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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 338 - 17 de Novembro de 2013

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP (Brasil)

 
 
 

Por Nietzsche
(e em alusão a Jung)...


Apesar dos ecos acadêmicos presos ao materialismo, das distorções infelizes do reducionismo, atrevo-me, inspirada por Alejandro (1), a insinuar que temos uma dívida para com Nietzsche à medida que Jung aprendeu muito a partir da experiência dele.  

Segundo as informações do amigo espiritual, muitos de nós, estudiosos e terapeutas, que reconhecem necessariamente a dimensão espiritual, as complexidades e dramas da individualidade (= Espírito), estamos convencidos de que, sem o exemplo anterior de Nietzsche, a experiência de Jung dedicada ao serviço da psique teria sido provavelmente ainda mais prejudicada (2). 

Jung afirma ter descoberto Nietzsche, em sua autobiografia, em 1898. Ele conta o seguinte: 

Apesar dos meus temores, estava curioso e me dispus a lê-lo. Caiu-me nas mãos o livro Considerações Inaturais. Entusiasmei-me e li em seguida Assim falou Zaratustra. Essa leitura, como a do Fausto de Goethe, foi uma de minhas impressões mais profundas. Zaratustra era o Fausto de Nietzsche, seu no 2 (sua personalidade no 2), e meu no 2, agora, corresponde a Zaratustra... (...) Nietzsche falava ingênua e irrefletidamente desse arrheton (segredo), como se fizesse parte de uma ordem comum. Eu, entretanto, soube muito mais cedo que essa atitude leva a experiências negativas... Seu equívoco mórbido – pensei – fora o de expor seu no 2 com uma ingenuidade e uma falta de reserva excessivas a um mundo totalmente ignorante de tais coisas e incapaz de compreendê-las. Ele alimentava a esperança infantil de encontrar homens que pudessem experimentar seu êxtase e compreender ‘a transmutação de todos os valores’. Como os outros, não se compreendeu a si mesmo ao cair no mundo do mistério e do indizível, pretendendo – além do mais – exibi-lo a uma massa amorfa e abandonada pelos deuses (Memórias, Sonhos, Reflexões, 1963, p. 102). 

E, com o olhar nesse passado, com pouco esforço se percebe o quanto Nietzsche foi essencial para Jung e seu trabalho.  

Basta salientar o fato de que ele conduziu um seminário sobre o Zaratustra de Nietzsche (3), considerado um documento psicológico absolutamente extraordinário (e de maneira peculiar considero brilhante a maneira como ele descreve a sombra coletiva do homem moderno), durante cinco anos – sim, não foram cinco semanas! 

Aparecem no livro, mencionados, muitas das ideias e conceitos com os quais estamos acostumados na psicologia de Jung, como, por exemplo, a nítida noção de sombra, entre outros insights transcendentais.  

Ademais, o ponto notável do relato é a descrição explícita do Si-mesmo (4) como um segundo centro da personalidade, um centro que é superior ao ego. E Nietzsche sabia disso porque ele teve essa experiência. E ainda que não assimilada totalmente no momento em que ele a descreveu (registrada no Assim falou Zaratustra), ela, a experiência, foi assimilada (ou apreendida) no hospital psiquiátrico, como aclara o documento póstumo (My Sister and I). Tomo a liberdade de copiar um trecho do Assim falou Zaratustra para que você possa avaliar o quanto isso soa familiar:  

Por trás de teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, está um poderoso soberano – cujo nome é si-mesmo. Em teu corpo ele habita; ele é o teu corpo. (...) O si-mesmo diz ao ego: ‘Sinta dor aqui!’ E o ego sofre e pensa como pode parar o sofrimento – e é por isso que ele foi feito para pensar (Assim Falou Zaratustra, parte 1, seção 4). 

Por considerar Nietzsche como um homem de uma coragem psicológica imensa, busco apoiar-me num ponto de vista histórico e por isso insisto aqui, através deste singelo escrito, em apontar para um fato legítimo: Assim falou Zaratustra (e My Sister and I, e ainda outras obras de Nietzsche, como Gaia Ciência) é um registro dedicado à trama das regiões interiores e profundas (segundo o vasto território da psique), prestou-se amplamente à obra de Jung.

No que pese o surto em 1889, quando ele foi hospitalizado e considerado louco pelo resto da vida, nos onze anos seguintes, o funcionamento psicológico interno do filósofo alemão estava muito mais coerente (ou intacto) do que sua aparência externa poderia sugerir.  

Assim, Nietzsche, enquanto esteve internado, escreveu um manuscrito e conseguiu fazer com que o texto saísse clandestinamente com um paciente que recebera alta do internamento. E esse foi um evento significativo, embora os estudiosos de suas obras ditas filosóficas, no geral, conspirem silenciosamente contra esse texto porque, segundo eles, à medida que denuncia fatos psicológicos da vida privada de Nietzsche, acabam por depreciá-lo como “filósofo”. 

Essa pequena obra foi publicada com o título My Sister and I. Um título infeliz, e que não foi escolhido por Nietzsche, mas sim por seus editores, para expor o aspecto mais escandaloso (e amargo) do texto, que trata do sofrimento familiar e privado do autor alemão.  

Nietzsche, como um tipo intuição (e médium), apreciado por Jung, inaugurou a época da psicologia profunda. 

Como um pioneiro da causa da psicologia profunda emergente, Nietzsche documenta o encontro moderno com o Si-mesmo, facilitando o elaborar da perspectiva psicológica junguiana – e não que não tenha havido outros encontros dessa natureza (eixo ego/Si-mesmo), mas eles permaneceram secretos, privados, não-assimilados e, portanto, nunca tinham sido transmitidos dessa maneira peculiar à coletividade.  

Por fim, no itinerário da ciência da alma, podemos considerar, e segundo as coerentes palavras do junguiano E. F. Edinger, a existência da personalidade Nietzsche como “uma tragédia heroica, um sacrifício que inaugurou a época da psicologia profunda (...). A experiência de Nietzsche preparou o caminho para Jung (2004, p. 72) (itálicos meus). 

Dito então em termos mais simples: da experiência (sofrida e árdua) de Nietzsche para o médico Jung, para quem a psique tornou-se um objeto do (seu) ego subjetivo observador... e, enfim, para todos nós (5), um roteiro psicológico que pode ser experimentado na vivência cotidiana, no exercício contínuo do autoexame, pois somos os felizes aprendizes do conhece-te a ti mesmo e da (vasta) realidade espiritual.  


Algumas notas: 
 

(1) Alejandro – Espírito amigo.

(2) É sabido que Jung, por bloqueio cultural e receios acadêmicos, entre outros motivos, foi derrotado no propósito trazido para a existência terrena de levar a realidade espiritual para o contexto da psicologia. Doutor Jung não conseguiu introduzir no seu trabalho os conceitos de reencarnação, preexistência e sobrevivência do ser à morte corporal. Cabia-lhe dar à psicanálise de seu tempo, e por extensão à psicologia, o conteúdo espiritual que, paradoxalmente, sempre lhe faltou como ciência da alma. Hermínio C. Miranda afirma: Estou convencido de que a tarefa que Jung programou para essa existência fora a de colocar a alma na psicologia. Ao cabo de anos e anos de hesitações e ambiguidades, foi convocado, em desdobramento, à dimensão invisível, onde seus amigos e mentores espirituais o advertiram severamente de que não estava, ‘lá em baixo’, cumprindo o compromisso que assumira antes de renascer. É o que ele próprio conta em suas reveladoras memórias (cf. As Sete Vidas de Fénelon, Bragança Paulista, SP: Lachâtre, 2012, p. 58).

(3) No Zaratustra de Nietzsche, a figura Zaratustra, a reencarnação do antigo profeta, anuncia uma nova moralidade. Segundo os estudiosos e seguidores de Jung, o que Zaratustra anuncia esta visão de mundo completamente nova, é, na realidade, precursora da psicologia profunda. De outro lado, Assim Falou Zaratustra é a principal obra do filósofo F. Nietzsche (1844-1900) e tem como concepção básica o pensamento do eterno retorno, condição essencial para que o homem realize a redenção do passado, eliminando o modo ressentido e reativo de viver, tornando-se apto o ser humano a criar o seu próprio futuro (segundo a própria proposta da individuação de Jung).

(4) Jung fala do Si-mesmo, e da relação deste com o ego, sob vários pontos de vista. Em Símbolos da Transformação, embora não desenvolva o conceito de maneira completa, Jung anuncia o que mais tarde irá atribuir à atividade principal do Si-mesmo: um fator de orientação/transformação tanto do ego como das partes inconscientes da personalidade.

(5) É claro que a mensagem de Jung revela-se como um guia seguro para qualquer pessoa que busca um sentido e/ou atividades orientadoras que o levem para a sua interioridade. Contudo, coube especialmente ao Espírito Joanna de Ângelis a tarefa de fazer o que não fez o doutor Jung, isto é, dar à ciência da alma (psicologia) o conteúdo espiritual até então ausente, porquanto não é propriamente o Espírito que tem problemas para resolver... Na verdade, como bem explica Hermínio C. Miranda, é a alma, o ser encarnado (Cf. As Sete Vidas de Fénelon, Bragança Paulista, SP: Lachâtre, p. 56, 2012).


Referências
:

Edinger, E. F. Ciência da Alma: uma perspectiva junguiana. SP: Paulus, 2004.

Jung, C. G. Memórias. Sonhos. Reflexões. RJ: Ed. Nova Fronteira, 1963.

Nietzsche, F. Assim Falou Zaratustra. SP: Cia. das Letras, 2006.

Miranda, Hermínio C. As Sete Vidas de Fénelon. Bragança Paulista, SP: Editora Lachâtre, 2012.



 

 


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