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Internacional
Ano 8 - N° 385 - 19 de Outubro de 2014
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br 

Curitiba, Paraná (Brasil)
 

 

Auto de Fé de Barcelona: um dia de festa, não de luto


O título acima é a reprodução do que Allan Kardec escreveu na Revista Espírita quando noticiou o auto-de-fé de Barcelona, ocorrido a 9 de outubro de 1861, pelo qual, por ordem do Bispo local, foram queimadas diversas obras espíritas enviadas por Allan Kardec a um livreiro da mencionada cidade.

O fato foi noticiado na Revue de 1861 (Edicel, pp. 337 e seguintes).

O Codificador do Espiritismo, depois de aludir à repercussão que o episódio teve na Espanha, onde foi deplorado por diversos jornais, disse que essa data deveria ser para os espíritas um dia de festa, e não de luto.

De fato. Em mensagem transcrita na Revue, o Espírito de Saint Dominique explicou: “Nada é feito inutilmente em vossa Terra nesse sentido; e nós, que inspiramos o auto-de-fé de Barcelona, bem sabíamos que, assim agindo, contribuiríamos para um grande passo à frente”.

Origem dos acontecimentos

A seguir, o resumo dos fatos, conforme pode ser visto pelo leitor no livro Obras Póstumas.

A pedido do Sr. Lachâtre, então estabelecido em Barcelona, Kardec lhe enviara uma quantidade de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, as coleções da Revista Espírita e diversas obras e brochuras espíritas, formando um total em torno de 300 volumes. A expedição foi feita regularmente pelo seu correspondente em Paris, numa caixa contendo outras mercadorias, e sem a menor infração à legalidade.

Na chegada dos livros, se fez o destinatário pagar os direitos de entrada, mas, antes de liberá-los, deveu-se submetê-los à apreciação do Bispo local, visto que incumbia à autoridade eclesiástica a polícia das livrarias. Ele estava então em Madri. Em seu retorno, em face do relatório que disso lhe foi feito, ordenou que as ditas obras fossem apreendidas e queimadas em praça  pública, pela mão do carrasco. A execução da sentença foi fixada para 9 de outubro de 1861.

As reclamações feitas junto ao cônsul francês, em Barcelona, não tiveram resultado. O Sr. Lachâtre perguntou a Kardec se era preciso recorrer à autoridade superior. O conselho foi o de deixar consumar-se esse ato arbitrário. Mas ele decidiu também, paralelamente, consultar seu guia espiritual.

Eis o diálogo que se seguiu: 

Pergunta (Ao Espírito de Verdade) – Não ignorais, sem dúvida, o que vem de se passar em Barcelona a respeito das obras espíritas; teríeis a bondade de me dizer se convém perseguir a sua restituição?

Resposta – Em direito podes reclamar essas obras, e delas, certamente, obtereis a restituição, dirigindo-se ao Ministro dos assuntos estrangeiros da França. Mas a minha opinião é que resultará desse auto-de-fé um bem maior que não produziria a leitura de alguns volumes. A perda material não é nada em comparação com a repercussão que semelhante fato dará à Doutrina. Compreendes o quanto uma perseguição tão ridícula e tão atrasada poderá fazer o Espiritismo progredir na Espanha? As ideias se difundirão com tanto mais rapidez e as obras serão procuradas com tanto mais diligência, quanto as tiver queimado. Tudo está bem.

Pergunta – Convém fazer, a esse respeito, um artigo no próximo número da Revista?

Resposta – Espera o auto-de-fé.

Repercussão do episódio na Espanha e na França

Chegou então o dia 9 de outubro e a queima dos livros realmente ocorreu.

Eis o extrato da ata da execução:  

"Neste dia, nove de outubro, de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do Bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes de brochuras sobre o Espiritismo, a saber: O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec... etc."

Os principais jornais da Espanha deram conta detalhada desse fato, que os órgãos da imprensa liberal do país justamente estigmatizaram. Há a se notar que, na França, os jornais liberais se limitaram a mencioná-lo sem comentários.

O próprio Siècle, tão ardente em estigmatizar os abusos de poder e os menores atos de intolerância do clero, não encontrou uma palavra de reprovação para esse ato digno da Idade Média. Alguns jornais, da pequena imprensa, nisso encontraram mesmo o dito espirituoso para rir. Toda crença à parte, havia ali uma questão de princípio, de direito internacional interessando a todo o mundo, sobre a qual não teriam passado tão levianamente se se tratasse de certas outras obras.

Kardec assim comentou a omissão dos jornais franceses: 

“Eles não calam a censura quando se trata de uma simples recusa de estampilha para a venda de um livro materialista; ora, a Inquisição erguendo as suas fogueiras com a antiga solenidade, à porta da França, tinha bem maior gravidade. Por que, pois, essa indiferença?

É que se tratava de uma doutrina cuja incredulidade via com terror os progressos; reivindicar a justiça em seu favor, era consagrar o seu direito à proteção da autoridade, e aumentar o seu crédito. Seja como for, o auto-de-fé de Barcelona com isso não produziu menos o efeito esperado, pela ressonância que teve na Espanha, onde contribuiu poderosamente para propagar as ideias espíritas.”

Nove meses depois do auto-de-fé, faleceu o Bispo que o havia determinado. A notícia de sua morte foi publicada na Revue de 1862 (Edicel, pp. 230 a 232).

Comunicando-se na Sociedade Espírita de Paris, o Bispo se disse arrependido e pediu preces. “Orai por mim”, rogou o falecido. “Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em favor do perseguidor.” É evidente que Kardec perdoou-lhe a infeliz atitude. Perdoar é também caridade e jamais um espírita de verdade como o Codificador poderia recusá-lo a quem quer que fosse. 




 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita