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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 308 - 21 de Abril de 2013

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 

O silêncio do meu avô... 

(Ao saudoso avô Wanderley.)


Tenho dito àqueles com quem privo em maior intimidade que este meu avô personificou, enquanto estava entre nós, um exemplo digno de vida. Alguns talvez possam alegar a velha parcialidade de opiniões, se bem fosse ele benquisto por todos, sempre generoso. Não me sinto pouco à vontade para admitir que, em parte, talvez isto seja um fato, apesar de que o bom senso ateste que o relato a seguir bem justifica esta percepção.

Afinal, o momento mais crítico pelo qual passei até hoje foi o primeiro a comprovar que fora, ele, o homem cuja lição do emprego sábio do verbo foi bem aprendida. Sim, talvez com o passar dos anos, mas o que isto importa? O tempo nos oferece a todos possibilidades de melhoria, de reformulação. E este meu avô, particularmente, possuiu um histórico de vida digno de novela das seis! Fora filho de "coronel" pernambucano, muitas décadas atrás, de um homem de posses, bem-posto para as referências de época. E assim cresceu meu avô rodeado das energias altivas de um patriarcado aliado a um matriarcado bem estabelecido, com muitas irmãs e uma mãe também de perfil enérgico. Tudo, com efeito, ao seu redor, respirava a aura do autoritarismo, o que talvez tenha justificado o caráter férreo de que deu mostras no decorrer de sua vida, nos episódios de criação das três filhas após o seu casamento também novelesco com minha avó, hoje contando cem anos!

Esta aura de autoritarismo provavelmente fora a responsável para que meu avô se especializasse no uso do verbo, sempre com energia. E não apenas oralmente! Especializara-se no uso da língua portuguesa escrita. Redigia como ninguém, e corrigia as cartas e livros que lia incessantemente, a partir de certa altura de sua vida, sendo a maior parte de temas espíritas e coligados. Enfatizo aqui, amigo leitor, para não me estender demais em digressões, que este homem tão habituado a se expressar com firmeza inflexível noutras épocas, com a passagem dos anos, e até que alcançasse a senectude, surpreendentemente terminou os seus dias quase em silêncio! E exemplificou uma lição ao me dirigir, único dentre todos os que me rodeavam, a frase milagrosa de reconforto d’alma que jamais esperaria vindo de alguém com o seu repertório de vida!

Em visita à nossa casa, andando devagar e em silêncio pelos cômodos à espera do almoço, talvez tivesse ouvido, mais com a alma e os sussurros internos da longa vida rica em experiências e em aprendizado insondável, o meu choro e as minhas lamúrias enquanto conversava com minha mãe na cozinha. E veio de mansinho, quase sem ser percebido, entrando em silêncio. Parou e olhou-me. Eu estava agora sentada e me detive a olhar para ele também, incerta. Ele tocou-me de leve o rosto, carinhoso, dizendo as poucas palavras compassivas e verdadeiras: "Você ainda vai ser feliz!"...

E sorria de leve. A sua fisionomia patenteava naquele instante que para ele aquilo era fato puro e simples!

Quantas tempestades meu avô atravessara? Quantas dificuldades ríspidas do chefe de família engajado em assegurar a continuidade do conforto para a esposa e as duas filhas pequenas, nos dias em que se decidira pela mudança radical de estado, alijando toda a família dos extremos de conforto usufruído até então em Pernambuco, onde fora prefeito de uma de suas cidades, para se aventurar a uma nova vida promissora no Rio de Janeiro? O que não terá suportado na luta contra as privações de ordem material as mais comezinhas naqueles primeiros anos, porque desafortunadamente escolhera a época menos indicada para a empreitada, um período de guerra, no qual o país sofria as sequelas econômicas de ordem mundial, com todos os outros?

Meu avô, de fato, deve ter considerado as minhas lágrimas de momento de cima da vitória conquistada sobre tempestades muito maiores! Seu olhar, talvez, denunciasse a compaixão pela menina jovem, ainda inexperiente demais para se posicionar com segurança na certeza de que tudo nesta vida passa, deixando por detrás de si apenas lembranças e ensinamentos. Vivências boas quanto ruins, não importa. Então, deixando o seu silêncio rico em vozes das luzes interiores, e talvez tocado pelas lágrimas da neta perdida em desânimo e desesperança, pronunciou aquelas poucas palavras. Tão verborrágico outrora! Tão enérgico e autoritário sempre, durante as décadas de convivência com a própria família, esposa e filhas, agiu assim, naqueles dias em que, perto dos oitenta anos, já se encaminhava, sem suspeitar, para a sua passagem. Sabia, pois, falar e calar com comedimento, com oportunidade!

A vida o dotara desta capacidade adquirida somente após muita dor, alegrias e sofrimentos passíveis de ensinar que nem toda palavra é necessária. E, em dependendo da ocasião, desnecessária! Provavelmente, meu avô viu e viveu o suficiente para se convencer de que tanto os que falam muito, e aparentemente sem senso, podem surpreender num instante de coração, de manifestação valiosa dos valores do espírito, quanto os silenciosos demais eventualmente se revelam oportunos ou inoportunos, conforme o caso. Silêncio, portanto, de si, não é exemplo simplório de virtude, e nem da ausência dela, assim como verborragia vibrante também não! Porque a intenção, no final das contas, é o que valida e fundamenta tudo!

A intenção reside naquela área do insondável humano, do silêncio primordial, onde ninguém ou muito poucos acessam com facilidade nesta esfera de vida dominada pelas artimanhas das aparências. A intenção, móbil genuíno de todo pensamento e atitude, habita ali, nesta zona de silêncio. E meu avô, àquela altura de sua vida, próxima à despedida, deixou-nos a lição bem aprendida de que é desta dimensão que afloram as maiores manifestações de autenticidade da existência! Dali, os nossos mentores, guias e auxiliares da dita invisibilidade, com sua visão de cima, nos assopram ideias e esclarecimentos oportunos. Ali habita o amor palpitante nos corações coligados entre si por afeição, mas também o ódio por vezes não manifesto, disfarçado pela perfídia das máscaras sociais! Eis, portanto, a origem insuspeitada de toda manifestação externa. E quem, afinal, se transporta em consciência para esta área e percebe-lhe a existência palpável, comandando-lhe o destino, aprende a viver somente segundo o que é essencial. E que, para todas as situações, a resposta mais verdadeira brotará sempre das fontes límpidas do silêncio!



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita