WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual Edições Anteriores Adicione aos Favoritos Defina como página inicial

Indique para um amigo


O Evangelho com
busca aleatória

Capa desta edição
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Divaldo Franco
Site oficial
Raul Teixeira
Site oficial
Conselho
Espírita
Internacional
Federação
Espírita
Brasileira
Federação
Espírita
do Paraná
Associação de
Magistrados
Espíritas
Associação
Médico-Espírita
do Brasil
Associação de
Psicólogos
Espíritas
Cruzada dos
Militares
Espíritas
Outros
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco

Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 347 - 26 de Janeiro de 2014

ALEXANDRE FONTES DA FONSECA
a.f.fonseca@bol.com.br
Campinas, SP (Brasil)

 
 


A pulga, o cientista e Kardec


Michio Kaku em seu livro Hiperespaço [1], ao falar sobre os enganos e desenganos no processo de “fazer ciência”, conta-nos uma interessante e divertida história que reproduzimos a seguir. O título: “o cientista e a pulga”:

Um cientista treinou uma pulga para pular toda vez que uma sirene fosse tocada. Com a ajuda de um microscópio, ele anestesiou uma das perninhas da pulga e tocou a sirene. A pulga pulou. O cientista anestesiou, então, outra perninha e tocou a sirene. A pulga novamente pulou. Ele repetiu o processo anestesiando perninha por perninha, tocando a sirene e verificando, sucessivamente, o pulo da pulga. Porém, após anestesiar a última perninha, a pulga não mais pulou, não importando quantas vezes ou com que intensidade a sirene era tocada. O cientista, então, proferiu solenemente sua conclusão: as pulgas ouvem pelas pernas!

Kaku usou essa história para explicar as razões do elevado número de esquemas incorretos que os físicos, na década de 60, criaram para explicar a enorme quantidade de dados experimentais sobre as chamadas partículas elementares, isto é, as partículas subatômicas que compõem e estruturam a matéria. Nas palavras de Michio Kaku [1]: “À medida que centenas de partículas ‘elementares’ eram descobertas nos entulhos de átomos despedaçados, os físicos de partículas iam propondo inúmeros esquemas para explicá-las, todos malfadados”. Hoje, o chamado Modelo Padrão [2] é a teoria que melhor descreve as partículas elementares.

É fácil perceber a ingenuidade contida na história do cientista e a pulga porque conhecemos a fisiologia da pulga para saber que pernas não escutam. A falta de pernas é que explica a falta de reação da pulga quando a sirene era soada, mas não que a pulga escuta pelas pernas. Embora pareça difícil acreditar, com frequência cientistas experientes cometem erros que, posteriormente, são percebidos serem tão pueris quanto o da história acima. Isso acontece toda vez que um campo novo de pesquisas se inicia, que fenômenos novos e inexplorados surgem. A história da ciência possui vários casos desse tipo para ilustrar. Por essa razão, hoje em dia, os cientistas são muito cautelosos em apresentar propostas, teorias e conclusões como definitivas, pois eles sabem que elas podem ser substituídas por outras ideias melhores a qualquer momento, que novos experimentos podem mostrar novos aspectos do mesmo fenômeno. É oportuno comentar que esse aspecto cuidadoso da Ciência foi destacado por André Luiz no prefácio da obra Mecanismos da Mediunidade [3]: “Aliás, quanto aos apontamentos científicos humanos, é preciso reconhecer-lhes o caráter passageiro, no que se refere à definição e nomenclatura, atentos à circunstância de que a experimentação constante induz os cientistas de um século a considerar, muitas vezes, como superado o trabalho dos cientistas que os precederam”. (Grifos nossos).

O movimento espírita tem enorme interesse pelas novidades da Ciência. Isso decorre do caráter progressista do Espiritismo que, nas palavras de Kardec (item 55 do cap. I de A Gênese [4]), “assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam...”. Porém, como nós espíritas, em geral, não conhecemos os rigores profissionais da atividade de pesquisa, muitas vezes tomamos como verdades definitivas afirmativas e novidades que não passam de hipóteses exuberantes e sistemas pessoais. O que acontece é que nos esquecemos de prestar atenção ao que Kardec disse logo em seguida à afirmação acima: “... desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria”. Isto é, o Espiritismo deve (e irá) assimilar o progresso das ciências, mas na medida em que esse progresso estiver bem consolidado, bem compreendido, demonstrado e confirmado pela respectiva comunidade científica. Nisso, sem condições de perceber que não passam ainda de utopias, e em nome de valorizar cientificamente o Espiritismo, temos dado valor a certas novidades cujos erros são tão ou mais graves do que acreditar que as pulgas ouvem pelas pernas... Exemplos podem ser encontrados nos artigos das referências [5] e [6].

E o que Kardec teria a ver com a história do cientista e a pulga? Aqui, desejamos destacar a sensatez e seriedade de Kardec perante os fenômenos espíritas. Muito à frente de sua época, ao invés de apresentar conclusões apressadas ou formular explicações com base em teorias vigentes à época, Kardec adota a postura científica séria e prudente de observar extensamente esses fenômenos antes de propor explicações definitivas. Em outras palavras, Kardec não caiu na mesma tentação do cientista da história da pulga, que concluiu (apressadamente) que as pulgas escutariam pelas pernas.

Curioso notar que, na medida em que Kardec desenvolvia seus estudos e divulgava a Doutrina Espírita, os críticos e materialistas começaram a agir da mesma forma que o cientista da história da pulga. Apressadamente propuseram teorias e explicações para os fenômenos espíritas – alucinação, fluido magnético, reflexo do pensamento, superexcitação cerebral, estado sonambúlico, estalido de músculo [7, 8] – quando não usaram de má-fé para considerar que tudo não passava de simulação e fraude. O Leitor é referido ao capítulo IV da 1ª parte d’O Livro dos Médiuns [7] para ver a análise e contrarresposta de Kardec a cada uma dessas propostas precipitadas. Aqui, como exemplo de lucidez e bom senso, reproduziremos um comentário de Kardec a respeito da hipótese do estalido de músculo que foi proposta por um médico para explicar o fenômeno de batidas que os Espíritos realizavam: “Reconheçamos, pois, que ele [o médico] julgou sem ter visto, ou sem ter observado tudo e observado bem. É sempre de lamentar que homens de ciência se afoitem a dar, do que não conhecem, explicações que os fatos podem desmentir. O próprio saber que possuem devera torná-los tanto mais circunspectos, em seus juízos, quanto é certo que esse saber afasta deles os limites do desconhecido”.  (Kardec, item 41 de O Livro dos Médiuns [7]. Os grifos em negrito são meus.)

Essas teorias poderiam, quando muito, explicar alguns fenômenos isolados, mas eram incapazes de explicar o conjunto extenso de fenômenos espíritas que só a observação cuidadosa e atenta era capaz de perceber. De maneira verdadeiramente científica, sem se deixar levar por alguma *conclusão apressada*, Kardec conclui a formulação de uma doutrina consistente e robusta, que não somente revela a existência da alma e os meios de comunicação com os chamados “mortos”, mas demonstra, através da razão e dos fatos (as comunicações mediúnicas), a importância da prática da caridade.

Recomendamos a leitura da resposta dada por Kardec ao cético em O Que É o Espiritismo [8], questão sob o título “Origem das Ideias Espíritas Modernas” da qual, por falta de espaço, reproduzimos apenas o comentário final: “Tal é, em poucas palavras, cavalheiro, a história do Espiritismo: bem vedes, e reconhecereis ainda melhor quando o tiverdes estudado a fundo, que tudo nele é o resultado da observação e não de um sistema preconcebido”. (Grifos em negrito, meus.) Isso demonstra que o Espiritismo não foi concebido a partir de poucas observações, sem ter sido bastante refletido, ou ainda, sem a revisão dos bons Espíritos.

A abrangência moral do Espiritismo só pode ser apreendida a partir do estudo da Doutrina como um todo. Não foi à-toa que passados mais de um século e meio, o Espiritismo permanece firme e inalterado mesmo diante das revoluções por que passaram as diversas disciplinas científicas. As razões disso são simples: por ser uma Doutrina fortemente vinculada aos fenômenos e fatos [9], ela é naturalmente robusta, pois fenômenos e fatos representam a linguagem da Natureza que, por si, é quem bate o martelo a respeito das teorias que são ou não válidas para a Humanidade.

O Leitor amigo que se interessa pelo estudo do Espiritismo e é atuante no Movimento Espírita, sempre que se deparar com novidades científicas ou mediúnicas, deve-se perguntar se conhece o bastante a respeito dessas novidades para formar uma opinião segura a respeito, e se perceber que pode cair na mesma situação do cientista e a pulga, a melhor alternativa é seguir a recomendação de Erasto (item 230 de O Livro dos Médiuns [7]): “É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea”.

Se desejamos de fato trabalhar pelo caráter progressivo do Espiritismo, sigamos o exemplo do Codificador, de paciência, cautela, seriedade e prudência no trato e pesquisa de novos fenômenos e novas teorias. Só assim contribuiremos de modo seguro para o avanço de nossa amada Doutrina.
 

Referências:

[1] M. Kako, Hiperespaço, Editora Rocco (2000).

[2] M. A. Moreira, “O Modelo Padrão da Física de Partículas”, Revista Brasileira de Ensino de Física 31, p. 1306 (2009).

[3] A. Luiz, Psicografia de F. C. Xavier, Mecanismos da Mediunidade, Editora FEB, 11ª Edição (1990).

[4] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição, Rio de Janeiro (1995).

[5] A. F. da Fonseca, “A Obra a ‘Física da Alma’ e o Espiritismo”, O Consolador 188 (2010), http://www.oconsolador.com.br/ano4/188/especial.html, acessado em 1º de Julho de 2012.

[6] A. F. da Fonseca, “Análise Científica da Apometria”, O Consolador 289 (2012), http://www.oconsolador.com.br/ano6/289/especial.html.

[7] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Ed. FEB, 1ª Edição, Rio de Janeiro (2008).

[8] A. Kardec, O Que É o Espiritismo, Editora FEB, Rio de Janeiro (2006). 

[9] A. F. da Fonseca, “Permanentes Mudanças e Permanência”, Revista Internacional de Espiritismo 2, p.93, (2003).

 

 

 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita