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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 331 - 29 de Setembro de 2013

PAULO DA SILVA NETO SOBRINHO
paulosnetos@gmail.com

Belo Horizonte, MG (Brasil)

 
 



Josefo cita Jesus?
 

Não raras vezes, encontramos pessoas que, no esforço de provar a existência do Jesus histórico, recorrem a Flávio Josefo, historiador judeu do século I, nascido em 37, morto no ano 103. Tudo bem, a busca das fontes para demonstrar que Ele realmente existiu é algo louvável mesmo. Entretanto, a questão é: será que podemos confiar na informação que se encontra em Josefo? Para responder a isso é necessário vermos o que o historiador soviético Iakov Abramosvitch Lentsman[1] (1908-1967) argumenta:

[…] Seus escritos, no entanto, constituem uma fonte preciosa para o estudo da história da Palestina no primeiro século da nossa era. Nas Antiguidades Judaicas, Flávio Josefo relata, sem omitir qualquer detalhe, os acontecimentos ocorridos em sua época, em seu país; fornece informações muito importantes a respeito dos essênios e de outras seitas da Judeia. A profusão de dados de toda espécie que se encontra nesta obra torna ainda mais eloquente seu total silêncio sobre os cristãos.

Mas, os doutores da Igreja, percebendo claramente que a essência de qualquer alusão na obra de Flávio Josefo desacreditava totalmente o mito evangélico, não recuaram diante de uma falsificação grosseira. Nos manuscritos das Antiguidades Judaicas está escrito (XVIII, 3,3) que, sob Pôncio Pilatos, viveu “Jesus, um homem sábio, se é que se pode, todavia, considerá-lo como um homem, pois foi autor de atos maravilhosos, mestre de homens que, com alegria, receberam dele a verdade; ele atraiu muitos judeus, e, também, muitos gregos. Foi o Cristo. Quando, por denúncia daqueles que eram os primeiros entre nós, Pilatos o condenou à cruz; aqueles que, desde o princípio, o amaram continuaram procedendo assim, pois, ele lhes apareceu, três dias depois, ressuscitado de novo. E os divinos profetas haviam previsto isto e dez mil outras maravilhas sobre ele. Hoje, ainda não desapareceu a seita dos cristãos, nome esse que deriva do dele”. Porém, se se levar em conta a fidelidade de Flávio Josefo à religião judaica e, também, o fato de ele considerar Vespasiano como o Messias, de modo algum se poderá aceitar que tenha dado tal título a Jesus também. Segundo a opinião geral dos historiadores, essas linhas não passam de uma interpolação posterior, devida a um copista, tão ingênuo, quanto piedoso.

Graças a um feliz acaso, é mesmo possível estabelecer a data dessa intercalação. Um dos Padres da Igreja, Orígenes, polemizando contra Celso, crítico do Cristianismo, acusa Flávio Josefo de não ter querido admitir que Jesus era o Messias. Eusébio, que compôs a sua História Eclesiástica no século I, pouco depois da vitória do Cristianismo, já reproduz as linhas que foram acrescentadas, o que dá lugar à crença de que a passagem citada foi intercalada nos textos de Flávio Josefo entre os fins do século III e os começos do século IV. Trata-se de uma interpolação tão manifesta que muitos dos teólogos católicos não mais ousam negá-la.

Em outra página das Antiguidades Judaicas (XX, 9), Flávio Josefo fala da condenação de certo “Pedro, irmão de Jesus, chamado o Cristo, e de alguns outros”. Em meados do século III, Orígenes, em diversas ocasiões, referiu-se a essa passagem que, à primeira vista, parece muito mais digna de fé do que a que citamos anteriormente. Mas como admitir que essas palavras são da pena de Flávio Josefo, uma vez que esse mesmo Orígenes o acusou de duvidar de que Jesus fosse o Messias (o Cristo)? Pode ser que o original se referisse a outro Jesus. É evidente, em todo o caso, que esta passagem também traz vestígios da intervenção de copistas cristãos. Nos escritos de Flávio Josefo nada mais se encontra que se relacione com o Cristianismo.

Apesar da ausência de referências ao Cristianismo nas duas obras de Flávio Josefo, tanto uma como outra são indispensáveis ao estudo do problema que nos ocupa, sendo, com efeito, a única fonte de que dispomos sobre a história da Palestina antes da Guerra dos Judeus, e a principal fonte sobre a história dessa guerra. Se bem que o Cristianismo tenha nascido entre hebreus que viviam fora do seu país, os acontecimentos na Palestina não deixaram de exercer sobre eles uma grande influência, onde quer que vivessem, no Egito, ou na Ásia Menor. É preciso não esquecer, doutra parte, que os autores dos livros do Novo Testamento obtinham dados históricos sobre a Palestina nos escritos de Flávio Josefo: vários detalhes dos evangelhos foram emprestados às Antiguidades Judaicas. (LENTSMAN, 1963, p. 56-58) (grifo nosso).

Acreditamos que as ponderações de Lentsman são pertinentes, sendo inclusive corroboradas pelo teólogo alemão Holger Kersten (1951- ):

[…] O historiador judeu Flávio Josefo publicou, por volta de 94 d.C., uma obra grandiosa, intitulada Antiguidades Judaicas, que cobre um espaço que vai desde a criação do mundo até a época de Nero, onde narra acontecimentos considerados mais importantes. Cita João Batista, Herodes e Pilatos; detalha, com minúcias, fatos políticos e sociais, mas não escreve uma só palavra sobre Jesus. No terceiro século, surgiu uma obra escrita por um cristão, intitulada Testimonium Flavianum (12), onde o historiador judeu Josefo aparece inesperadamente, narrando e confirmando os milagres e a ressurreição de Cristo. Os padres da Igreja, Justino, Tertuliano e Cipriano nada sabiam a esse respeito e Orígenes (13) nos lembra, repetidas vezes, que Josefo não acreditava em Cristo. […]

______

(12) Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas; 18; 3,3 e 20: 9,1.

(13) Orígenes, Contra Celsum.

(KERSTEN, 1988, p. 28-29). (grifo nosso).

Acrescentamos, também, os escritores britânicos Timothy Freke (1959- ) e Peter Grandy (? - ), autores do livro Os mistérios de Jesus, do qual transcrevemos:

Durante centenas de anos, estas passagens de Josefo foram tomadas pelos historiadores cristãos como prova conclusiva de que Jesus existira. Isto é, até que os acadêmicos começaram a examinar o texto de uma forma mais crítica. Nenhum erudito sério acredita agora que estas passagens foram na realidade escritas por Josefo (13). Elas foram claramente identificadas como acrescentos muito posteriores. O seu estilo de escrita não é o mesmo do de Josefo e, se forem retiradas do texto, o argumento original de Josefo segue sua sequência natural. Escrevendo no início do século três, Orígenes, que as autoridades modernas consideram como um dos eruditos mais conscienciosos da antiga Igreja, diz-nos que não há qualquer referência a Jesus em Josefo e que Josefo não acreditava que Jesus era o Cristo, dado que não acreditava em nenhuma figura de Messias judaica (14).

[…]

[…] Josefo menciona pelo menos dez Jesus, embora seja revelador notar que algumas traduções de Josefo só traduzem as passagens que pretendem que o leitor identifique com Jesus Cristo, usando a versão grega do nome que todos nós reconhecemos, deixando os nomes de todos os outros Jesus no hebraico não traduzido (22).

_______

13. Qualquer um que ainda duvide disto deve ler The Messiah Jesus and John the Baptist, pelo Dr. Eilser: “O que é certo é que nem um único texto grego, latino, eslavo ou outro de Josefo chegou até nós sem ter passado pelas mãos dos escribas cristãos e dos seus proprietários cristãos”, Eilser, R. (1931), 38. Relativamente às interpolações, Eisler diz: “Os críticos da passagem são filólogos, os seus defensores teólogos”, ibid., 41.

14. Gruber e Kersten (1985), 6, e ver Wells, G. A. (1975), 11. Josefo tinha enorme desprezo pelos numerosos “Messias” que estavam ativos na sua época. Ver Josefo, The Jewish War, 135. Ele metia as “fraudes religiosas e os bandidos” no mesmo saco e considerava-os a causa da destruição de Jerusalém.

22. Ver Josefo, The Jewish War, 403, onde este truque particularmente pouco sincero é mais aparente. O Jesus lunático do Capítulo 21 é inexplicavelmente traduzido como Jeshua, enquanto nas adições eslavas espúrias o editor usa o nome Jesus. Em defesa destas interpolações, ele afirma que os acréscimos que consideram estas passagens como espúrias estão simplesmente “empenhadas na destruição”! É estranho ouvir a linguagem de um profeta do Antigo Testamento a um acadêmico clássico a escrever em 1959.

(FREKE e GANDY, 2002, p. 129-130) (grifo nosso).

Confirma o que já foi dito anteriormente.

Na obra Os crimes dos papas: mistérios e iniquidades da corte de Roma, o autor Maurice Lachâtre, ao falar de Simplício 49 Papa, traz interessante fato:

Sua santidade acusava aquele prelado [está falando de Timóteo Elúreo] de partilhar a heresia de um frade africano que, depois de ter entregado a profundas e minuciosas investigações sobre a autenticidade da vinda do Filho de Deus à Terra, chegara a esta conclusão notável: “Jesus não existiu”. Para corroborar a sua opinião, invocava este religioso o silêncio de Philon, célebre doutor judeus, que escrevia na época em que se marca a missão do Cristo. Provava ele que nas obras de Flávio Josefo, que florescia no meado do primeiro século da nossa era, a passagem em que se trata de Jesus encerra interpolações grosseiras que não existiam no tempo de Orígenes, isto é, em 253; por isso que aquele padre manifesta nas suas obras uma grande surpresa pelo esquecimento absoluto que Josefo fizera de Jesus. […] (LACHÂTRE, 2004, p. 145) (grifo nosso).

Vemos um frade africano, portanto um membro da própria Igreja, questionar a veracidade da informação sobre Jesus, que hoje encontramos na obra de Josefo.

E, para finalizar, trazemos a opinião de um historiador católico; trata-se de Paul Johnson (1928- ), escritor e jornalista, que, em sua obra História do Cristianismo, assim diz:

[…] Infelizmente, a obra Antiguidades, de Josefo (publicada por volta de 93 d.C.), tão útil quanto a outros tópicos relacionados, é virtualmente muda quanto a este ponto. Josefo era um judeu helenizado, um romanófilo, na verdade um general e historiador romano cujo trabalho teve subsídios imperiais. A cadeia de manuscritos que veio até nós fatalmente passou pelo controle cristão. Como Josefo fazia forte oposição ao irredentismo judaico, bem como a qualquer outro movimento sectário que trouxesse problemas para as autoridades, adotou uma clara postura anticristã. Contudo, isso foi adulterado. Assim, ele menciona a pena capital de Tiago pelo sumo sacerdote Ananias, em 62 d.C., e refere-se a Tiago como o irmão “de Jesus, o assim chamado Cristo”, de modo que sugere que ele já havia feito seu relato de Jesus e cumprido sua missão. Porém, o que realmente chegou até nós foi uma passagem descrevendo Jesus como um sábio, amante da verdade, muito amado por seus seguidores; aceita seus milagres e ressurreição e sugere intensamente sua divindade. A passagem é claramente uma invenção cristã não muito engenhosa, e o que foi escrito por Josefo de fato perdeu-se. As tentativas de reconstruí-lo não ganharam aceitação geral até o momento. […] (JOHNSON, 2001, p. 32-33) (grifo nosso).

Johnson é um católico que reconhece que o texto de Josefo que fala de Jesus não deve ter nenhuma credibilidade. Isso é importante, para demonstrar que há pessoas que buscam acima de tudo a verdade, por isso não ficam acorrentadas às “verdades” que lhes passaram.

Cabe, portanto, aos que utilizam Josefo para provar que Jesus existiu, buscarem outra fonte, cuja informação seja mais fiel ou menos duvidosa.

Nós, particularmente, não temos dúvida de sua existência, por isso não ficamos preocupados em provar nada, queremos apenas alertar aos que tentam fazê-lo, que tomem cuidado com as suas fontes, para não se dar justamente o efeito contrário do que querem fazer.

 

Referências bibliográficas:

FREKE, T. e GANDY, P. Os mistérios de Jesus: o paganismo oculto em Cristo. Mem Martins, Portugal: Europa-América, 2002.

JOHNSON, P. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

KERSTEN, H. Jesus viveu na Índia, São Paulo: Best Seller, 1988.

LACHATRE, M. Os crimes dos papas: mistérios e iniquidades da corte de Roma. São Paulo: Madras, 2004.

LENTSMAN, J. A. A Origem do Cristianismo. São Paulo: Fulgor, 1963.


 

[1] Nessa obra o nome do autor consta Jacó Abramovitch Lentsman, porém, parece-nos que os nomes próprios não devem ser traduzidos, é por isso que em vez de Jacó colocamos Iakov.



 


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