A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 44)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Que significa a
palavra telecinesia e
quem a propôs no meio
científico?
Há fenômenos em que
objetos ponderáveis se
põem em movimento sem
que haja contato físico
dos objetos com o
sensitivo ou com as
demais pessoas presentes
no recinto. Proposta por
Aksakof, telecinesia foi
a palavra aplicável a
esses fenômenos, que se
convencionou chamar
“fenômenos físicos do
Espiritismo”.
(A Personalidade Humana.
Capítulo IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
B. Quem foi Stainton
Moses? |
Stainton Moses foi um
sacerdote que serviu,
como médium, a uma série
de manifestações
mediúnicas relatadas no
livro intitulado
Spirit Teachings, em
que reuniu o que
considerava os
resultados reais de seus
anos de misteriosa
permanência no vestíbulo
de um mundo
desconhecido. Sua vida
foi uma das mais
extraordinárias de sua
época e sua história,
verídica, encontra-se
consignada numa série de
manifestações físicas
que foram anotadas
durante 8 anos, desde
1872, e nas séries de
manifestações
automáticas, escritas ou
faladas, que, iniciando
em 1873, prolongaram-se
durante 10 anos para
cessar somente pouco
antes de sua morte. (Obra
citada. Capítulo IX –
Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
C. Os Espíritos que se
manifestaram por
intermédio de Stainton
Moses podem ser
divididos em três
categorias. Qual é,
dentre elas, a mais
importante?
A mais importante
categoria, segundo
Myers, compunha-se de
pessoas recentemente
falecidas e que, com
frequência, se
manifestavam durante as
sessões, antes que a
notícia de sua morte
chegasse, através de
caminho comum, a uma das
pessoas que participavam
da sessão. Esses
Espíritos proporcionaram
muitas vezes provas de
sua identidade,
mencionando fatos
relacionados à sua vida
terrestre e que, mais
tarde, se verificou
serem exatos.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
Texto para leitura
1077. Analisemos agora a
recordação da vigília
tal como a possuímos no
sonho. É, a princípio,
absolutamente
caprichosa; posso não
lembrar meu nome, mas
recordar perfeitamente a
forma e disposição das
cadeiras da sala de
jantar; ou então, mesmo
recordando-me das
cadeiras, posso
localizá-las em outra
casa que não a minha. É
impossível prever o grau
de confusão que se pode
produzir desse modo.
1078. A conversa dos
sonâmbulos nos
proporciona outra
analogia. Ao falar a um
sonâmbulo, quer se trate
de sonambulismo
espontâneo ou provocado,
não tardamos em
constatar que é difícil
manter com ele uma
palestra contínua sobre
os temas que nos
interessam. E, a seguir,
é incapaz de manter
qualquer conversa
contínua, porque não
demora em cair num
estado no qual torna-se
completamente incapaz de
expressar-se. Quando
fala, só o faz sobre os
temas que o atraem;
segue o curso de suas
próprias ideias,
interrompido ao invés de
influenciado pelo que
dizemos. Existe entre os
dois estados, o de
vigília e o de sono, uma
diferença inamovível.
1079. Temos, dessa
forma, três gêneros de
analogias que nos
permitem traçar os
limites de nossas
antecipações. Da
analogia existente entre
as possessões e as
personalidades
secundárias, podemos
concluir que o espírito
que possui não deve ser
capaz de sugerir ao
cérebro do sujeito
ideias e palavras de um
gênero que não lhe seja
familiar. Da analogia
entre a obsessão e o
sonho podemos concluir
que a memória do
espírito que possui pode
estar submetida a
omissões e a confusões
estranhas. Da analogia,
finalmente, entre a
obsessão e o
sonambulismo, resulta
que o colóquio entre o
observador humano e o
espírito possuidor não é
nem completo nem livre,
senão atrapalhado pela
diferença existente
entre os estados de um e
de outro e sintetizado
pela dificuldade de
manter um prolongado
contato psíquico.
1080. As observações
anteriores, assim
espero, prepararão o
leitor para considerar
os problemas
concernentes à possessão
com a mesma amplitude de
espírito que
necessitaria o estudo
dos demais problemas
abordados nesta obra.
Mostrei, com efeito, que
este novo problema pode
ser considerado como uma
consequência, um efeito
natural do antigo.
Mostrei, nos movimentos
e expressões do
organismo obsidiado,
manifestações motoras
automáticas levadas ao
extremo, e na invasão do
espírito obsedante a
vitória total da invasão
telepática, e desde o
início preveni contra
determinadas confusões
que no passado afastaram
os homens do estudo
sério das mensagens
recebidas por esta via.
1081. Antes de nos
aprofundarmos mais,
chamamos a atenção sobre
outro aspecto da
obsessão, que diz
respeito a um grupo de
fenômenos que de
maneiras diversas deram
origem a uma confusão e
atrasaram nosso estudo,
mas que, examinados no
devido lugar e
devidamente entendidos,
parecem formar um
elemento imprescindível
de qualquer teoria que
tenha por fim descobrir
a influência exercida
pelos fatores invisíveis
sobre o mundo que
conhecemos.
1082. Considerei, até
aqui, as influências
telepáticas e
supranormais só sob o
ponto de vista
psicológico, como se o
campo de ação
supranormal estivesse
situado no mundo
metaetéreo. Mas, apesar
da profunda verdade
desse ponto de vista,
não representa toda a
verdade “para os seres
como nós e num mundo
como este”. Para nós
todo fato psicológico
tem seu lado físico, e
os acontecimentos
metaetéreos, para que
nos sejam perceptíveis,
devem, de uma forma ou
de outra, afetar o mundo
e a matéria.
1083. Nos automatismos
sensoriais e motores,
vemos efeitos que
começam a manifestar-se
de um modo supranormal e
que chegam ao mundo da
matéria. Em primeiro
lugar, na vida comum,
nossos espíritos (uma
vez que se admita sua
existência) afetam
nossos corpos e nos
proporcionam o exemplo
permanente do espírito
que age sobre a matéria.
1084. Logo, quando um
homem recebe uma
influência telepática
que tem sua origem em
outro espírito encarnado
e que determina a visão
de espectros, podemos
supor que o cérebro
deste homem foi afetado
pelo seu próprio
espírito, mais do que
pelo espírito do seu
amigo distante.
1085. Mas nem sempre
ocorre, inclusive nos
casos de automatismo
sensorial, que o
espírito do sujeito seja
um mero executor das
sugestões que procedem
de um espírito distante;
e nos automatismos
motores que terminam na
possessão existem
indícios cuja natureza
faz reconhecer que a
influência do espírito
do agente é telérgica
mais do que telepática e
que certos espíritos
exteriores são
suscetíveis de influir
sobre o cérebro e o
organismo humano, isto
é, de produzir
movimentos da matéria,
inclusive quando se
trata de matéria
organizada e de
movimentos moleculares.
1086. Uma vez comprovado
este fato, que nem
sempre foi captado pelos
homens dedicados a
estabelecer uma
diferença fundamental
entre a influência
espiritual que afeta
nossos espíritos e a que
afeta o mundo material,
nos vemos impelidos a
perguntar se a matéria
inorgânica revela, tanto
como a matéria orgânica,
a ação, a influência de
espíritos exteriores. A
resposta parece, à
primeira vista,
negativa.
1087. Suponhamos que um
espírito desencarnado,
na posse temporal de um
organismo vivo,
provoque, de seu lado,
manifestações motrizes
automáticas. Podemos
dizer, a priori, onde
irão se deter os
movimentos automáticos
do organismo, da mesma
forma que podemos prever
os limites de seus
movimentos voluntários?
O espírito exterior não
poderia fazer com que o
organismo manifestasse
mais potência motriz do
que a que pode arrancar
de si um homem acordado?
Não nos surpreenderia
ver que os movimentos
demonstrassem uma
exagerada concentração
durante o êxtase e ver o
dinamômetro apertado com
mais força pelo espírito
que agia através do
homem, mais do que pelo
espírito deste último?
Podemos imaginar outro
meio que permita ao
espírito que me possui
empregar minha força
vital de maneira mais
hábil do que eu posso
fazer?
1088. Não sei como minha
vontade põe em movimento
meu braço; mas sei, por
experiência, que minha
vontade põe em movimento
somente meu braço e os
objetos que posso tocar,
todos os objetos
realmente em contato com
o “esqueleto
protoplasmático” que
representa a vida de meu
organismo. Todavia
posso, às vezes,
provocar movimentos nos
objetos com os quais não
estou em contato real,
como ao fundi-los por
meio do calor, ou
aquecê-los (no ar seco
de Colorado) com auxílio
da eletricidade que meus
dedos desprendem.
Desconheço todas as
formas de energia que
meus dedos são
suscetíveis de
desprender, através de
um exercício apropriado.
1089. Suponhamos que o
espírito possuidor
sirva-se de meu
organismo mais
habilmente do que eu o
possa fazer. Não poderia
fazer com que meu
organismo irradiasse uma
energia capaz de pôr em
movimento objetos
ponderáveis que não
estão em contato real
com minha carne? Este
seria um fenômeno de
possessão não muito
diferenciado dos demais:
seria telecinesia.
Mediante esta palavra
(proposta por Aksakof)
se designam e descrevem
o que se convencionou
chamar “fenômenos
físicos do Espiritismo”
e cuja existência, como
realidade e não como um
sistema de aparências
mentirosas, deu lugar,
durante meio século, às
controvérsias ardentes
que ainda persistem.
1090. A simulação
persistente da
telecinesia inspirou,
naturalmente, dúvidas
sobre a realidade do
fenômeno e isto,
inclusive, nos casos em
que foram tomadas todas
as precauções contra a
simulação e nas quais o
caráter dos sujeitos
tornava improvável
qualquer suspeita de
simulação. Apesar de
toda a sua importância,
este tema não está
intimamente relacionado
ao tema principal desta
obra, para que acredite
estar obrigado a fazer
do mesmo um detalhado
exame histórico.
Ocupar-me-ei dele só na
medida em que surja como
um dos elementos da
possessão espiritual, no
caso de Stainton Moses,
por exemplo.
1091. As analogias que
podemos estabelecer
entre os fenômenos da
possessão e os descritos
nos capítulos anteriores
vão nos facilitar o
entendimento dos
primeiros e, sem que nos
detenhamos nos casos de
importância secundária,
vamos expor os que
concernem a Stainton
Moses e à senhora Piper,
que pudemos observar
pessoalmente e nos quais
os fenômenos de
possessão revestem a
forma mais
característica.
1092. Stainton Moses era
um sacerdote dogmático,
cônscio, trabalhador,
impregnado do desejo de
fazer o bem e de pregar
aos demais os melhores
meios de alcançar esse
fim. Ele próprio
enxergava o elemento
essencial daquilo que
chamava suas
“mensagens”, nas
palavras automaticamente
pronunciadas ou
escritas, não nos
fenômenos que as
acompanhavam e que por
si sós davam a esses
processos automáticos
sua importância e seu
único interesse, por
assim dizer.
1093. Num livro
intitulado Spirit
Teachings, reuniu o que
considerava como os
resultados reais de seus
anos de misteriosa
permanência no vestíbulo
de um mundo
desconhecido. Sua vida
foi uma das mais
extraordinárias de nosso
século e sua história,
verídica, encontra-se
consignada nesta série
de manifestações físicas
que foram anotadas
durante 8 anos, desde
1872, e nas séries de
manifestações
automáticas, escritas ou
faladas, que, iniciando
em 1873, prolongaram-se
durante 10 anos para
cessar somente pouco
antes de sua morte.
1094. Os espíritos que
Moses acreditava o
possuíssem podem ser
divididos em três
categorias:
a) A primeira e mais
importante categoria
compunha-se de pessoas
recentemente falecidas e
que, com frequência, se
manifestavam durante as
sessões, antes que a
notícia de sua morte
chegasse, através de
caminho comum, a uma das
pessoas que participavam
da sessão. Esses
espíritos proporcionaram
muitas vezes provas de
sua identidade,
mencionando fatos
relacionados à sua vida
terrestre e que, mais
tarde, se verificou
serem exatos.
b) A seguir, um grupo de
pessoas pertencentes a
gerações mais antigas e
que durante sua vida
foram razoavelmente
célebres. Grocyn, amigo
de Erasmo de Roterdã,
pode ser considerado
como o típico
representante deste
grupo. Muitos deles
proporcionaram,
igualmente, como provas
de sua identidade, fatos
que eram mais exatos do
que a ideia ou o
conhecimento consciente
que podiam ter dos
mesmos as pessoas
presentes na sessão.
Todavia, nestes casos, a
dificuldade de provar a
identidade aumentava
sensivelmente, pelo fato
de que a maioria dos
dados exatos se
encontravam anotados em
volumes que Moses
poderia ter lido,
esquecendo em seguida,
ou talvez tomasse
conhecimento de seu
conteúdo através da
clarividência.
c) O terceiro grupo
compõe-se de espíritos
que trazem nomes
semelhantes a Rector,
Doctor, Teófilo e, o
mais importante,
Imperator. De vez em
quando revelam os nomes
que pretendem ter tido
durante sua vida
terrestre. Esses nomes
ocultos são
frequentemente mais
antigos e ilustres do
que os do grupo “b”.
1095. No que diz
respeito às relações
entre os espíritos e os
fenômenos telecinésicos,
não se pode esquecer que
esses fenômenos, por
estranhos e grotescos
que possam parecer, às
vezes, não podem ser
considerados como
absurdos e inúteis. Os
presumíveis operadores
se esforçam por
descrever o que
consideram como um fim e
o que consideram como um
meio tendo em vista
aquele fim. Seu objetivo
constante, confesso, é
relatar, através de
Moses, certas opiniões
religiosas e
filosóficas; e as
manifestações físicas
são descritas como se
fossem somente uma prova
de potência e uma base
para a autoridade
invocada a favor de
ensinamentos sérios.
1096. Considerações de
ordem moral e o fato de
que os fenômenos físicos
se reproduziam sempre,
quando Moses estava só,
impedem-nos de os
considerar como manobras
fraudulentas produzidas
por alguma pessoa
presente à sessão. E,
por outro lado,
parece-me moral e
fisicamente impossível
considerá-los como
fraudes do próprio Moses.
E é fisicamente
impossível e
incompatível com seus
próprios relatos e com
os de seus amigos que
tenham podido
prepará-los e
reproduzi-los durante o
êxtase. Deve-se, pois,
considerá-los como se
tivessem ocorrido de uma
forma realmente
supranormal.
(Continua no próximo
número.)