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Correio Mediúnico
Ano 7 - N° 351 - 23 de Fevereiro de 2014
 
 

 

Uma despedida 

José Gomes


Trazido até aqui por devotados benfeitores, venho agradecer-vos e despedir-me.

Há quase dois anos, fui socorrido nesta casa, fazendo-se luz nas trevas de minh´alma...

Eu era, então, um assassino que por cinquenta anos padecia no ergástulo do remorso. Crendo preservar a minha felicidade, apunhalei um amigo, instigado pela mulher que eu amava e, apoiando-me na desculpa de legítima defesa, consegui absolvição na justiça terrestre.

Contudo, que irrisão! O homem que eu supunha haver aniquilado, mais vivo que nunca, prendeu-se-me ao corpo e, em poucos meses, sucumbi devorado por estranha moléstia que escarneceu de todos os recursos da medicina.

Ai de mim! Nas raias da morte, apesar do conforto que me era oferecido pela fé, através de um sacerdote, não encontrei para mentalizar senão o quadro do homicídio que perpetrara.

E à maneira do homem vitimado por tormentoso pesadelo, sem sair do leito em que se acolhe à prostração, vi-me encarcerado em meus próprios pensamentos, vivendo a tortura e o pavor que alimentava no campo da minha alma...

Sempre o terrificante painel a vibrar na memória!...

Um companheiro infeliz, suplicando indefeso: — «Não me mate! Não me mate!... » A presença da mulher querida... Os gênios do crime a gargalharem junto de mim e a calma impassível da noite, com a minha cólera insopitável a dessedentar-se num peito exangue e aberto...

Em me cansando de enterrar a lâmina na carne sem resistência, arrojava-me ao piso da câmara iluminada, mas a onda esmagadora de sangue levantava-se do chão, tingindo paredes, afogando móveis, empapando-me a vestimenta e, quando me sentia semissufocado, eis que me erguia de novo para continuar no duelo indefinível.

Se tinha fome, mãos invisíveis ofereciam-me sangue coagulado; se tinha sede, davam-me sangue para beber... Era dia? Era noite? Ignorava.

Somente mais tarde, quando amparado pelas palavras de esclarecimento e de amor dos nossos benfeitores, por vosso intermédio, vim a saber que o inimigo se contentara com o meu cadáver e que eu não vivia senão minha própria obsessão, magnetizado por minhas ideias fixas, jungido ao pó do sepulcro, durante meio século, recapitulando quase que interminavelmente o meu ato impensado.

Circunscrito à alcova fatídica, que jazia em minhas reminiscências, passei da extrema cegueira à desmedida aflição. Existiria, realmente, um Deus de paz e bondade? Bastou essa pergunta para que réstias de luz se fizessem sentir em meu Espírito entenebrecido, como relâmpago em noite de espessa treva...

No entanto, para chegar à certeza de Deus, precisava de um caminho. Esse caminho era ela, a mulher amada. Queria vê-la, ouvi-la, tocá-la...

E tanto clamei por isso que, em certa ocasião, senti como que uma rajada de vento forte, arrebatando-me para o seio da noite...

Carregava comigo aquele fatal aposento, contudo podia agora respirar a brisa refrescante, entre as sombras noturnas que filtravam, de leve, as irradiações da lua nova.

Mais ágil, andei apressadamente... Onde estaria ela, a mulher que estava em mim?

Favorecia-me o sopro do vento e, a minutos breves, alcancei pequeno jardim, vendo-a sentada com uma criança ao colo...

Ah! somente aqueles que sentiram na vida uma profunda e irremediável saudade poderão compreender o alarme de meu Espírito naquela hora de reencontro!... Mas, assim que me percebeu, conchegou a criança ao coração e fugiu, espavorida... Eu devia ser aos seus olhos um fantasma repelente a regressar do túmulo!

Persegui-a, porém, até que a vi penetrando um quarto humilde... Observei-a, ajustando-se ao corpo de carne, tal qual a mão em se colando à luva... Entendi, sem palavras, a nova situação.

Enlaçada a um homem que lhe partilhava o leito, reconheci, sem explicações verbais, que o filhinho nascituro era meu velho rival e que o homem desconhecido era-lhe agora o esposo, outro adversário que me cabia vencer.

O ódio passou a estourar-me o crânio. O cheiro acre e fedentinoso de sangue novamente me ensandeceu. Beijei-a, delirando em transportes de amor não correspondido, e consegui instilar-lhe aversão pelo marido e pelo filho recém-nato.

Queria matá-la... desejava que ela vivesse novamente para mim... pretendia sugar-lhe os eflúvios do coração...

E, durante muitos dias, permaneci naquela casa, desvairado e irresponsável, envenenando a própria medicação que lhe era administrada...

Consegui dominá-la até o dia em que foi conduzida a um círculo de orações... E, nesse círculo, vossos amigos me encontraram... Encontraram-me e trouxeram-me a esta casa...

Com os ensinamentos que me dirigiram, a câmara do crime desapareceu de minha imaginação... Todas as ideias estagnadas que me limitavam o pensamento, qual se eu fora o próprio remorso num casulo infernal, desfizeram-se, de pronto, como escamas de lodo que, em se desintegrando, me libertaram o Espírito...

Desde então, fui admitido em uma escola...

Transcorridos seis meses, tornei ao lar que eu me propunha destruir, transformado pelas lições dos instrutores que vos orientam o santuário. Novos sentimentos me vibravam no coração. Compadeci-me daquela que sofria tanto e que tanto se esforçava por reabilitar-se perante a Lei!

Contemplei-lhe o filhinho e o esposo, tomado de viva compaixão... Achava-me renovado... Compreendi então convosco que o coração humano — concha divina — pode guardar consigo todos os amores...

Observei a extensão de minhas faltas e voltarei à carne em dias breves!

Aquela por quem me perdi ser-me-á devotada mãe... Terei um pai humilde, generoso e trabalhador, abençoando-me o restabelecimento moral, e, em meu irmão, já renascido, encontrarei não mais o antagonista, mas o companheiro de provação com quem restaurarei o destino...

Ante o coração que me estimula a esperança, não mais direi: — «mulher que eu desejo»! e sim «mãezinha querida!

Nossos sentimentos pairarão em esfera mais alta e de seus lábios aprenderei, de novo, as sublimes palavras: — «Pai Nosso, que estás no Céu...»

Fitar-lhe-ei nos olhos o celeste horizonte e, trabalhando, enxergarei feliz a senda libertadora...

Ah!... entendereis comigo semelhante ventura? Creio que sim.

Partirei, desse modo, não para a companhia dos anjos, mas para o convívio dos homens, refazendo meu próprio caminho e regenerando a própria consciência.

E, abraçando-vos com afetuosa gratidão, saúdo em Nosso Senhor Jesus-Cristo a fé que nos reúne!...

Terra — abençoado mar de lutas...

Carne — navio da salvação!

Lar — templo de luz e trabalho...

Mãe — santuário de amor!...

Meus amigos, até amanhã! Bendito seja Deus.
 

Mensagem transmitida psicofonicamente por intermédio de Chico Xavier, na noite de 10 de março de 1955, inserida no cap. 52 do livro Instruções Psicofônicas.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita