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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 377 - 24 de Agosto de 2014

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP (Brasil)

 
 


Uma lição cultural


Não gosto de futebol. Quando adolescente, fiz um breve esforço para adequar-me à paixão nacional, sem êxito. Na verdade, seria, de fato, contrapor-me à minha natureza essencial, porquanto não dou conta de desperdiçar meu (precioso) tempo perante homens e bola. Não torço, não me interesso por este esporte. 

Também não vi sentido o País gastar (tanto) dinheiro e confete com estádios e toda a parafernália vinculada a uns poucos dias de Copa. Principalmente diante do descaso público renitente com uma série de necessidades e prioridades, pois continuamos uma Nação crivada pela desigualdade social. Ou não?  

Quando fiz direito, no primeiro ano, um professor excelente nos contou que a democracia é, em essência, a ditadura da maioria. Pois bem. Quando a maioria, longe de massa crítica, continua massa iludida por panis et circenses, o estado geral das coisas permanece maquiado e isso às vezes é bem conveniente para alguns “amigos do rei”… 

Lógico que na época de faculdade isso me fez refletir bastante… Mas, agora, diante dessa corrupção endêmica, um dos traços da cultura do povo brasileiro, da escassez de segurança, educação e saúde falidas (que apenas dão números para enganar quem?) e horizonte tomado pelo ar pestilento de inflação/ganância, creio que sempre que o governo decidisse por algo tão “grandioso” a população deveria ser convocada para expressar sua vontade através de plebiscito, por exemplo. E prefiro pensar que haveria um consenso sobre o “não” em relação à recepção da Copa. Será? Bom, agora tal questão imaginária não faz eco na realidade.  

Volto ao tema então, embora, aqui, não ouse tecer quaisquer comentários sobre os instrumentos democráticos de acesso à tomada de decisão administrativa e que não são usados no Brasil (ombudsman, audiências públicas, comissões dos serviços públicos etc.). 

Lo siento, mas considero importante, neste tempo de ressaca, encerrada a Copa, a perda vexatória, transcrever um pedaço do escrito tecido por Leonardo Boff, ele mesmo a ponderar sobre futebol, (falta de) patriotismo e a bonita lição da torcida japonesa… E para a gente ruminar, claro! 

Eu sou bra-si-lei-ro, com mui-to or-gu-lho, com mui-to a-moooor – grita a nossa torcida embalada para a guerra. Resta saber – isso não é explicitado – do que é que sentimos orgulho. Numa sociedade patriarcal como a brasileira, parasitária, tatuada por quatro séculos de escravidão, estamos acostumados a emporcalhar tudo, ordenando que garis limpem nossa sujeira. Nossas ruas com bueiros entupidos e os banheiros e salas de aula de nossas universidades públicas são testemunhas disso. Lá, o exército do “pessoal de limpeza” trava diariamente uma batalha perdida, registrando o rotundo fracasso da escola.

- Somos milhões em ação. Todos juntos, vamos pra frente, Brasil. Salve a seleção! De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão! Sem patriotadas, o lema dos japoneses (…) foi o silencioso ‘não vai haver lixo’. A corrente nipônica pra frente nos deu uma lição, que já rendeu os primeiros frutos. Na Fifa Fun Fest segunda-feira, em Copacabana, Rio, turistas alemães, espelhados no exemplo vindo do Oriente, não apenas recolheram o lixo da praia, mas incentivarem outros frequentadores a ajudá-los.

Esse gesto de extrema delicadeza e refinamento, embora solitário, mostra que civilização não é abrir estradas, construir usinas, erguer pontes e viadutos, fabricar aviões, automóveis e robôs, clonar seres vivos. É saber se relacionar com o outro: gente, planta, animal, meio ambiente. É a qualidade dos gestos que torna a condição humana possível. Enquanto houver alguém juntando o lixo e nos deixando envergonhados de nossa imundície, o mundo não está totalmente perdido. Uma florzinha brota no esterco.

Foi um ato singelo, mas que renova nossas esperanças na espécie humana e no futuro do planeta. A bola, efetivamente, é um reles detalhe. Torcida japonesa, por despertar o Dersu Uzala que existe dentro de cada um de nós, domô arigatô gozaimasu!”

(Por Leonardo Boff. In: correio.rac.com.br, 11.7.2014.) 

Particularmente, sempre tive muito respeito e ternura pela nação japonesa, por seu povo gentil, educado, disciplinado e dedicado ao interesse/destino coletivo. Mas o que sinto, bem sei, encontra raiz em um (distante) tempo pretérito... 

Algumas notas:

O Brasil adotou, no artigo 14, incisos I, II e III, da CF/88, o plebiscito, referendo e iniciativa popular como mecanismo de participação direta. No plebiscito, que deve ser convocado, o povo opina (plebiscito – a “plebe opina”). De maneira geral o plebiscito é uma consulta prévia à população sobre determinada questão de interesse público (ex.: devemos recepcionar a copa? Bem sei que esta questão, todavia, agora não tem eco na realidade. Em consequência, o que estaria por trás de um plebiscito coerente com a realidade nacional? Creio que caberia, por exemplo, uma destas perguntas, e dirigidas à (nossa) sociedade: “devemos gastar o dinheiro público com escolas/hospitais?” ou “devemos gastar o dinheiro público com entretenimento volátil?” Depois, assumir o “consenso popular”...).

No texto de Boff, ele comenta sobre Dersu Uzala, o filme dirigido pelo cineasta japonês Akira Kurosawa, em 1975, baseado no diário de um capitão russo. Segundo as palavras de Boff, “na torcida nipônica (…) todos eram Dersu Uzala (um velho sábio que trata o sol, as estrelas, a água, o fogo, o vento, a neve, as árvores e os animais como pessoas)”.  




 


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