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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 385 - 19 de Outubro de 2014

ANGÉLICA DOS SANTOS SIMONE
angelssimone@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

 
 

 

A caridade segundo o
apóstolo Paulo


Comecemos pela origem etimológica, que logo nos apresenta a essência de seu significado. Ação pura. Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa (2001), este termo no latim apresenta-se como carĭtas, ātis: amor, afeição, ternura. Portanto, vemos que para refletirmos sobre o tema da caridade é imprescindível passar pela reflexão sobre o amor. A Igreja traduziu o termo para o latim do grego Agápē, o qual significa o amor assexual, utilizado na época de Platão como a afinidade entre familiares, entre pessoas de um grupo que se afeiçoavam em realizar uma atividade em comum, diferente de Eros, o amor romântico e sexual e Philia, o amor entre amigos que “se alimenta sobretudo da filosofia” (PESSANHA, 2009).

O prefixo car- talvez encontre sua raiz no sânscrito ou no eslavo antigo, segundo o mesmo dicionário. Quando consultamos alguns estudos dos Vedas (conjunto de ensinamentos sagrados da religião hindu, transmitidos até aproximadamente 2.000 a.C por via oral), encontramos a palavra sânscrita dana, traduzida como caridade[1]. Dana significa doar fora do lugar do ritual védico, ou seja, fora do local sagrado, do templo e, se expandirmos, da cultura védica. Dana não significa apenas o ato de doar, inclui também a atitude com que se dá. E é sobre este ponto que tentaremos estabelecer um aprofundamento maior neste texto.

A partir do sufixo -idade, entendemos a caridade como sendo o momento do amor, da afeição, da ternura que imbuímos uma ação quando intencionamos praticá-la. A caridade, neste sentido não seria apenas o auxílio a alguém que está em situação de necessidade, mas como este auxílio é feito e qual o seu conteúdo essencial. É importante, então, que entendamos o significado da caridade, para que exista coerência entre concepção e ação.

O dicionário Houaiss ainda contribui com alguns termos como benevolência, compaixão e piedade, os quais são pistas que nos auxiliam a percorrer o caminho da caridade, que é essencialmente um caminho de autoconhecimento e de reforma íntima ininterrupta.

De forma poética, Paulo (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 6, p. 290, 2004) nos apresentou a caridade ao dizer que se ele fosse um doutor de todo o conhecimento humano, se ele dominasse a expressão angelical, se ele fosse médium, se tivesse ciência de todas as leis que regem os céus e a terra, se tivesse toda a fé do mundo, sem a caridade ele nada seria, pois nada disso serviria para sua evolução. E destacando: “E, quando houvesse distribuído meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria” (p. 290).

Paulo inicia seu ensinamento sobre a caridade afirmando que aquilo que dá poder ao homem na Terra não o auxilia em nada enquanto Espírito, pois ele necessita das propriedades da caridade. Depois de convencidos de que precisamos praticar a caridade, ao continuarmos a ler o texto, imaginamos que Paulo vai concluí-lo rapidamente com o conselho: “Portanto, pratiquem a caridade!”. Mas não é isso que acontece, pois Paulo objetiva contribuir com o real sentido da caridade, desde esta época reduzida à beneficência material.

Então ele apresenta a parte mais importante, a qual explica o significado da caridade através de suas características:  

“A caridade é paciente, é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta (aborrece), nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. (p. 290-291).

Neste trecho, Paulo esclarece o que de fato é a caridade, indicando que o realizador desta ação deve estar imbuído destas características, pois do contrário não está “praticando” a caridade. A intenção do evangelho de Jesus e as explanações dos Espíritos é justamente nos indicar o caminho da caridade como um caminho ascensional, como dissemos, de reforma íntima, e não diz respeito ao exercício de uma prática específica aliada a uma pessoa que carece de auxílio em determinada circunstância. E Jesus nos oferece inúmeras parábolas para afirmar o que é a caridade para além da ação material.

Paulo continua afirmando que a caridade não é orgulhosa, não se precipita, não cuida de seus interesses, não é melindrosa, tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre... Ora, maior explicação não haveria de existir, mostrando-nos que o objetivo de estarmos na evolução espiritual é justamente para nos tornarmos seres caridosos, uma vez que todas as nossas atitudes vão se tornando virtuosas. A caridade, para nós ocidentais, está muito relacionada com momentos pontuais dedicados ao auxílio a alguém. Para os espíritas, está relacionada às horas semanais que vamos ao centro ajudar em alguma atividade. No sentido da explanação de Paulo, não se trata de algumas horas semanais passadas no centro espírita como voluntários e o restante da semana insistentes no orgulho, nas paixões, nos vícios, no estresse, na preocupação, na tensão, na descrença, na inveja, no medo etc., pois de nada vale o trabalho voluntário.

Devemos compreender que há sentido na vida e que as situações/experiências/vivências estão interligadas, são interdependentes e seguem uma continuidade. Por que, então, eu tendo a ser mais pacífico, mais paciente, mais amoroso, mais humilde no momento do trabalho voluntário, em comparação com outros momentos de minha semana? O trabalho voluntário, qualquer que seja ele, é apenas mais uma oportunidade de exercitarmos a caridade (reforma íntima), pois logo vemos que ele é também um campo de poder e disputas, tal como em nossas atividades laborais cotidianas. Neste contexto, é preferível nos avaliarmos, tal como Santo Agostinho nos ensina, todos os dias sobre como estamos exercendo as nossas funções a partir de nossa família, depois em nosso emprego, depois em nossa cidade, depois em nossas práticas religiosas. A grande questão que a caridade traz é: que tipo de pessoa estou sendo?

Paulo finaliza o seu ensinamento de maneira ousada, afirmando que a caridade está acima da fé e da esperança. Podemos indagar que ele afirma isto devido à caridade ser a única condição que não é tida, mas tornada. Queremos dizer que nós não somos fé, nós temos fé, nós não somos esperançosos, nós temos esperança, mas nós somos caridosos e não temos caridade. A caridade então, se entendemos, é um estado, uma conquista das virtudes citadas por Paulo, ao passo que a fé e a esperança estão ligadas pela necessidade que temos em alcançar os nossos desejos, são movimentos que chamam o exterior para dentro, ao passo que a caridade é um movimento de dentro para fora. A fé e a esperança demandam um auxílio divino para nossas necessidades, são impulsos que nos dão força para caminharmos na esfera do individual, ao passo que a caridade é o movimento inverso, pois ela está na maneira como vivemos, como nos expressamos, como lidamos com as diversidades humanas, como representamos o nosso mundo e o outro, é a nossa contribuição para a melhora do planeta.

Ora, se a caridade traz em si o amor e a afeição (e só possuímos afeição por algo ou por alguém), é preciso que o outro exista para que este amor se realize. A caridade só existe, portanto, em relação ao outro. Os gregos não utilizavam o Agápē para indicar a realização de uma ação benevolente com alguém em situação de necessidade (doentes, pobres, órfãos etc.), mas sim para representar momentos de trocas agradáveis entre sentimentos de amizade. Neste sentido, a caridade não existe apenas na relação doador (portador) – receptor (carente), mas no comportamento do indivíduo independentemente da situação e de sua condição. E é justamente neste ponto que Paulo acentua suas observações.

Concluímos, assim, que caridade não é doar, mas como se está doando. Caridade é ação consciente, ela exige consciência em nosso comportamento, de maneira a avaliá-lo e a corrigi-lo. Se pensarmos que a nossa vida inicia-se pela doação de Deus, então identificamos aí um princípio para a existência da própria vida, ela existe por um ato de doação. A partir deste pensamento, podemos construir os alicerces de nossas condutas, e mesmo vivendo em uma sociedade humana capitalista, onde tudo é comercializado e vendido, se procurarmos a essência da vida, encontraremos a doação, pois é vivenciando a impaciência, a ansiedade, que nos tornaremos pacientes. A vida coletiva doa-nos a oportunidade de vivenciarmos as paixões, pois elas são os degraus que nos conduzirão para a luz, enquanto futuros seres, expressões da caridade universal.


 

[1] Não esgotamos o significado deste termo, apenas o utilizamos de forma mais geral, sendo necessário um aprofundamento maior para compreender o sentido de Dana, especialmente para uma religião/cultura (?) tão singular quanto o hinduísmo. A intenção aqui era de observar que a questão da caridade perpassa outros campos para além das doutrinas cristãs.

 

 


 


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