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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 332 - 6 de Outubro de 2013

RAFAEL ROSSI
rafaelrossi6789@hotmail.com
Presidente Prudente, SP (Brasil)

 
 



Para além da posse em benefício de todos


Este artigo é um esforço de crítica a uma problematização necessária de ser realizada no meio espírita. Infelizmente ainda são presentes precárias reflexões sobre a materialidade das condições de vida humana dentro de muitos centros espíritas que realizam palestras maçantes (atualmente com o auxílio do data show, do qual muitos palestrantes não se largam e praticam uma leitura enfadonha e cansativa). Fracos estudos sobre as obras clássicas do Espiritismo e algum assistencialismo para os pobres, pensam estar sendo coerentes com a doutrina codificada por Kardec. O presente leitor que me perdoe se a crítica lhe soar forte demais, entretanto, quanto mais ando por esse país mais percebo o quão são raros os centros que realmente se esforçam por manter vivo o tripé: RELIGIÃO-CIÊNCIA-FILOSOFIA.

O materialismo histórico-dialético proposto por Marx abriu fronteiras e horizontes de análises ao apontar críticas extremamente pertinentes ao modo de produção capitalista que apresentam, sobretudo no período atual de globalização dominante, potencial para compreendermos o mecanismo e os discursos que estruturam a exploração de uma classe sobre a outra. O Espiritismo, por sua vez, resgata os ensinamentos do grande Mestre e irmão Jesus Cristo para conceber à luz da Ciência a fé racional, isto é, a fé, a crença na vida além, embasada na razão, na comprovação empírica de comunicação e interferência mútua entre a nossa Pátria Espiritual e o plano terrestre. Desse modo a tese que defendo é a união de análise do materialismo histórico-dialético com a continuidade de perspectiva e entendimento dos conflitos e conjunturas presentes à luz do Espiritismo, convergindo num espiritual materialismo dialético.

Não se trata tão-somente no esforço em cunhar um novo conceito, mas sim em reforçar os ganhos analíticos e de reflexão quando nos propomos a considerar as condições atuais da existência humana com a contribuição da doutrina espírita. Isso se dá no intuito de não cairmos na frieza e arrogância acadêmica de muitos intelectuais marxistas, tampouco na ingenuidade e superficialidade de considerar somente aquilo que se entende por espiritual. Feitas essas breves considerações, as quais espero realmente que mobilizem o leitor a criticar-me, entrarei no debate sobre a posse.

Vivemos em uma era concebida como “tempos líquidos”, como denomina Bauman, ou sociedade pós-moderna, de globalização enquanto perversidade, como defendida por Milton Santos... Tantas definições para demonstrar o caráter individualista, fluido, competitivo, acelerado, desigual, injusto e ideológico que marcam as relações sociais de nosso tempo. Contudo, precisamos lembrar que ainda vivemos sob a estrutura e organização do modo de produção capitalista e a propriedade privada é sua pedra elementar. A época atual consegue muito bem, através do consumo generalizado e das políticas compensatórias, ornamentadas com uma incessante propaganda televisiva, jornalística e etc., nos convencer que as desigualdades sociais diminuíram e que a realidade presente é muito melhor que a da 1ª ou 2ª Revolução Industrial, com suas elevadas jornadas de trabalho e falta de leis trabalhistas. Justamente esse é o ponto chave: a ideologia. Marx e Engels em seu livro “A Ideologia Alemã” nos ensinam que: “Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numa determinada sociedade é também o poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção material dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos quais são negados os meios de produção intelectual está submetido também à classe dominante”.

Esse trecho permite compreender como apesar da ainda existência, na atualidade, do trabalho infantil, trabalho escravo, desrespeito às leis trabalhistas, enfim, como a exploração ainda é escondida, maquiada e mascarada pela ideologia dominante que acaba fazendo com que muitos de nós pensemos ser importante “louvar os grandes impérios financeiros que distribuem empregos”. Somente a título de curiosidade: o Tribunal Regional do Trabalho em Santa Catarina condenou a empresa Sadia, em Chapecó – SC, a pagar para todos seus funcionários o tempo destinado à troca de uniformes e deslocamentos entre a portaria da empresa e o vestuário, entre os anos de 2005 e 2011, já que esse mesmo tempo não era contabilizado como hora de serviço, corroborando numa condenação que deverá ultrapassar R$ 20 milhões de reais, aliás, valor esse irrisório se comparado com o lucro dessa empresa somente no ano de 2012, no valor de R$ 28 bilhões. Além disso, relatório elaborado para congresso mundial sobre saúde e segurança no trabalho, na Turquia, mostra que as enfermidades mortais vinculadas ao trabalho cresceram de 1,95 milhão, em 2003, para 2,02 milhões, em 2008, ou seja, esses são exemplos que explicitam (e poderíamos ainda lembrar muitos outros) que ainda lidamos diariamente com condições exploratórias marcantes no conflito entre a classe dominante e a classe trabalhadora.

Recusar-se a entender os interesses de classes não só economicamente opostas, mas também com projetos antagônicos, inclusive negando-as, não é só uma opinião, é algo perigoso. Negar a perspectiva de classe na atualidade, entendendo isso como coisa somente aplicável ao século XIX, é explicitamente rejeitar do debate os embates em todos os campos da questão social (já que quando analisados esses conflitos, nitidamente percebemos intencionalidades projetivas opostas) e assumir uma postura muito bem definida, do ponto de vista de classe... Não é somente a posse dos meios de produção e a venda da força de trabalho que definem cada qual. Mais do que nunca estão em jogo aqueles que se opõem efetivamente à exploração, possuindo um projeto alternativo de produção, e os que historicamente camuflam o mesmo aspecto explorador, preconizando o princípio de que "basta trabalhar muito e todos enriquecerão", defendendo o princípio de "liberdade individual", mas não tendo a coragem de analisar de modo mais amplo o preço que tal "liberdade" custa a milhões de trabalhadores... É essa perspectiva de conflito, numa análise mais ampla, tendo como eixos de compreensão a exploração e os projetos de sociedade divergentes entre as classes sociais, que permite não nos rendermos a uma opinião midiática que apregoa a classe dominante como “aqueles que com enormes esforços juntaram grandes fortunas”.

É para essa realidade que devemos estar atentos nos centros espíritas, a fim de não reproduzirmos um discurso coerente com interesses da classe que domina, enquanto que aqueles que frequentam nossas reuniões e espaços conformam a classe trabalhadora. Claro que estou sendo muito radical e breve em minhas considerações, porém, não dá mais pra disseminar um discurso preocupado num moralismo fatalista, conformista e banal como os apresentados pelos espíritas em sua maioria. O merecimento de cada um, as provações, dívidas, tudo isso interfere e está presente nessa dinâmica de exploração e não deve ser menosprezado. O povo tem educação e necessita de garantia dos direitos sociais e políticas públicas, já que ninguém educa ninguém, nós que nos educamos na relação de uns com os outros e o mundo, como já nos ensinava Paulo Freire. Uma das tarefas nos centros é discutir e palestrar junto com seus frequentadores e não para eles, de modo que o cotidiano possa ser debatido com a contribuição dos conceitos espíritas.

Este educador dizia que a educação não transforma o mundo, mas sim os homens, e estes transformam o mundo... Freire também defendia um ponto de vista que comungasse com a classe trabalhadora, partisse de sua visão de mundo, para juntos a problematizarmos e nela nos inserirmos novamente a fim de transformá-la. Essa ideia de ação-reflexão-ação é a que defendo a partir do espiritual materialismo dialético como prática constante em centros espíritas. Precisamos conhecer nossos frequentadores que na sua maior parte conformam a classe trabalhadora, assim, necessitamos ouvi-los, discutir coletivamente os temas espíritas e de nosso cotidiano, para juntos caminharmos numa reforma íntima forte o suficiente para romper com os vícios, preconceitos e maldades presentes em nossos corações. Somente um trabalho de estudo e auxílio conjunto, sem hierarquias, sem preferencialismos baratos, conseguirá fornecer as bases para que possamos nos compreender mais à luz das problemáticas do dia-a-dia, esclarecidas pelos ensinamentos espíritas, e, dessa maneira, dar mais um passo na longa caminhada do progresso espiritual. Por isso, devemos ter o cuidado com nossas falas e escritos se estivermos nos propondo a usar o método espírita de análise, já que imperioso é acabar com impérios, assim como há na realidade muito mais impérios financeiros erguidos à custa da morte literalmente alheia do que “preguiçosos” como muitos apontam...

 


 


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