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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 392 - 7 de Dezembro de 2014

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Indaiatuba, SP (Brasil)

 
 
 

Brasilidade e a ambivalência
da cordialidade

 “Quem somos nós sem o socorro do que não existe?” – Paul Valéry


Às vezes me dou permissão para refletir sobre assuntos obscuros, mesmo como um exercício de escapismo extraído daquele aforismo de T.S. Eliot: “num país de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo”.  

Sou brasileira e, pós-eleição presidencial, não me agrada conviver com o arrependimento de esquivar-me de expressar uma perspectiva que diz respeito, no agora, a um certo mal-estar condizente com a nossa brasilidade contemporânea. 

O Brasil pode ser visto como um Estado-nação e, a despeito de que tem nome e história, território e fronteiras, população e governo, por que a tese da cordialidade do brasileiro, ou seja, o mito de que seríamos o país da generosidade, da civilidade, da hospitalidade gratuita – a terra do coração – persiste? 

Por que continuamos a negar nossa cotidiana violência, nosso ódio, nosso ressentimento social, a ira que nos assola na casa e na rua? 

Em outros termos: por que não abrimos mão de hábitos culturais dissimulados, que modelam, geração após geração, a farsa de um Brasil tecido por um povo pacífico, avesso a brigas, guerras ou revoluções, segundo um estereótipo crivado de cordialidade e bom coração? 

O mito do brasileiro cordial, segundo uma máscara do “sujeito simpático e afetuoso”, na verdade apenas mescla, no mundo da vida, passividade e criatividade conviventes com indiferença à corrupção, ao preconceito racial, a práticas patriarcais, aos homicídios, à esperteza, sem esquecer o pérfido “jeitinho”, muito habituado a descumprir a lei e as regras do jogo.  

Contam: o Brasil é um povo pacífico, cujos pobres e ricos, brancos, negros e índios são irmãos e o estrangeiro é tratado como “um igual”. 

Mas esta farsa social não se prestaria, entre outras coisas, para ocultar algo que é inconciliável caso não assumamos o ódio e os preconceitos que carregamos conosco? 

O sociólogo Antonio Candido alerta que o “homem cordial não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva”. (itálico meu.) 

E sob essa “aparência afetiva” habita, a meu ver, outra perspectiva e é esta que espero refletir, mas em modesto tom de indagações, é claro. 

Do coração não brotam somente sentimentos afetivos positivos ou nobres. Explode também a manifestação calcinada do rancor e da fúria. Intempestivo, em consequência, o homem brasileiro cordial pode apedrejar com a mesma mão que há pouco afagou (já explicou o poeta Augusto dos Anjos). 

Por fim, presos à mitologia que criou o mito da cordialidade, tanto esquecemos que a ira é um dos sete pecados capitais que assola o tipo humano e no contexto mundial, como corremos o risco de continuar a reduzir o Brasil a um país do samba, do sexo e (certamente ainda) do futebol.  

Ou seria essa mitologia um enredo (cultural) que persiste em aterrorizar nossa ânsia por maioridade cívica e, portanto, por uma democracia participativa – um outro mito

 

Referências:

Candido, Antonio. Intérpretes do Brasil. RJ: Aguilar, 2000, v. 3.

Holanda, Sérgio Buarque de. O Homem Cordial. In: Raízes do Brasil. 26 ed. SP: Cia. das Letras, 1995, pp. 139-152. 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita