do tecido social que os acolheu, todavia levaram às últimas consequências a sua condição de representantes da liberdade de expressão. Lembramo-nos também da sentença: ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo venha! (Mateus 18:7) quando nos lembramos dos terroristas que têm uma causa política a defender, que é a da opressão internacional a que seu povo, sua história e sua religião são submetidos, mas nada disso legitima tamanho escândalo, cujas consequências pessoais e sociais serão por eles assumidas, porque a Lei de Evolução não tem cotas.

Profundamente consternada com o episódio, verificamos nele uma raiz perniciosa que também tem suas sementes na nossa sociedade e que somente as almas lúcidas não a plantam: o preconceito e a intolerância. Em ambos os lados da questão em apreço há a presença demasiada desses filhos do orgulho e do egoísmo. Sobre o preconceito, Joanna de Ângelis afirma, no livro Fonte de Luz, que este é “(...) chaga moral que ainda se demora no organismo social e deve ser combatido tenazmente. Gerador de conflitos, nos quais predomina a impiedade, responde pelas guerras destruidoras, nas quais povos e nações se atiram uns contra os outros devorados pela volúpia da alucinação. Dividindo as pessoas e classificando-as sob padrões que as chancelam, a umas engrandecendo e a outras estigmatizando indevidamente, o preconceito racial, político, social, religioso, tem levado gerações volumosas à miséria, ao degredo e à morte infamante. Qualquer tipo de preconceito traduz atraso ético e espiritual.”

Aplicando essa definição ao caso, saltam aos olhos preconceitos dos vários lados, alimentados pela intolerância e pelo desrespeito ao outro e à sua forma de expressão. Os atentados ao jornal e ao mercado judeu traduzem compreensões fanáticas de mundo e de vida. Mas as charges também. Ambos devem ser rejeitados veementemente, porém, pacificamente. O fanatismo, seja ele religioso ou de qualquer natureza, revela incapacidade de perceber, dialogar e de conviver com o diferente.

Jesus foi alvo de inúmeras expressões de preconceito, a começar pelo fato de que as pessoas se perguntavam o que bom poderia vir de Jerusalém (Jo., 1:40–46). Como Governador da Terra venceu todas elas e legou à humanidade o paradigma do amor ao próximo e até aos inimigos, portanto, um paradigma de Amor e de inclusão.

Nesta hora de dor da humanidade, não conseguimos dizer como a multidão que sou Charlie, pois esta palavra ainda está carregada de forte conteúdo ideológico, mas conseguimos dizer aos vários lados envolvidos na questão que Jesus é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6). E também a Liberdade! Sem Ele, nenhuma causa se legitima.                                                            


 

[1] Grifos da Mentora.

[2] Confira imagens na internet.

[3] Recomendamos a análise de toda a Lei, pois várias questões trazem importantes esclarecimentos sobre o tema.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita