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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 313 - 26 de Maio de 2013

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP (Brasil)

 
 


Saudade do futuro


O futuro de um destino comum luminoso, e portanto fundado no bem e no belo (consequentemente adequado à Regeneração), depende tanto de iniciativas coletivas como do reconhecimento dos pais como “agentes” da sociedade durante os primeiros anos de vida da criança (de um Espírito que retorna à experiência corpórea).

Explico melhor à medida que me valho de um trecho de uma carta de um paciente que procura descrever o peso do passado para clarificar o (seu) presente e, quiçá, transformar de maneira harmoniosa o seu futuro:

Se eu tivesse de extrair de todas situações dolorosas uma coisa única e ainda dar-lhe um nome só poderia eleger medo. Era medo, medo e vergonha, o que eu sentia em todas as situações de minha infância detestável: medo da punição e medo do que fervilhava dentro de mim e que eu sempre entendia como proibido. Pois, conforme me diziam meus pais, eu era um menino feio, mau e desatento; não sabia fazer nada certo”.

Aqui, e com parcimônia, este paciente descreve os sentimentos de uma criança de sete anos oprimida pelo medo e pela culpa. E culpa que carrega desde a infância, e que revela quão intensamente a crueldade e o descrédito dos pais aplicados a ele ameaçaram (e ameaçam) a busca deste indivíduo por sua verdadeira identidade (ou por seu verdadeiro Self), porquanto sua riqueza interior foi deformada no prelúdio da sua existência e por aqueles que tinham a tarefa de zelar por ela...

Antes de qualquer coisa, até porque sei que estamos filha (ou filho) de pessoas imperfeitas e igualmente estamos imperfeitos, o que procuro aqui é sensibilizar o leitor para o sofrimento da infância (primeiro setênio, sobretudo) e, ao mesmo tempo, frisar a importância da mãe e do pai* para a saúde biopsicossocial do adulto de amanhã...

O mundo mudou?

Sim, sociedades desenvolvidas não admitem mais os recursos da “pedagogia negra” como método de educação com os quais nossos pais e avós cresceram. E muitos de nós (geração x, geração y e geração z) também fomos/somos “adestrados” pelos padrões dessa pedagogia e seguidos de perto por uma pessoa (mãe e/ou pai) dominadora.

Felizmente, já há alguns anos tem-se atestado que as consequências devastadoras da traumatização da infância fatalmente voltam para a sociedade, porque os sentimentos de raiva, impotência, medo e dor, reprimidos pela criança, mais tarde podem ser expressos por meio de atos destrutivos contra outras pessoas (uso de violência/criminalidade, atos terroristas etc.) ou contra si próprio (dependência de drogas, alcoolismo, doenças psíquicas leves ou graves, suicídio etc.).

Embora muitos ainda não se sensibilizem com a crueldade sofrida na infância e que ficará armazenada desde o prelúdio da vida como um conhecimento deformado, mas que será consciente ou inconscientemente retransmitido (para a próxima geração), testes eletrônicos efetuados em mulheres grávidas revelaram que a criança sente e aprende desde o início da vida intrauterina tanto o afeto quanto a crueldade.

Assim, ao contrário da família patriarcal, fundada nos princípios do temor e da obediência, estamos agora numa fase de experimentação da família que procura se conduzir por uma democracia emocional, logo exigente da ideia de que toda criança necessita do acompanhamento de uma pessoa empática e não... dominadora!

E isso, de outro aspecto, reivindica o reconhecimento (diário) de que toda criança vem ao mundo para crescer, desenvolver-se, amar e expressar suas necessidades e seus sentimentos para sua proteção. Nunca para sofrer abuso, ser manipulada, explorada ou oprimida para satisfazer as necessidades dos adultos. Nunca para ter sua vivacidade perseguida ou ameaçada.

E como a tolerância da criança para com os pais não conhece fronteira, para protegê-la e garantir a ela o direito a se desenvolver, brincar, participar e crescer, precisamos assumir: nem todo ser humano está apto ao exercício da maternidade/paternidade... Até porque “estar mãe” (“estar pai”) não é algo “natural”, mas algo aprendido, exercido no cotidiano, no espaço da vida privada e pública.

Além disso, amor, generosidade, respeito pela criança e tolerância, infelizmente, não são virtudes alcançadas através do mero conhecimento intelectual sobre um Estatuto que protege os direitos da infância (ECA).

Em razão do bem-estar da criança, e para o equilíbrio socioemocional do (futuro) cidadão, defendo uma postura contra a qual muitos se insurgem: há pessoas que não poderiam ser pais (não nesta existência!).

Por razões diversas – econômicas, ideológicas, sociais etc. – conheço casais que se negam a ter filhos. Por egoísmo? Sim, mas assumido. Não é mais honesto? Não é mais sincero do que o egoísmo dissimulado, típico de um casal que tem filhos, mas delega ou terceiriza o cuidado e o afeto? Ou que dá ao filho um “amor equivocado”, sujeitando a criança a várias formas de negligência?

Sejamos autênticos...

Ter uma filha (ou um filho/filhos) é, além de amar, assumir como pode ser difícil aceitar o fato de que a criança não (re)nasce para corresponder a nossas expectativas.

Ao reverso... Quando estamos “pais” nos cabe a tarefa temporária, mas essencial, de cuidar para que o talento no indivíduo depositado pela Providência possa um dia florescer... Somos também (co)responsáveis pelo êxito do programa reencarnatório de nossos filhos. Não somos?

Falamos nos meios religiosos, especialmente, sobre a piedade filial, sobre a importância de honrar pai e mãe (mandamento), mas esquecemos de que enquanto não trabalharmos de forma consciente o desprezo sofrido em nossa própria infância vamos continuar a transmiti-lo e um futuro comum luminoso continuará em risco.

Infelizmente, e de forma muito constante ainda, para muitos a pergunta sobre a própria infância pode revelar traumas e fracassos e se a “pergunta não for um floreado retórico e se aquele que a formula tiver paciência para ouvir com atenção, ele necessariamente tomará conhecimento de que amamos com horror e sentimos ódio junto com um amor inexplicável. Isso nos reserva as maiores dores e dificuldades”. (Erika Burkart)

Mas, àqueles que cativam a tarefa de cuidar de uma criança, que sejam eles fomentadores do amor à vida e cientes de que o afeto transferido aos inocentes pode colaborar com a construção de um mundo solidário e pacífico para as próximas gerações...

Saudade do futuro!


Nota
:

Quando digo “mãe e pai” me ocupo da pessoa de referência mais importante para a criança em seus primeiros anos de vida; não precisa ser, portanto, a mãe biológica, tampouco ser mulher.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita