A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 50 e final)
Concluímos nesta edição
o estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Para Myers, a
intercomunicação direta
entre nós e os
desencarnados está
comprovada?
Sim. Segundo Myers, as
observações e as
experiências sobre as
quais ele se apoiou
levaram diversos
pesquisadores, inclusive
ele, a acreditar na
intercomunicação direta
ou telepática entre os
encarnados e também
entre os encarnados de
um lado e os
desencarnados de outro.
(A Personalidade Humana.
Esboço provisório de uma
síntese religiosa.)
B. O Cristianismo se
enfraquece ou se
fortalece com as
manifestações que nos
vêm do além-túmulo?
O Cristianismo se
fortalece. Segundo
Myers, tais
investigações deram
resultados grandemente
positivos, pois
demonstraram que entre
um grande número de
fatos que se podem
atribuir ao erro, à
mentira, à fraude e à
ilusão, existem
manifestações
indiscutíveis que nos
vêm de além-túmulo. A
afirmação capital do
Cristianismo recebeu,
dessa forma, uma
concludente confirmação.
Se nossos próprios
amigos, homens como nós,
podem às vezes vir para
falar-nos de amor e de
esperança, um espírito
mais forte pode-se
servir das leis eternas
com maior intensidade.
(Obra citada.
Esboço provisório de uma
síntese religiosa.)
C. O que, em última
análise, a possibilidade
de comunicação com os
Espíritos nos assinala?
O fato de nossa
comunicação com os
Espíritos libertos nos
proporciona um
sustentáculo imediato e
nos deixa entrever a
perspectiva de um
desenvolvimento
infinito, que consistirá
num acréscimo da
santidade, numa
interpenetração cada vez
mais íntima dos mundos e
das almas, numa evolução
da energia e da vida na
tríplice concepção da
sabedoria, do amor e da
alegria. Esse processo,
que se realiza de uma
maneira diversa para
cada alma em particular,
é em si mesmo contínuo e
cósmico, porque a vida
que nasce da energia
primitiva diviniza-se
para se converter na
alegria suprema.
(Obra citada.
Esboço provisório de uma
síntese religiosa.)
Texto para leitura
1214. Podemos dividir as
melhores emoções
religiosas em três
variedades, três
correntes que correm
paralelamente e cada
qual surge, em minha
opinião, de alguma fonte
oculta na realidade das
coisas.
1215. Colocarei, em
primeiro lugar, o
sentimento obscuro dos
livres-pensadores,
pertencentes a
diferentes épocas e a
diferentes países e que
designarei, para evitar
qualquer definição
discutível, com o nome
de religião dos antigos
sábios. Sob esta
denominação (ainda que
Lao-Tsé não seja,
talvez, mais do que um
nome) ele nos foi
apresentado num escorço
sumário do grande sábio
e poeta de nossa época;
e as expressões como
religião natural,
panteísmo, platonismo,
misticismo, nada mais
fazem do que exprimir ou
intensificar os diversos
aspectos do conceito
primordial que forma a
base do sentimento em
causa.
1216. É o conceito da
coexistência e da
interpenetração de um
mundo real ou espiritual
e de um mundo material
ou fenomenológico,
crença nascida em muitos
espíritos como
consequência de
experiências ao mesmo
tempo mais decisivas e
mais coerentes de
quantas eles já tivessem
conhecido.
1217. Repito: mais
decisivas porque supõem
o aparecimento e a
atividade de um sentido
que é “o último e mais
amplo” de uma capacidade
que permite abraçar, não
direi a Deus (pois qual
é a faculdade finita que
pode abraçar o
infinito?), mas, ao
menos, alguns indícios
vagos e fragmentários de
um verdadeiro mundo de
vida e amor. E mais
coerente também por uma
razão que, até estes
últimos anos, parecera
um paradoxo. Porque a
colaboração mútua desses
signos e mensagens não
depende somente da sua
própria concordância
fundamental, até um
certo ponto, mas também
da inevitável
divergência além desse
ponto, quando passam do
domínio das coisas
sentidas ao das coisas
imaginadas, da região da
experiência real à da fé
dogmática.
1218. A religião dos
sábios antigos é de uma
antiguidade
desconhecida, o mesmo
acontecendo com as
diferentes religiões
orientais, que nos
tempos históricos
alcançaram seu ápice na
religião de Buda. Para o
budismo, todos os
universos que se
interpenetram formam
outros tantos graus
pelos quais o homem
segue seu caminho
ascendente, até ver-se
livre de toda ilusão e
desaparecer
inefavelmente no todo
impessoal. Mas a
doutrina de Buda perdeu
todo o contato com a
realidade e não se
fundamenta em fatos
observáveis que se
possam reproduzir.
1219. O Cristianismo, a
mais jovem de todas as
grandes religiões,
repousa,
incontestavelmente,
sobre uma base formada
por fatos observados.
Esses fatos, tal como
nos transmitiu a
tradição, tendem
seguramente a provar o
caráter sobre-humano do
fundador do Cristianismo
e seu triunfo sobre a
morte, e ao mesmo tempo
a existência e a
influência de um mundo
espiritual que é a
verdadeira pátria do
homem.
1220. Todos reconhecem
que essas ideias se
encontram na origem da
fé. Mas desde os
primórdios o
Cristianismo foi
elaborado em códigos
morais e rituais
adaptados à civilização
ocidental e creem alguns
que adquiriu, como regra
de vida, o que perdeu
como simplicidade
espiritual.
1221. Do ponto de vista
do sábio antigo, as
profundas igualdades de
todos esses sistemas
religiosos apagam suas
oposições formais. Mas,
advirto, não é da
soldagem desses
sistemas, nem do
amálgama das melhores
partes de cada uma das
sínteses existentes que
nascerá a nova síntese
que prevejo. Nascerá do
próprio renascimento de
nossos conhecimentos. E
nesses conhecimentos
novos cada uma das
grandes formas do
pensamento religioso
encontrará seu
desenvolvimento
indispensável, diria
mesmo quase
predestinado. Desde seus
albores nossa raça
deparou-se com um
caminho proibido; e,
atualmente, as primeiras
lições de sua primeira
infância lhe revelam que
grande parte do que
acreditara
instintivamente tem sua
origem, sua raiz, na
própria realidade.
1222. Resumirei a
conclusão religiosa que
se depreende da
observação e da
experiência, antes que
nossas descobertas
possam ser citadas
diante do tribunal da
ciência, para nele
receber sua definitiva
consagração. Digo
conclusão religiosa
porque suponho que as
observações e as
experiências sobre as
quais me apoio sejam
conhecidas; essas
observações,
experiências e deduções
levaram diversos
pesquisadores, eu entre
eles, a acreditar na
intercomunicação direta
ou telepática, não só
entre os espíritos
encarnados, mas também
entre os espíritos
encarnados de um lado e
os desencarnados de
outro.
1223. Uma semelhante
descoberta abre,
igualmente, as portas à
revelação. Graças à
descoberta e à
revelação, certas
opiniões foram
provisoriamente
formuladas, no que
concerne ao destino das
almas livres dos corpos.
Primeiramente e antes de
tudo, acredito que
estejamos autorizados a
considerar seu estado
como o de uma evolução
infinita na sabedoria e
no amor.
1224. Seus amores
terrestres persistem e,
acima de tudo aqueles
amores superiores que
procuram se manifestar
na adoração e no culto.
Não me parece seja
possível tirar de seu
estado argumentos para
favorecer qualquer das
existentes teologias.
Onde se encontram, as
almas parecem bem menos
resignadas do que nós
mortais acreditamos.
Todavia, das alturas da
posição privilegiada que
ocupam no universo
enxergam o que é bom.
1225. Não quero com isto
dizer que saibam o que
se relaciona ao fim ou a
explicação do mal. Mas
acham que o mal não é
uma coisa tão terrível,
mas que se apodera de
nós e nos escraviza. O
mal não se encontra
encarnado em nenhuma
autoridade poderosa; é,
antes, um estado de
loucura isolada, do qual
os espíritos superiores
tentam livrar as almas
desnaturadas.
1226. Não há
necessidade, para isso,
da purificação pelo
fogo; o autoconhecimento
é o único castigo e a
única recompensa do
homem. Neste mundo, o
amor é, realmente, a
condição da conservação
pessoal; a comunhão com
os santos não é só o
encanto da vida, mas a
segurança da eternidade.
Mas a lei da telepatia
nos mostra que essa
comunhão já se produz,
de tempo em tempo, neste
mundo.
1227. Sempre o amor das
almas responde às nossas
invocações. Sempre o
amor, associado às
nossas lembranças, o
amor que é por si uma
prece, ampara e
reconforta essas almas
libertas no seu caminho
ascendente. Isto nada
tem de assombroso,
porque somos, com
relação a elas, como
companheiros de jornada,
envoltos na bruma; “nem
a morte, nem a vida, nem
a altura, nem a
profundidade, nem
qualquer criatura são
capazes de nos
distanciar do fogo
central do universo, nem
de ocultar, sequer por
um momento, a
inconcebível unidade das
almas.
1228. Qual é o sistema
que nos forneceu uma
confirmação tão profunda
da própria essência da
revelação cristã? Jesus
Cristo gerou “a vida e a
imortalidade”. Por sua
aparição, após a morte
corporal, provou a
imortalidade do
espírito. Por seu
caráter e seus
ensinamentos, provou a
paternidade de Deus.
Tudo o que sua mensagem
continha de dados
demonstráveis estão aqui
demonstrados; todas as
suas promessas de coisas
indemonstráveis estão
aqui renovadas.
1229. Aventurar-me-ei a
uma opinião e a predizer
que, graças aos novos
dados que possuímos,
todos os homens
ponderados acreditarão
antes de um século na
ressurreição de Cristo,
enquanto que sem esses
dados ninguém
acreditaria nela antes
de transcorrido esse
século. As razões que
ditam minha predição são
suficientemente claras.
Nossa convicção sempre
crescente da
continuidade e da
uniformidade da lei
cósmica nos impõe
progressivamente esta
conclusão de que a
singularidade de um
incidente constitui
exatamente sua
inevitável refutação.
1230. Nosso século
científico é penetrado,
cada vez mais, pela
verdade de que as
relações entre o mundo
material e o mundo
espiritual não podem ser
de caráter meramente
moral ou emocional; que
devem ser a expressão de
um grande fato
fundamental do universo
que supõe a ação de leis
tão permanentes, tão
idênticas de uma época a
outra, como nossas leis
conhecidas, no que diz
respeito à energia e ao
movimento. E no que se
refere a esta afirmação
central, a vida da alma
que se manifesta após a
morte corporal é
evidente que poderá cada
vez menos apoiar-se
apenas na tradição e
deve, cada vez mais,
buscar sua confirmação
na experiência e nos
estudos modernos.
1231. Suponhamos, por
exemplo, que
colecionamos algumas
dessas histórias e que
elas não resistiram a
uma análise crítica,
atribuindo-se todos os
fenômenos nelas
relatados a alucinações
ou a erros nas
descrições; podemos
esperar que os homens
ponderados admitam que
esse fenômeno
maravilhoso, que sempre
se reduz a nada quando
submetido à análise num
ambiente inglês moderno,
seja digno de fé, desde
que se afirme que se
produziu num país
oriental, numa época
distante e
supersticiosa? Se os
resultados das
“investigações
psíquicas” tivessem sido
essencialmente
negativos, os dados (não
digo a emoção) do
Cristianismo não teriam
recebido um irreparável
golpe?
1232. De acordo com
minha opinião pessoal,
nossas investigações
deram resultados muito
diferentes, grandemente
positivos. Demonstramos
que entre um grande
número de fatos que se
podem atribuir ao erro,
à mentira, à fraude e à
ilusão, existem
manifestações
indiscutíveis que nos
vêm de além-túmulo. A
afirmação capital do
Cristianismo recebe,
dessa forma, uma
concludente confirmação.
1233. Se nossos próprios
amigos, homens como nós,
podem às vezes vir para
falar-nos de amor e de
esperança, um espírito
mais forte pode-se
servir das leis eternas
com maior intensidade.
Nada nos impede de
reconhecer que, ainda
que sejamos “filhos do
Todo-poderoso”, Cristo
tenha podido
aproximar-se mais que
nós, por um caminho que
não podemos conceber ao
que está infinitamente
distante.
1234. Isto dá ensejo a
uma veneração ainda
maior, por parte do
homem. A afirmação
difusa e imperfeita da
revelação e da
ressurreição está
confirmada, nos nossos
dias, por novas
descobertas e
revelações; pela
descoberta da telepatia,
que nos diz serem
possíveis comunicações
diretas quer entre
espíritos encarnados,
quer entre espíritos
desencarnados; pelas
revelações contidas nas
mensagens que se
originam dos espíritos
desencarnados e que
mostram, de maneira
direta, o que a
filosofia só suspeitou:
a existência de um mundo
espiritual e a
influência que exerce
sobre nós.
1235. Nossos recentes
conhecimentos confirmam,
dessa forma, as antigas
correntes do pensamento,
de um lado corroborando
o relato da aparição de
Cristo após a morte e
nos fazendo ver, de
outro, a possibilidade
de uma encarnação
benfazeja de almas que,
antes de sua encarnação,
eram superiores à do
homem. Isto relativo ao
passado. E, no que diz
respeito ao futuro,
confirmam o conceito
budista de uma infinita
evolução espiritual, à
qual se submete todo o
cosmos.
1236. Ao mesmo tempo,
revestindo-se de um
caráter de realidade
cada vez mais
pronunciado, o fato de
nossa comunicação com os
espíritos libertos nos
proporciona um
sustentáculo imediato e
nos deixa entrever a
perspectiva de um
desenvolvimento
infinito, que consistirá
num acréscimo da
santidade, numa
interpenetração cada vez
mais íntima, dos mundos
e das almas, numa
evolução da energia e da
vida na tríplice
concepção da sabedoria,
do amor e da alegria.
1237. Este processo, que
se realiza de uma
maneira diversa para
cada alma em particular,
é em si mesmo contínuo e
cósmico, porque a vida
que nasce da energia
primitiva diviniza-se
para se converter na
alegria suprema.
Fim