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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 364 - 25 de Maio de 2014

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)

 
 
  

O artigo

Ainda que a justiça dos homens não puna nossas
faltas, nada escapa a Deus

 
Após anos de sucesso, o concurso de artigos destinado a alunos, funcionários e professores foi, mais uma vez, lançado naquela famosa faculdade. Os alunos competiam entre si, mas os funcionários graduados concorriam com os professores. Naquele ano, um dos concorrentes do corpo docente soube de uma funcionária muito dedicada que, embora ela jamais houvesse participado do concurso antes, daquela vez seria sua vencedora, ainda que aquela fosse, também, a primeira vez que escreveria um artigo
[1].

O prêmio para o vencedor era bastante generoso: três mil reais. Isso equivalia a dois meses de trabalho de Marcela, a concorrente imbatível. Assim mesmo, Genebaldo, professor de História da instituição promotora do concurso, resolvera participar. Afinal, no evento do ano anterior fora o vencedor, com o ensaio intitulado A ética na educação. Por isso mesmo, confiava na lisura de sua coordenadora. Entre professores e funcionários, havia mais de trinta participantes do certame.

Genebaldo trabalhava no mesmo departamento da exemplar funcionária, a quem devia favores mil, como o de conferir lançamentos de menções de seus alunos em diários, tirar cópias de exercícios e provas, fornecer materiais didáticos para suas aulas etc. É certo que havia outras secretárias e secretários no local, que faziam o mesmo serviço, mas a funcionária-chefa de todos eles era Marcela. Sem sua autorização, nada de cópias, nada de material didático, nada de conferência de diários etc.

Dias antes de Marcela inscrever seu trabalho, a coordenadora do concurso saíra catando todos os artigos premiados dos anos anteriores e, como cedera alguns a Genebaldo, para que este os utilizasse com seus alunos no ensino de produção textual referente ao gênero, perguntou-lhe se o preclaro professor poderia devolver-lhe o material cedido, com o que este aquiesceu.

Numa bela manhã, após o encerramento das inscrições, uma colega de Marcela, que se chamava Larissa, muito querida por todos os colegas e professores, ao atender Genebaldo com o fornecimento de pincel para anotações no quadro branco, espontaneamente, disse-lhe o seguinte: “Professor, o resultado do concurso do qual o senhor participou deve sair na próxima semana, e a Marcela, que também participou, vai ser premiada como autora do melhor trabalho, pois a coordenadora do evento está ajudando-a. Esse será também um reconhecimento público à competência profissional da colega, que trabalha aqui há mais de dez anos e está meia individada”.

“Como assim? O regulamento prevê autoria exclusiva, os artigos ainda nem foram avaliados e você já sabe quem vai ganhar? Não sabia que era médium clarividente, pois os dados dos concorrentes são sigilosos.”

“Não é nada disso, fessô. Acontece que a colega está passando uma grande dificuldade financeira e precisa do dinheiro para pagar suas dívidas. E ela merece...”

“Ah, sim, já entendi. Uma semana antes de serem avaliados todos os artigos e ser publicado o resultado do concurso, com os nomes dos ganhadores dos prêmios, há uma participante, mais você e a professora coordenadora do evento que estão cientes de quem será sua vencedora, na categoria professores e funcionários, não é isso mesmo? É justo, é justíssimo... Só não sei se os demais concorrentes, se souberem disso, também acharão justo.”

Na semana seguinte, Marcela foi declarada a vencedora do evento e, dias depois, falou, meio sem graça, a Genebaldo: “Pois é, professor, esta foi a primeira vez que participei do concurso e consegui o primeiro lugar... Muita sorte, ?”.

“Parabéns”, respondeu-lhe o professor, abraçando-a. “Você precisa...”

Mas não deixou de pensar: “Sorte nada, alto QI. Bem feito para nós, mestres, doutores e outros funcionários graduados que não soubemos escrever um bom artigo”.     

Por coincidência, aquele foi o último ano do concurso. Como há coordenadores generosos neste mundo...

A história acima foi-nos contada por um professor nostálgico dos tempos em que já se pensou em uma educação voltada para formar hábitos saudáveis, respeito à ética, aos valores fundamentais do direito, dos bons costumes e da moral. “Infelizmente - dizia-nos ele - há muita gente que faz da teoria um meio de alcançar seus objetivos espúrios, sem nenhuma preocupação em reformular seus próprios princípios duvidosos e sem cogitar sobre as consequências do mau uso do livre-arbítrio em nossas curtas vidas na Terra.”

Segundo Allan Kardec, na questão 685-a de O Livro dos Espíritos, há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.[2]

Infelizmente, algumas pessoas, quando investidas do poder temporal na Terra, deturpam, com seus atos, os valores mais elementares da ética, se desejam beneficiar as criaturas que estimam, com um paliativo para suas dificuldades financeiras, quando podem, perfeitamente, aumentar seus salários. Preferem fingir que premiam esse ou aquele com a criação de concursos fraudulentos do que respeitar o trabalho e o mérito de muitos outros que, ingenuamente, creem na lisura da avaliação de seus esforços.

Vemos, com indignação, em nossa sociedade contemporânea, tornarem-se comuns situações como a descrita na história acima, seja em concursos públicos ou na iniciativa privada. Difícil é provar a falta de lisura, ainda que isso fique evidente, pois, mesmo que o consigamos, tal “atrevimento” poderá implicar em nossa demissão, caso pertençamos ao quadro de funcionários da empresa.

Quando a educação tiver por norma criar hábitos saudáveis, preparar o caráter do educando para os benefícios perenes da prática do bem, do respeito aos direitos do próximo, tais ajudas antiéticas não mais terão lugar em nosso mundo. Para isso acontecer, é imprescindível que se invista na educação do espírito como um todo, não somente na formação de uma mente intelectual.

A educação, segundo o educador Edgar Morin, deve basear-se nos quatro pilares seguintes: aprender a ser, a conhecer, a fazer e a conviver[3]. Os bons e os maus exemplos sempre deixam suas marcas, por isso precisamos pensar seriamente em sua força e influência. “Quantos prosseguem ou quantos desistem, influenciados, quase sempre sem consciência do fato, pelos nossos exemplos bons ou maus”[4].

A verdadeira educação fundamenta-se na elevação moral do espírito eterno, base de todas as crenças. Ainda que muitos não creiam, a Lei de Deus retribui “a cada um segundo suas obras”, conforme os ensinamentos de Jesus confirmados pelo Espiritismo.

Quem hoje lesa alguém, amanhã será lesado igualmente. Os que não acreditam nisso fatalmente terão sua comprovação quando menos esperarem. Por isso, é importante que busquemos sempre o bem, sem jamais esquecermos que, diante de Deus, não existem privilégios entre seus filhos; e não nos cabe tomar-Lhe o lugar.

Lembremo-nos da recomendação de Jesus, para que, de futuro, não venhamos a sofrer as consequências do mau uso do nosso livre-arbítrio, tão negado pelos niilistas atuais, mas a mais certa verdade cristã, que nos esclarece sobre a existência da justiça de Deus na consciência de cada um de nós: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhos também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus, cap. 6, v. 12).

 


 

[1]  Todas as informações desta história têm por base dados e personagens fictícios.

[2]  KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 75. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994. p. 331.

[3] OLIVEIRA, Gladis P. A missão e os missionários. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2009. p. 167.

[4] Idem. p. 232.



 

 


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