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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 393 - 14 de Dezembro de 2014

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 
 

A doutrina do elogio


Elogiar é atitude que, quando revestida de sinceridade, honestidade de intenções, se associa naturalmente ao exercício do amor confraterno, tão necessário em todos os tempos para que as sociedades humanas, imbuídas da noção exata do valor da vida, progridam gradativamente do estado da barbárie egoística até ao nível do homem situado em patamares de ordem espiritual evolutiva superiores.

Nada obstante, singular a percepção de que, na medida em que o mundo avança em conquistas materiais e tecnológicas, a simplicidade suprema desta verdade aparentemente se perca da capacidade do ser humano para apreendê-la em seu íntimo, e aplicá-la em benefício próprio e no dos semelhantes que o cercam. 

Lembro-me de dois episódios dos quais retive marcante impressão, embora em níveis paradoxais: da lição positiva deixada por uma senhora distinta do meu conhecimento, durante breve diálogo no decorrer de um dia de trabalho, tanto mais porque, de índole, me dedico a praticá-la, na medida de minhas possibilidades, podendo constatar a sua eficácia natural; e de algo ouvido também em outra conversa casual, muitos anos antes, de pessoa da qual me surpreendeu grandemente as diretrizes das atitudes, tanto mais por ser benquista, e repercutida como indivíduo devotado ao exercício amável e confraterno nos relacionamentos. 

A primeira personagem - a senhora gentil - comentou que criou seus filhos "na base do elogio". Mas não entendam a assertiva com base no elogio irresponsável e imerecido. Aludiu, ela, ao incentivo saudável, idôneo, das qualidades verificadas naqueles que nos foram confiados à responsabilidade de pais e mães que sabem também o modo correto de orientar e lapidar as facetas necessitadas de reformulação nos caracteres em formação dos pequenos. 

É o se aplaudir o bom coração, a tendência por vezes prestativa, espontânea, nas iniciativas dos filhos, a inteligência por vezes aguçada; todavia, alertando-os, noutros momentos, quando necessário, para a inconveniência da indolência, e do egoísmo muito comum em muitos na fase turbulenta da adolescência. Isso, efetivamente, é o se educar: o se valorizar um "por favor" e um "muito obrigada" que as crianças aprendem, porventura com facilidade, para a boa convivência; o se oferecer o lugar aos idosos no coletivo urbano. Valorizar, nas personalidades em formação, o que em todas as fases da história humana se reveste de valor próprio - não transitório! Não acessório, como pode ocorrer ao se ser benquisto por se adotar o último estilo de corte de cabelo da moda!

O segundo episódio foi, como dito, um comentário inusitado, ouvido ao acaso durante diálogo informal, justamente sobre a importância do elogio:

"- Ah, eu não elogio mesmo, pra não dar cartaz!"... 

Inacreditável para alguns dos leitores? Sim. A mim também causou espécie ouvir tamanha mostra de falta de percepção para o modo como as coisas podem acontecer de forma mais feliz na convivência diária, com benefícios para todos; mas é preciso que se entenda a verdade indiscutível de que este tipo de mentalidade distorcida é produto crescente, com o passar das últimas décadas, de uma formação calcada num padrão quase selvagem de competitividade, no qual se assentou como rocha inabalável a ideia de que o indivíduo vale em função de seu utilitarismo, e não do que, de fato, é! 

Pouco importa, portanto, sob esta ótica, os prováveis talentos e qualidades naturais de que cada um de nós é portador, e que, em sendo reconhecido com equanimidade por, e para todos, reverteria num modelo de sociedade na qual seus cidadãos seriam muito mais realizados, felizes naquilo que criam e produzem. 

Todavia, no uso do conceito, em muitas mentes generalizado, de que "não se elogia para não dar cartaz", o que se requer, imperativamente, é o "se dar melhor que o outro". É o sobressair mais as autointituladas virtudes, de preferência em detrimento às existentes no seu próximo, que se pretende a mais apagada possível da percepção alheia, com o fim de fazer notar somente a si; de se vencer, deste modo, na competição salarial e profissional, em quaisquer meios existentes, pois, afinal, há que se ganhar, em tempos difíceis, o feijão com arroz. Há bocas a alimentar em casa, contas a pagar no final do mês, então, que me perdoe o próximo com seus talentos, capacidade e virtudes, certamente úteis se adequadamente aproveitadas em contexto condizente - mas, "primeiro, eu"!

E, assim, orientando-se sob essas diretrizes mesquinhas, alguém, em sã consciência, se dedicará a elogiar quem, ou o que quer que seja? 

Trata-se de uma doença grave, com origem no ego e na estrutura social vigente nos dias atuais, que, infelizmente, brota com vigor no íntimo dos adultos responsáveis pela criação saudável dos filhos; alastra-se, dali, para a formação de personalidade deles, e, daí, materializando efeitos tristes, em proliferação geométrica, no meio onde são e serão chamados a viver, transmudado, a partir disso, numa selva feroz. 

Do ambiente da escola onde o bullying violento oprime as diferenças, sem que o sistema pedagógico ainda tenha atinado com meios de orientar com eficiência para o se enaltecer as qualidades presentes em todos, à concorrência em concursos vestibulares discrepantes, nos quais quem tem mais chances de vencer são justamente os mais bem aquinhoados materialmente, a quem foi dada a oportunidade de se frequentar os melhores colégios; até aos círculos profissionais de trabalho, onde o foco é se superar o outro a todo custo, visando a cargos e salários vantajosos, o observável é que a singeleza quase cândida da Doutrina do Elogio vai por terra em mentes e comportamentos, pela desvantagem de, aparentemente, se ver destituída de utilidade no contexto das sociedades de hoje, nas quais as prioridades de ordem prática terminam por se impor no cotidiano de todos.

O que é preciso que se desperte no espírito da humanidade, todavia, é a compreensão definitiva de que o fracasso e a opressão sobre um será sempre o fracasso e a opressão sobre todos, mesmo acima e além do que possam sugerir todas as aparências. Porque ignorar conscientemente as virtudes alheias - existentes em todos, sem margens a dúvidas, apenas que somente mal aplicadas e aproveitadas - é pretender que a engrenagem simbiótica da vida prescinda de indivíduos robustos em motivação e realização própria; é iludir-se de que uma peça da engrenagem destituída de manutenção e cuidados não venha fatalmente a prejudicar o bom andamento de todo o resto! É isolar-se em uma ilha ilusória de vantagens pessoais, esquecendo-se convenientemente - mas não por muito tempo - que fatores deverão existir para um contexto de trocas saudáveis que visem, inclusive, aos próprios interesses e necessidades mais simples, na hora de se alimentar, vestir, de se saciar a sede...

E, numa realidade mundial em que seus componentes não são peças de maquinaria fria, passíveis de manutenção fácil, mas seres humanos, cujos meandros íntimos são exclusivos e muito mais complexos, o desfecho certo e fácil a se depreender de um tal atraso de concepção e aplicação das Leis da Vida será o fracasso individual e coletivo, em prazo não muito distante!

Valorizemos os nossos semelhantes, como queremos que se faça a nós mesmos. Nos inúmeros setores da vida, busquemos soluções que ofereçam, a todos, adequação de qualidades, realização íntima na produtividade em comum. Façamos assim em quaisquer ambientes aos quais sejamos chamados a conviver. E, um dia, haveremos de confirmar que a amorável Doutrina do Elogio - a da valorização ostensiva de toda e qualquer manifestação da vida humana - será, sempre, o caminho mais curto, mais próspero, para a realização efetiva e crescente de uma humanidade mais feliz!



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita