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Correio Mediúnico
Ano 7 - N° 347 - 26 de Janeiro de 2014
 
 

 

Ceitil por ceitil

Valéria


Amigos.

Trazida ao recinto por nossos Instrutores, ofereço-vos alguma coisa de minha história obscura. É um episódio de dor, porque nascido da culpa, mas também de alegria, por erguer-se à redenção.

Observo que a verdade aqui se exprime, veloz, por intermédio de vossa boca; no entanto, para comigo, externou-se ela, devagarinho, pelas amargas lições da lepra.

Não obstante o anonimato de meu berço e a singeleza de minha existência, em minha última romagem na Terra guardava todos os títulos da mulher venturosa. No entanto, quando mais me orgulhava do lar feliz, coroado pela presença de um esposo e quatro filhos, cujo amor supunha invulnerável, eis que a Justiça divina delegou à morfeia o poder de expurgar-me o coração.

Nunca me esquecerei do pavor que vi desenhar-se no semblante daqueles que eu mais amava, quando regressei da cidade ao campo, com o diagnóstico terrível.

O desprezo de que me vi objeto doía muito mais que a própria enfermidade. Meu companheiro e meus filhos, amedrontados, desfizeram-se do sítio florescente em que minhas mãos lhes afagavam a vida, e fugiram de mim, legando-me apenas desguarnecida palhoça, no seio da mata, onde me caberia morrer.

Narrar-vos o que foi meu drama expiatório, por mais de dez anos consecutivos, é tarefa impraticável, em meus recursos de expressão.

Conheci, de perto, o infortúnio e a necessidade. O pão esmolado tinha gosto de fel. O escárnio do próximo, jogado francamente ao meu rosto, era assim como um relho em brasas, revolvendo-me as chagas vivas.

Por agasalho, possuía o musgo com que me socorria a mãe Natureza e por únicas companhias, no mato agreste, além dos lobos que uivavam a pequena distância, encontrava somente a formiga e a varejeira, com o alívio das lágrimas e o reconforto da oração.

O corpo apodreceu, pouco a pouco, guerreando-me o egoísmo e estraçalhando-me a vaidade. E quando meus pés, por excesso de feridas, se recusaram ao movimento, confiei-me à inanição.

Suspirar pela morte no leito de palha era meu único sonho, entre a sede e a fome, a aflição e o delírio.

Sofri pavorosamente, até que numa noite de estio, dessas em que o orvalho do céu não consegue acalmar a secura escaldante da terra, perguntei a Deus, em pranto mudo, pela razão dos estranhos padecimentos a que o destino me precipitara, indefesa...

Foi, então, que a febre descerrou inesperados painéis ao meu olhar. Não podia saber se o presente retornava ao passado ou se o passado me atingia o presente.

Vi-me, engrinaldada de fortuna e beleza, numa cidade espanhola de época recuada. Nela, possuía um irmão consanguíneo para quem roguei ao Santo Ofício, com falsos testemunhos, a pena de prisão incomunicável, temendo-lhe a palavra, já que tivera a desventura de conhecer-me os crimes inconfessáveis.

Arranquei-o à esposa e aos filhinhos, impus-lhe a solidão e o desespero no calabouço, em que se demorou, por muito tempo, até que requisitei para ele o suplício do fogo, que lhe foi aplicado, por fim, na cela onde agonizava...

Via-lhe ainda as vísceras fumegantes e escutava-lhe os gritos aterradores, quando me senti de volta à carne torturada.

De novo, o silêncio, a angústia e a monotonia...

Experimentara um pesadelo ou havia conhecido a verdade? A Providência Divina teria dado resposta às minhas súplicas?

Formulava semelhantes indagações a mim mesma, quando assinalei os passos de dois homens que se aproximavam...

Mantinham conversação clara e ativa. Ouvia-lhes o diálogo, incapaz de qualquer reação.

– Tem visto você a megera leprosa? – indagou um deles.

– Creio terá morrido, pelo cheiro de peste reinante no ar – respondeu o outro.

– Não será conveniente uma verificação?

– Não me animo a enfrentar essa bruxa, que, a estas horas, não passará de um cadáver.

– Então – rematou o mais afoito –, ajudemo-la para que os corvos não lhe espalhem no campo os restos envenenados...

Anotei o ruído de um fósforo a inflamar-se ao compasso de risos estridentes.

As chamas crepitaram rápidas. Inutilmente procurei clamar por socorro. A garganta jazia semimorta e a boca cerrada não conseguia nem mesmo balbuciar uma prece.

As labaredas pareciam serpentes rubras a me enlaçarem para a morte.

Como descrever-vos a flagelação do momento final?

Sei apenas que, por minutos, que se desdobraram para mim como séculos, vi-me na posição de tocha viva a estertorar-se...

Mas, reduzido o meu corpo a cinzas, ergui-me do pó, vestida em roupa leve e alva. A gritar de júbilo, vi que meu rosto se reconstituíra, que minhas mãos estavam limpas, que meus cabelos estavam intactos... E, através das chamas que me libertavam, amigos de olhar brando me estendiam braços amorosos, em ósculos de luz.

Ajoelhei-me, feliz, e em lágrimas de ventura agradeci a Deus as úlceras salvadoras e a fogueira da redenção!...

Ah! meus amigos, a evolução do Direito concede-vos hoje sacerdotes e juízes respeitáveis na galeria dos povos mais cultos da Terra. A Inquisição é um fantasma no tempo e o mundo começa a acalentar, com segurança, preciosos institutos de benemerência e solidariedade humana, contudo, abstende-vos do crime, porque a culpa é assim como a jaula a encarcerar-nos a consciência, da qual somente nos libertamos pela Bondade Inexaurível do Pai Celestial que, desse ou daquele modo, nos concede o ensejo de saldar nossos débitos, ceitil por ceitil.
 

Mensagem psicofônica transmitida na noite de 25/8/1955 por intermédio de Chico Xavier e publicada na obra Vozes do Grande Além, ditada por Espíritos diversos.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita