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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 354 - 16 de Março de 2014

PAULO DA SILVA NETO SOBRINHO
paulosnetos@gmail.com

Belo Horizonte, MG (Brasil)

 
 
 

Nada é definitivo nas
obras básicas

 

“[...] elaboramos um plano de organização para o qual aproveitamos a experiência do passado, a fim de evitar os escolhos contra os quais se tem chocado a maioria das doutrinas que apareceram no mundo”. (KARDEC, 1868)


Embora, pelo título, o leitor possa achar que estejamos pretendendo generalizar, na verdade, o que estamos querendo dizer é que nem tudo é definitivo, já que os princípios da Doutrina são colunas inamovíveis, diante da lógica com a qual eles foram assentados.

Não iremos nos estender muito, pois queremos apenas transcrever trechos de várias falas de Kardec, às quais muitos companheiros não estão lhes dando o devido valor. Vejamo-los:

Mas, dir-se-á, ao lado destes fatos [referindo-se às manifestações espíritas] tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações; que a de hoje será a mesma em alguns anos?

Sem dúvida, ela pode sofrer modificações em seus detalhes, em consequência de novas observações. Mas estando o princípio doravante adquirido, não pode variar e ainda menos ser anulado; aí está o essencial. Desde Copérnico e Galileu, calculou-se melhor o movimento da Terra e dos astros, mas o fato do movimento permaneceu como princípio. (Revista Espírita de fevereiro de 1865, artigo Da Perpetuidade do Espiritismo, §§ 9º e 10) (KARDEC, 2000c, p. 40) (grifo nosso).

O Espiritismo não se afastará da verdade e nada terá a temer das opiniões contraditórias, enquanto sua teoria científica e sua doutrina moral forem uma dedução dos fatos escrupulosamente e conscientemente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos. Foi diante de uma observação mais completa que todas as teorias prematuras e arriscadas, eclodidas na origem dos fenômenos espíritas modernos, caíram e vieram fundir-se na imponente unidade que existe e contra a qual não se obstinam mais senão raras individualidades, que diminuem todos os dias. As lacunas que a teoria atual pode ainda encerrar se encherão do mesmo modo. O Espiritismo está longe de ter dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inabalável em sua base, porque esta base se assenta sobre os fatos (Revista Espírita de fevereiro de 1865, artigo Da Perpetuidade do Espiritismo, § 13). (KARDEC, 2000c, p. 41) (grifo nosso).

O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. (Revista Espírita de julho de 1866, artigo Visão Retrospectiva das existências dos Espíritos, 3º §) (KARDEC, p. 223) (grifo nosso).

O Espiritismo teve, como todas as coisas, seu período de criação, e até que todas as questões, principais e acessórias, que a ele se ligam, tivessem sido resolvidas, ele não pôde dar senão resultados incompletos; pode-se lhe entrever o objetivo, pressentir-lhe as consequências, mas unicamente de maneira vaga. Da incerteza sobre os pontos ainda não determinados deveriam, forçosamente, nascer divergências sobre a maneira de considerá-los; a unificação não poderia ser senão a obra do tempo; ela é feita gradualmente, à medida que os princípios são elucidados. Não será senão quando a Doutrina houver abarcado todas as partes que ela comporta, que formará um todo harmonioso, e será somente então que se poderá julgar verdadeiramente o Espiritismo.

[...]

Não se deve pedir às coisas senão aquilo que elas podem dar, à medida que elas estão em estado de produzir; não se pode exigir de uma criança o que se pode esperar de um adulto, nem de uma árvore jovem, recentemente plantada, o que produzirá quando estiver em toda a sua força. O Espiritismo, em via de elaboração, não poderia dar senão resultados individuais; os resultados coletivos e gerais serão os frutos do Espiritismo completo que se desenvolverá sucessivamente.

Se bem que o Espiritismo não haja dito ainda a sua última palavra sobre todos os pontos, ele se aproxima de seu complemento, e o momento não está longe em que lhe será necessário dar uma base forte e durável, suscetível, no entanto, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportarem, e dando toda segurança àqueles que se perguntam quem lhe tomará as rédeas depois de nós. (Revista Espírita 1868, artigo Constituição Transitória do Espiritismo, item I – Considerações preliminares, 1º, 3º e 4ª §§) (KARDEC, 1993j, p. 369-370) (grifo nosso).

O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao estado de verdades constatadas; para os outros, ela não os admitirá, como sempre o fez, senão a título de hipóteses até a confirmação. Se lhe for demonstrado que ela está no erro sobre um ponto, ela se modificará sobre esse ponto. (Revista Espírita 1868, artigo Constituição Transitória do Espiritismo, item III – Dos Cismas, 12º §) (KARDEC, 1993j, p. 377) (grifo nosso).

Longe estamos de considerar como absoluta e como sendo a última palavra a teoria que apresentamos. Novos estudos sem dúvida a completarão, ou retificarão mais tarde; entretanto, por mais incompleta ou imperfeita que seja ainda hoje, sempre pode auxiliar o estudioso a reconhecer a possibilidade dos fatos, por efeito de causas que nada têm de sobrenaturais. Se é uma hipótese, não se lhe pode contudo negar o mérito da racionalidade e da probabilidade e, como tal, vale tanto, pelo menos, quanto todas as explicações que os negadores formulam, para provar que nos fenômenos espíritas só há ilusão, fantasmagoria e subterfúgios. (O Livro dos Médiuns, cap. VI, item 110) (KARDEC, 2007b, p. 153) (grifo nosso)

[…] Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é mister para guiá-lo [referindo-se ao homem] no caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão, deixando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa. Fornecendo-lhe o princípio, os materiais: cabe-lhe a ele aproveitá-los e pô-los em obra. (A Gênese, cap. I, item 50). (KARDEC, 2007e, p. 48) (grifo nosso).

Além disso, convém notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado integralmente; ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo o ensino que ser coletivo e não individual, os Espíritos dividiram o trabalho [não só no espaço senão também no tempo], disseminando os assuntos de estudo e observação como, em algumas fábricas, a confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida por diversos operários.

A revelação faz-se assim parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois que nem tudo foi revelado. (A Gênese, cap. I, item 52). (KARDEC, 2007e, p. 49) (grifo nosso)

Nenhuma ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um homem. Todas, sem exceção de nenhuma, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como em um ponto conhecido para chegar a um desconhecido. Foi assim que os Espíritos procederam, com relação ao Espiritismo. Daí o ser gradativo o ensino que ministram. Eles não enfrentam as questões, senão à medida que os princípios sobre que hajam de apoiar-se estejam suficientemente elaborados e amadurecida bastante a opinião para os assimilar. É mesmo de notar-se que, de todas as vezes que os centros particulares têm querido tratar de questões prematuras, não obtiveram mais do que respostas contraditórias, nada concludentes. Quando, ao contrário, chega o momento oportuno, o ensino se generaliza e se unifica na quase universalidade dos centros. (A Gênese, cap. I, item 54) (KARDEC, 2007e, p. 52) (grifo nosso).

O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressistas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria. Deixando de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará (A Gênese, cap. I, item 55). (KARDEC, 2007e, p. 54) (grifo nosso).

Pelo exposto, concluímos, então, que o Espiritismo não é fechado; pode (e deve), sim, incorporar novos pontos que não foram definidos no início da codificação e, se for o caso, modificar-se naquilo em que a ciência provar que ele está errado.

Mas, infelizmente, querem fazer das obras da codificação exatamente o que os que se dizem cristãos fizeram com a Bíblia: nada pode ser mudado nem acrescentado; como se Deus tivesse fechado o expediente e não mais pretendesse Se revelar aos homens.

Se, por um lado, encontramos espíritas querendo, despreocupadamente, dogmatizar o Espiritismo, por outro, vemos companheiros desejando, em vista do acima mencionado, escancarar-lhe as portas para toda e qualquer novidade, seja ela de que lavra for – própria ou de Espíritos isolados.

Ao que nos parece, jogou-se por terra a recomendação básica feita, insistentemente, por Kardec de que:

Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (KARDEC, 1996, p. 28-36) (grifo nosso).

Oportunas, também, estas considerações emanadas do Codificador, que jamais deveríamos desconsiderá-las, sob pena de descaracterizarmos a Doutrina, “adaptando-a” ou “acomodando-a” às “conveniências doutrinárias” de cada um:

O Espiritismo não é mais a obra de um único Espírito como não é a de um único homem; é a obra dos Espíritos em geral. Segue-se que a opinião de um Espírito sobre um princípio qualquer não é considerada pelos Espíritos senão como uma opinião individual, que pode ser justa ou falsa, e não tem valor senão quando é sancionada pelo ensino da maioria, dado sobre os diversos pontos do globo. Foi esse ensino universal que fez o que ele é, e que fará o que será. Diante desse poderoso critério caem necessariamente todas as teorias particulares que sejam o produto de ideias sistemáticas, seja de um homem, seja de um Espírito isolado. Uma ideia falsa pode, sem dúvida, agrupar ao seu redor alguns partidários, mas não prevalecerá jamais contra aquela que é ensinada por toda a parte. (KARDEC, 2000c, p. 306) (grifo nosso).

Quando tratarmos essas questões, o faremos sem cerimônia; mas é que, então, teremos recolhido os documentos bastante numerosos, nos ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos, para poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria; é assim que fazemos todas as vezes que se trata de formular um princípio capital. Nós o dissemos cem vezes, para nós a opinião de um Espírito, qualquer que seja o nome que traga, não tem senão o valor de uma opinião individual; nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar por nossos próprios olhos. De que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como uma verdade absoluta, se, mais tarde, ela devesse ser combatida pela generalidade dos Espíritos? (KARDEC, 1993i, p. 191) (grifo nosso).

Preocupado em não deixar de dar uma orientação segura, visto que se preocupava com os problemas aqui citados, Kardec também fez judiciosas considerações, quando da sua proposta de Constituição Transitória do Espiritismo (KARDEC, 1993j, p. 369-394), na qual sugere a criação de uma Comissão Central para coordenar a Doutrina. Relaciona, inclusive, as atribuições da comissão, entre as quais destacamos estes dois itens (p. 387), que grifamos:

Estudo dos princípios novos, suscetíveis de entrarem no corpo da Doutrina;

O exame e a interpretação das obras, artigos de jornais, e todo escrito interessando à Doutrina. A refutação dos ataques, se tiverem lugar.

Com pesar percebemos que, no Brasil, o Movimento Espírita está longe dessas duas orientações. Mas quem tiver o interesse em ler o texto sobre a Constituição Transitória do Espiritismo ficará ciente de que mais recomendações não são seguidas, especialmente, pelas instituições criadas para unificar e uniformizar os procedimentos e práticas nas casas espíritas. Uma pena, pois dizem seguir as instruções de Kardec, mas, de fato, não o fazem.

Por oportuno, lembramos Léon Denis, que disse: “O Espiritismo será aquilo que dele fizerem os homens”. (DENIS, 1911).

 

Referências bibliográficas:

KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000c.

KARDEC, A. Revista Espírita 1866. Araras, SP: IDE, 1993i.

KARDEC, A. Revista Espírita 1868. Araras, SP: IDE, 1993j.

KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2007b.

KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.

KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro, FEB, 1996.
 



 

 


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